segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

"a wii é uma seca!"




dias antes:
"mori, para o ano, quando já estivermos a viver juntos quero comprar uma wii para nós!"

                                                              ***

"que seca, roupa!" respondeu-nos o puto que não tem mais de seis anos.
quando eu era criança fascinava-me com qualquer brinquedo - próprio da idade ou falta do que brincar. certo era que, como qualquer criança, lá ia pedinchando aos meus pais um peluche aqui, uma boneca ali. nada. era muito raro haver brinquedos nas minhas mãos. os tempos não eram fáceis, nunca soube o que era passar fome nem tão pouco mais ou menos mas também nunca foram tempos de fartura. a casa do meu pai era a casa de um homem de trabalho. e então as minhas brincadeiras passavam desde objectos ao acaso, perdidos no chão passando pelas caniças e até chegar a alguns bonecos. tive alguns claro, não pensem que passei a infância sem brinquedos! os meus pais falam que me deram cinco nenucos. e eu até me lembro deles. lembro-me, principalmente, de os despir: primeiro as peúgas, depois o bibe até ficarem sem mais nada senão o corpo de esponjas e o resto do corpo de borracha destapado. também tive uma barbie ou duas, uma nancy e outros bonecos de pelúcia. quanto aos caniços serviam de burritos entre as pernas desenhando no chão curvas da rama levesinha. e sempre me contentei com pouca coisa. brincava com qualquer coisa. qualquer coisa servia para me distrair.
talvez, por que somos resultado de meio e genes, também não sou da opinião como o meu pai ainda hoje não é ofercer bonecos e brinquedos. roupa sim! livros também! brinquedos até certa idade - dois, três, quatro anos. mais do que isso necessitam de algo que os instrua, que os eduque.
o meu namorado tem um afilhado que, por sua vez, tem um irmão. estes fazem anos em datas próximas e por conseguinte as prendas de aniversário e do natal são a pares e iguais para evitar disputas e ciúmes. se for algum tipo de jogo é meias para os dois. neste caso, em particular, eu e brinquedos somos incompatíveis. os miúdos têm por sua conta um quarto inteirinho cheio de prateleiras preenchidíssimas de bonecos, brinquedos, jogos e sei lá mais o quê! "que seca, roupa! eu queria brinquedos!!" eu até entendo o miúdo; é natal e querem-se coisas que nos encham o olho e alma e a voz para dizer aos amigos eu recebi este e aquele brinquedo mas quando se tem tudo não vale a pena dar mais nada... deram aos miúdos, este natal, uma wii. e ainda não tinha feito vinte e quatro horas já os irmãos andavam às turras por causa... dos jogos no computador. a discussão típica terminou com o mais novo a responder à mãe: "eu quero jogar no computador do mano! (...) a wii é uma seca!!" o que é que me dizia o meu namorado com trinta e cinco anos de vida que teve um computador aos dezoito com o primeiro salário dele?... ah! era mais ou menos isto: "mori, para o ano, quando já estivermos a viver juntos quero comprar uma wii para nós!" mas o puto diz que a wii é uma seca...

virgem

a lua está cheia,
cheia a virgem que dorme no manto escuro da noite.
há-de dar à luz esta noite.
há-de iluminar os céus de inverno.
há-de trazer paz ao mundo.

a lua está cheia, grande, iluminada.
a virgem dorme sossegada no silêncio da noite.
o mundo gira calmo.

e nas voltas que o mundo dá
o mundo inteiro espera a chegada da virgem ao estábulo
o beijo abençoado da estrela
as oferendas ao menino
e as boas-novas cantadas nas janeiras.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

x'mas time

o natal é aquela época do ano que eu dava tudo para nunca a perder ou não, nem sei muito bem. mas é a minha preferida. no natal ando mais calma, mais animada, mais soft, digamos. gosto das ruas iluminadas com os motivos próprios da quadra, da música que se ouve aqui e ali nas ruas de calçada aqui da vila, o cheiro que há no ar por esta altura que se mistura com a chuva nos bocadinhos que vou á rua espreitar o tempo. por estes dias tenho acessos de consciência e preciso deles - torna-me uma pessoa melhor, mais madura ou o que se espera de uma mulher de vinte e três anos; tenho uma melancolia própria da altura pelos entes queridos, pelos sonhos perdidos, pelos projectos esquecidos. não sou nem mais nem menos solidária que o resto do ano todo mas sinto-me de uma forma muito particular que não me sinto, por exemplo, no meu aniversário. quando o reveillon se apoxima o espírito é outro mas isso conto da próxima. aqui descobri o melhor postal de natal de sempre. divertiu-me imenso a idéia e é este que desejo a todos os que me seguem, conhecendo-me ou não, que opinam a minha escrita, que me dão idéias, sugestões  e estão sempre ligados de alguma forma. o blogue foi das melhores coisas a que aderi, a minha poesia sofreu um bocadinho com o impacto desta novidade, já há meses que não ponho a vista em cima, aquela sebenta de capa negra, linhas azuis. tenho já uns seis ou sete, salvo erro cadernitos desses que me acompanham desde os meus dez anos, é estranho esta pausa agora. mas eu sou como os poetas das cantigas do século XIV - preciso do sofrimento daquela amor fatal ou daquela tesão nos amantes para escrever desmesuradamente. mas eu estou bem - já sou uma mulherzinha - desvio os meus insntintos mais primários para outras vias que não a escrita. e então aqui deixo um beijo e muitas felicitações:
M: que me semeou uma vontade irresístivel de ter um blogue meu também, que me faz rir, que está sempre aqui para mim. feliz natal primo!
Mário Rodrigues: o que eu gosto dos teus textos! a forma como escreves, e dos teus comentários mais inesperados aos meus! um natal cheio de coisas boas!
Márcio: amigo que encontrei por estas bandas, que nos falamos sempre que possível, obrigada por tudo. desejo-te um 2011 cheio de aventuras na blogosfera. espero um dia conhecer a Mia. sê fiel a ti mesmo.

a todos os outros que me incutem a escrever, bloguistas ou não um bem-haja a todos. feliz natal 2010

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

oix/sms/msg/tlm/td/ok...

eu sou do tempo que ainda não havia telemóveis. quando precisava de telefonar aos meus pais ia até ao café mais próximo e pedia com gentileza e educação ao senhor se me cedia o telefone para ligar lá para casa. se tivesse algumas moedas comigo pagava senão pedia se não me deixava telefonar na mesma que no dia seguinte passaria a telefonar. era assim que funcionava. esta malta mais nova não sabe o que isso é. aos catorze anos tive o meu primeiro telemóvel, um nokia3310, a custo de muito trabalho, muito trabalho mesmo, e muito "oh pai... vá lá..."; "oh pai... vais ver que te vai dar jeito ainda..."; "oh pai..." e  blá, blá, blá... quando o tive, a vinte e quatro de dezembro de 1999, foi uma felicidade imensa havia tariférios imensos, um dos melhores na altura era a vitamina P da vodafone com mensagens para a 91 a 0.04€ cada. isso pedia, mesmo assim, recorrer a abreviaturas, simbolos e invenções. a maior parte do que já há actualmente é fruto de muita imaginação. e palavras como tudo = td; como = cm; também = tb; sempre = smp; vez = x ... é um leque de opções à escolha. se calhar foi por isso que se inventou o novo acrodo ortográfico - para que toda a gente aprenda a escrever e a falar correctamente. enfim! quando surgiram as primeiras imagens ainda muito primárias e depois as de cor lembro-me de pensar, no meio do barulho da camioneta velha com a gritaria dos putos nos bancos lá detrás, que não tarda nada iria haver fotos e imagens reais. e assim aconteceu.
no meu último post tive um comentário de um anónimo. e deve ser alguém novo, que ainda escreve muitas mensagens = sms/msg; percebe-se pelas abreviaturas em texto fora do ecrã do telemóvel. estou curiosa de saber quem é. quem és tu? é que eu sou muito curiosa e gosto muito de comentários e daqueles assinados também. vá revela-te lá!

leprechauns

falava eu com a são sobre coisas banais como os tesouros escondidos atrás de um arco-íris quando a minha memória foi invadida por uma recordação, já esquecida à muito, pensava eu! o arco-íris e seus tesouros recordaram-me , imaginem, uns maravilhosos cereais que comia deliciada em garota não tinha mais que seis ou sete anos. eram uns cereais de aveia e marshmallows, doces, muito doces, de várias cores e formas com sabores diversos e respectivos. lembro-me que na capa de  cartão havia um homenzinho vestido de verde, de chapéu alto e da mesma cor que o fato, um cinto grande e preto, sapatos pretos com fivelas, era ruivo acho eu. havia um pote de ouro algures também e muitos cereais por trás dele sob um arco-íris de cores lindas e suaves. havia formas como corações, estrelas, e outros formas que nunca distingui.
invadi o google. fiz uma pesquisa intensa e até liguei à minha mãe, ela recorda-se de qualquer coisa mas não sabe o nome, só que começava por ch, fora isso nada feito. teimosa como não sou, não desisti. cliquei nessa imagem primeira que me enredou por outras vias que não as esperadas: caminhos curiosos, curiosa como sou, até resultou muito bem. apresento-vos o leprechaun e trata-se de um tipo de gnomo ou duende de nacionalidade e foclore irlandeses, de profissão sapateiro, tinha na mão ora um martelo para concertar os sapatinhos das fadas, a bengala e/ou um cachimbo de ervas - deve dar jeito para ver sempre tudo tão colorido. ah! são os tais guardiões de tesouros escondidos atrás do arco-íris. há uns que têm uma aparência mais simpática - que é como eu me lembro dele, talvez por causa das crianças - mas a maioria tem um ar assutador pois não gostam de humanos, têm personalidades fortes.
entretanto pelo que li fiz a ligação entre os leprechauns e os potes de ouro e, a meu ver, são o trevo de quatro de folhas, o amuleto da sorte, pois são eles que nos levam aos potes de ouro ou a um da meia dúzia que têm e vai daí encontrei a caixa mais verosímil com a imagem que a minha mente gravou:
claro... está um pouco diferente das características que vos falei acima mas em miudos tudo nos parece ser de uma maneira muito peculiar que o acumular dos  anos vai enevoando. não sei se chegaram a provar mas era muito bons e depois havia uns que eram mais doces que outros e outros mais giros e passava aquela hora do pequeno-almoço a escolher os melhores e na hora do lanche a assaltar a embalagem para comer aqueles de que mais gostava!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

moedas dos escudos

"não tens luvas? já viste como as tens as tuas mãos?! tão geladas?" ... em segundos antes de a responder a minha memória viajou no tempo. via-me no caminho para a escola, encasacada, cheia de camisolas, de mochila às costas até à paragem do autocarro. um caminho sem casas entre as duas localidades onde o mais que se via era a vegetação tapada com um manto de geada que a noite cobriu. o frio às sete horas matinais é de cortar, o calor da respiração não aquece o ar e a ponta do nariz é escarlate, a voz falha. as mãos geladas como o gelo quebradiço da arca frigorífica lá de casa tinham um tom arroxeado. numa das mãos levava uma moeda de cinquenta escudos ou de vinte; era a maior que tinha no bolso. quanto maior fosse mais aquecia embora houvesse dias em que aquecia a moeda e mão continuava geladíssima. agarrava-a com muito cuidado para não perdê-la e durante minutos que chegasse até a mão alternar a cor da pele e de roxo passar a vermelho até simplesmente ficar rosácea como as rosas do jardim da minha mãe. quando chegava à paragem já as mãos não estavam tão frias, era sempre a primeira a marcar presença, e só mesmo a ponta do nariz não resisita a tanto frio invernoso.
"não gosto de luvas. as fibras causam-me arrepios esquisitos! hei-de experimentar aquelas de pêlos fofinhos por dentro como as da serra da estrela."

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

paixões por playboys

há quem afirme por aí que as coincidências não existem. eu acredito que as coisas acontecem quando têm que acontecer e têm um porquê mas dou na mesma uma abébia  por que há sempre alguma coisa inexplicável. no outro dia falava-se de escolhas de  vida e de ideais. o assunto girava em torno da história de uma amiga cuja paixão da sua vida não passa de um playboy  que já deu frutos, um lindo menino de vinte e três meses. nunca gostei dele, nunca fui à pala com ele, aliás, antes de o conhecer já não simpatizava nada com a criatura pois todos os dias a minha amiga vinha junto de mim chorosa contar uma nova partida. e aquilo tudo foi-se acumulando. na noite em que me foi apresentado por ela gostei ainda menos, sexto sentido, sei lá. soube, aí à dias, a razão de um part-time, quando ela tem estabelecimento por conta própria e soube ainda que, mais não foi, uma chapada na cara já levou. e eu fiquei de queixo caído, a enrubescer de raiva e incredibilidade do que acabara de saber. à muito tempo que deixei de estar presente a cem por cento na vida dela. ela fez as escolhas dela e embora nos falemos muito bem afastámo-nos um bocado por causa disso. nunca quis acreditar que tal acontecesse. falou-se depois no geral. no que acontece nos dias de hoje. e alguém referiu que acreditava piamente que actualmente há mais violência que no tempo dos nossos avós. perdeu-se muito o respeito tanto da parte do homem quanto da mulher. já ouvi respostas bruscas vindas do nada, sabe-se lá porquê e de ambas as  partes. por favor, sociedade, roupa suja lava-se em casa!
mas aparte disso eu pergunto onde está o amor-próprio de uma mulher por si mesma que se deixa ficar à primeira estalada, à segunda, às seguintes?! não devemos dizer nunca nem hoje ou amanhã e não também é uma palavra ambígua e pouco amiga. hoje sou uma mulher feliz ao lado do homem a quem faço juras de amor e promessas de respeito e carinho como as noivas de branco, ao altar, de véu na cara. em tempos amei muito um homem que em duas semanas mudou dramaticalmente e quis dar um tempo sem quês nem porquês. tirei a aliança de ouro do dedo naquela hora, arrumei as minhas coisas, saí porta fora. nunca mais dirigimos palavra um ao outro. saí do restaurante já anoitecia e encontrei o joão no parque de estacionamento à minha espera para irmos confirmar a encomenda do último móvel. bebemos um café em seguida e já sentada, de chávena de café segura por uma das mãos levantei os olhos e vi por atrás do joão. entrou no café central, assim se chama, o meu ex com o filho dele ao colo, a enteada e a actual mulher pelo café adentro. por ironia do destino ou não aquilo estava atolado de gente, barulhento, movimentado e  a única mesa que vagou da dezena que o estabelecimento tem foi precisamente a do nosso lado. ri-me daquilo. ele não procurou os meus olhos e eu não lhos dei a ver mas sim, provoquei uns momentinhos de risota com o meu namorado para que ele tivesse em conscinência a péssima atitude que teve quando quis dar um tempo. nem sei que coisa é essa do tempo, cá comigo ou chove ou faz sol. quando soube que nem oito dias eram feitos do rompimento da relação já o senhor andava por aí com qualquer por que o tempo livre era muito jurei a mim mesma que jamais aquele homem me voltaria a tocar.

há coisas que não são para ser mas deve haver sempre um respeito pela outra pessoa - uma relação faz-se a dois, nunca só um decide o que quer que seja.

eu gosto muito dessa minha amiga e eu sei que ela também gosta muito de mim mas a vida tem destas coisas e pronto o tempo não corre por que a pilha acaba. o ano novo vai entrar e os meus desejos são que as mulheres se amem mais. se estimem mais. que sejam mais brandas as que são já ousadas. que as mais calmas se tornem destemidas. que ela tenha sorte sempre na vida. e no céu haja uma boa estrela para ela. e para todos nós também.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

tennis

os meus ténis são azuis, de marca - columbia, confortáveis, foram caros. estão a estragar-se. alguma coisa prendeu no meu téni direito e não tarda nada tenho que olhar bem para o fundo da minha carteira para ver se há lá alguns trocos para outros quer sejam de marca ou não - ligo pouco a essas coisas! e esta meditação deu nalguma coisa. no quê? ora bem... coisa boa só podia ser! eu gosto tanto destes ténis quanto uns que tive em garota bué da loucos. coloridos. mesmo muito coloridos. o meu pai comprou-mos numa feira qualquer daquelas de muita gritaria, muitas barracas, e outras sem pano pendurado, com a mercadoria disposta em cima de um pano qualquer que estava à mão. naquele amontoado de pares perdidos, sim perdidos, parece estranho haver pares ausentes mas era mesmo assim, quem vai ou já foi à feira sabe bem do que falo mesmo que nunca tenha comprado nada, quem nunca foi aquilo funciona mais ou menos assim: está o cigano a fumar, a cigana a berrar o preço baixo no megafone, o ciganito a correr, a ciganita a dormir, e o/a recém-nascido/a a chorar. no meio daquela confusãosita há um pano estendido no chão onde é espalhada a mercadoria, que neste caso em particular, tratava-se de ténis. "ai v'zinho! compra qu'é bom!! na encontras produto melhor e com este preço... ai!!..." segue-se a pergunta do "quanto custa?" e toca a menina tania a experimentar aquele e o outro par, ora o esquerdo, depois o direito (por que é só para experimentar não vale a pena procurar o do pé que já está descalço). gostei de uns, dos tais que eram coloridos, e o pai perguntou-me como é que eu me sentia. já não me lembro do preço mas deve ter sido convicente o bastante por que mal ouviu-me dizer que até estavam justos. o cigano, que ouviu e muito bem, "ai... qu'isso depois alargaaaa!" alargada era o tom de voz dele! naquela época uma bagatela era quinhentos merréis; com mil paus já se encontravam os ténisinhos jeitosos portanto o mais certo deve ter sido esse o preço. bem... os ténis até eram engraçados, rijos, lembro-me que eram duros mas muito engraçados. fartava-me de rir por causa deles. eram de atacadores brancos, do lado de fora azuis, à frente vermelhos, atrás aamrelos, e por dentro verdes. "oh menina!!!, gritava às sete e pouco da manhã uma velha codrilheira à beira do portão velho de ferro, de tinta lascada, tens os ténis trocados!" ao que eu, com a resposta pronta na ponta da língua, "não tenho, não!! são mesmo assim oh!..." e rodava os pés para se verem as cores todas  ao mesmo tempo. e foi a minha aventura até os meus pés reclamarem o espaço apertado. mas o que eu gostava daqueles ténis da feira... na google não encontrei nada igual só os coloridos da nike - que eu não sei quem os calçará, talvez o mesmo tipo de pessoa que eu era aos sete ou oito anos de idade... não sei o que é que a minha mãe terá feito, provavelmente, tê-los-á deitado fora. bem, o que é certo, é que eu gostei deles, e muito, e que já não me lembrava deles não fosse o meu namorado me ter feito reparo ao preço que gastei pelos ténis de marca, que estão agora estragados.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

pessoas... donde as conhecemos?

as pessoas conhecem-nos através do quê? do local de trabalho? de sorriso simpático? do nome? da família?

aí à coisa de uns cinco anos, talvez, fui passar o revéillon com uma amiga e um grupo de rapazes com quem saía regularmente naqueles tempos. no dia 01 janeiro convidaram-me a lá ir almoçar e não esperei a recepção do avô dessa minha amiga de longa data. "olha uma marçalinazinha!" por todo o lado há pessoas alcunhadas, outras dão-se pelo nome da família. a parte do meu avô paterno era marcelino, a da avó belizária. tenho uma prima que é tal e qual o feitiosinho dessa avó, deus tenha a sua alma em descanso. eu não tenho traços do avô. tenho os olhos azuis da avó. e acho que uma costela de mau feitio também. o meu pai, segundo as histórias, parece-se muito com ela. e com o avô dele, meu bisavô, que eu não conheci. a minha avó era uma fraca figura, sempre vestida à velha, com roupas que tinham tantos anos quanto ela, de cabelo fino, branco, seco, e apanhado em pitó. a recordação mais fincada que tenho dela são as garrafas do tintol escondidas na arca frigorífica, debaixo de umas sacas de rede e outras de ráfia. o portão vermelho era a casa do manel. era sempre o manel para mim. o homem velho, que já o conheci velho. gordo. de bengala na mão, sorriso enternecedor. a minha avó deve ter sido uma pessoa arisca, tinha muito cara disso! ao sótão, pelas escadas que só pude subir uma vez, as escadas caiadas, largas, robustas, polidas do vento e da chuva. sujas do mau tempo, do pó primaveril, as teias de aranhas no meio das pétalas das flores em vasos, sujos da terra fértil que as alimentava. o sótão era escuro e havia roupas ainda mais velhas que ela. é só do que me lembro, nunca mais lá fui, nunca mais lá irei. um dia aquilo é vendido. deitado abaixo e nunca lá descobri tesouros. o avô era uma paz de alma. não o era em novo segundo o meu pai, que ele morria de ciúmes da velha mas quando foi para a velhice não perdoava as meninas auxiliares do lar. olho-me ao espelho e vejo um rosto redondo. um olhão azul, tenho os olhos grandes, sempre tive, engraçado, eu pensava, em tempos de artes, que era eu que não dava conta do recado e traçava mal as linhas do meu rosto. mas hoje, de facto, deparo-me com isto: eu tenho mesmo os olhos grandes. não são demasiado. mas são olhos grandes. bem.. eu cá segredo convosco que tenho uma costela afinada. e um coração d'oiro como a minha mãe. da minha mãe, tenho o grupo sanguíneo. e desconfio que umas costelas desconhecidas. depois no dia-a-dia... conhecem-me do meu local de trabalho, sou a menina que trabalha no dentista ou no restaurante (à meia dúzia de anos que deixei de ser a filha de fulano). outros conhecem-me dos sítios do costume. sou uma pessoa de hábitos e costumes muito fortes. só gosto daquele café, daquela livraria daquele shopping, daquela sapataria, daquele bancário naquela surcusal, daquela ourivesaria, daquela perfumaria... e por aí adiante. não gosto de caras novas. não gosto de mudanças. gosto das coisas habituais. conhecem-me pelo sorriso, ou melhor, pela gargalhada. pelas idéias mais loucas - que piada tem uma idéia simples senão a complicarmos um pouco?! conhecem-me pela forma como me visto. e muitos sabem que eu não gosto de cabeleireiras. que adoro livros. mais do que gosto de roupa e saltos altos. que tenho um blogue sem alguma vez me terem visto sequer. que gosto de pagode. e pelo tamanho, sim também conta, no meu caso, que tenho um modesto metro e meio. há quem me tome pela pinta sem alguma vez me ter cruzado com aquela pessoa. a minha mãe sabe sempre quando fiz alguma asneira ou quando vou dizer um disparate. o meu pai não me conhece como pessoa. tenho professores que ainda hoje me falam muito bem e colegas que viram a cara vá-se lá saber o porquê. acredito na influência dos nomes que escolhem quando ainda somos bebés. não acredito nos signos das revistas mas acredito na ciência. eu conheço pessoas de todos os lados e depois quando os vejo onde não os conheci não os reconheço e fico muito embaraçada e pergunto pela família e tal e tal e sigo caminho até me fazer um flash na memória. e vocês? conhecem-me pelo quê?!

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

natal 2010

era eu miúda e a chegada da época natalíca era sinónimo de luzes por todo o lado, muitas cores, muito barulho de papel de embrulho amachucado, bolas de todos os tipos. a minha árvore de natal foi, durante muitos anos, um pinheirinho verdadeiro a quem cantava "pinheirinho de natal" enquanto o decorava com aquelas fitas de cores garridas das quais agora são feitos os pinheiros falsos que se vêm à venda em cores tão garridas quanto aquelas fitas à vinte anos atrás. as bolas tinham figurinhas ilustradas - o pai natal a acartar as prendas, os meninos à volta da lareira, as renas, os presentes com grandes laços... salas cheias de cor e amor... as botinhas. também já haviam bolas prateadas, espelhadas, outras vermelhas, douradas... e umas outras cheias de brilhantes! depois punham-se as luzes. e entre as picadas afiadas da rama do pinheirinho e as das próprias luzes que entre umas quantas e outras mais eram flores e as arestas eram demasiado definidas até para espinhos lá se enfeitava a árvore de natal - o grande acontecimento do ano! algures nas caixas de papelão, de anos e anos a fio, havia sempre o meu pai natal articulado, vestido num fato vermelho muito vermelhos, as botas pretas muito pretas, as bochechas rosadas muito rosadas e uma barba de algodão maravilhosa. todos os dias mexia-lhe nos braços e nas pernas. a minha mãe gostava de colá-lo num dos vidros da porta da cozinha e eu gostava de o ter ali de costas viradas para a mesa à espera da meia noite da consoada para ver pai e filha num sprint da cozinha à outra ponta do corredor até à àrvore para desempacutar os presentes. havia algures os bonecos de neve desenhados em qualquer lado. árvores de natal cheias de bicos com bolas suspensas de todos os tipos. ah! e sinos! ouvia-se muito o jingle bells e aquelas outras músicas natalícias que agora todos os anos são desculpa para se fazerem cd's de música natalícia tradicional - como se se andasse todos os anos a inventar músicas de natal que prometessem prosperidade. mas havia uma música em especial... que era ironicamente badalada entre a miudagem... como era?! ah! encontrei. é assim: "Jingle Bells/Jingle Bells/Já não há papel!/Não faz mal/Não faz mal/Limpa com jornal!/O jornal tá caro/Caro para chuchu!.../Já me dói o dedo/De Limpar o .../Jingle bells..." ah ah!!! muito bom! e até eu ser crescidinha o pai natal era uma figura muito paternal, as renas muito próprias à diversão, os sinos, ainda que só delineados, eram uma alusão perfeita a sinfonias! belas orquestradas! durante muitos anos a tradição fora cumprida. no dia em que a minha mãe resolveu resignar-se contra aqueles pinheirinhos de natal que nem tinham eira nem beira foi uma dor de barriga para o meu pai, muito pano para mangas.
ah! mas hoje em dia já não é nada assim! os tempos são outros! hoje em dia as músicas de natal começam a cantar nas ruas ao dia 01.dezembro e a mascote de natal é a popota. a popota?! ah e a leopoldina. a leopoldina?! mas o que tem a ver um hipopótamo e uma ave a ver com o natal? a popota então este ano regressou com uma força que começa nas gatas assanhadas e zaping! lady gaga zaping! britney speares! a leopoldina (ainda é parecida com um perú mas como eu não como peru no natal por que gosto de comer é bacalhau...) anda o ano inteiro no ginásio para agora estar em melhor forma que a angelina jolie no tomb raider!! as ruas estão vazias de luz para o que é habitual a esta altura do ano. a crise não permite decorações extravangantes e por aqui, pelo andar da carruagem, nem esta semana nem nas próximas três. por mim, tudo bem! sempre fui contra a decoração de natal no meio da água-pé e das castanhas do são martinho. coitado do senhor! ser assim passado para trás! mas quem não gosta de ver as ruelas de portugal enfeitadas agora? mas é sim... os tempos são outros. agora são tempos de leopoldinas e popotas. " - ai popota!" e o pai natal?

terça-feira, 30 de novembro de 2010

quando os opostos se atraem

das situações mais insólitas em que já me vi esta foi igualmente divertida. a bela da tecnologia ajuda em muita coisa e muitas das vezes nem se dá conta disso. imaginem que vão ao dentista. sim já sei! metade de vocês dirá: "txiii epá há tanto tempo que não vou ao dentista... tenho de lá ir!"; outra metade: "rrrrr!!!". pois eu já sabia... bem, este dentista que eu conheço tem uma cadeira muito gira, ela sobe, ela desce, ela inclina para trás, para a frente... e tem televisão. tem os quatro canais nacionais e perto de uns quarenta à escolha do freguês - mentira! está no canal à vontade de quem lá está um dia inteiro. esta manhã, para não variar, estava a ver legends rock top 10 na VH1 quando entra uma irmã. não é minha nem de ninguém mas de toda a gente. é freira. as freiras também dentes. aquela tem poucos mas tem. velhinha, de véu comprido e preto, traje castanho, corda branca com aqueles nós próprios, óculos-fundo-de-garrafa. no oitavo lugar do top 10 das lendas do rock estava van halen com o tema panama. sim, sim... os van halen. não sou grande fã deles mas gosto do som das guitarras.
o mais cómico nisto é que nos três minutos e quarenta e três segundos do video clip o que se vê são malucos aos pulos, de um lado para o outro, a correr no palco aos gritos. transpirando segundas intenções, apelando aos sentidos mais pecaminosos! "Don't you know she's coming home with me/You'll lose her in the turn (...)" e a velhinha religiosa que nunca provou a mais apetecível maçã, pensamos todos mas há sempre um mas, olhava o que diziam e não percebia nada daquilo por que nem falavam português ou latim, pensamos todos mas há sempre um mas. e eles continuavam aos pulos, agitando o público cheio de vazios púdicos, exaltando os calores tropicais de panamá e dos voos escaldantes que sobrevoam os céus. "I can barely see the road from the heat comin' off of it/You reach down, between my legs (...)" eela sosegada cheia de regras e normas, de respeitos e tabus. então como se sente? 'tá tudo bem? perguntava o dentista de óculos sobre o nariz simpático. então não haveria de estar sr doutor?! cantarolando vou saindo do gabinete terminando a quadra "(...) Ease the seat back!..."
a irmã lá saiu satisfeita do dentinho estar mais composto, concerteza terá ido rezar umas novenas ou não! eu vou namorar e vocês desfrutem de van halen!



será que ela não percebia mesmo nada do que eles diziam?! e por baixo do traje? será que não andava por lá uma tangasita de renda? deus nosso senhor me perdoe!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

estranho estrangeiro

as   situações   mais   marcantes  de  uma criança são criações  das suas crenças   enquanto   individuos   e   consequentemente   serão    o    resultado  na  sua  maioridade.

das  crenças  infantis,  as minhas,  mais fortes que tenho desde garotinha são a má imagem e o que reportavam os dentes d´ouro. para mim só quem tinha aquilo eram os maus da fita, as bruxas e outros quaisquer. e sempre tive medo de quem os usasse. por mim estava sempre tudo  bem desde que não visse. até podiam ter a boca cheia de coroas desse metal desde que os da frente, pelo menos, fossem minimamente semelhantes aos originais.
a primeira situação que me marcou era ainda menina; estava sentada na mesma mesa com um senhor - português - que além do bigode farfalhudo e dos gestos saloios exibia com grande orgulho o seu dente de ouro. quanto  mais  olhava para ele melhor via aquele dente amarelo  reluzente  e  mais  ouro  me  parecia  logo  mais  horrorizada  ficava.  era  das  coisas  mais  aterrorizantes.  ele  tem  um dente  d´ouro,  dizia  eu  aos  meus  pais.
mais tarde, já eu era aquilo que os velhinhos têm a mania de chamar, uma mulherzinha, confrontei-me com outra situação que me deixou exactamente no mesmo estado instável e desconfortável. foi  num  dia  a  caminho  da  terra  vizinha para apanhar a caminete-carrera  para a escola, por volta das sete e meia da manhã em que, sem dar conta, apareceu  à  minha frente  um  homem,  do leste,  dos primeiros  que haviam  aparecido na zona,  nunca lhe ouvia palavra até àquele dia fatídico quando o  vi a rir de sorriso amarelo,  do ouro. o homem tinha um ou dois dentes logo à frente em ouro!!   o  resto   do   dia   fiquei   a   martirizar   aquela   imagem   horrorosa. mais  que não  fosse  também por  causa do susto que apanhei.

***

eu sou uma pessoa tímida. não gosto de estranhos. não gosto de estranhos estrangeiros. temos um pré-conceito formado de tudo quanto nos é desconhecido. e a minha timidez não me permite mais que um sorriso amarelo, daqueles de simpatia mínima e indispensável. mas saliento: não sou racista nem xenófoba nem homofóbica ou qualquer outra coisa discriminatória!
ontem à noite fui fazer o primeiro jantar de natal, deste ano, de uma associação de empresários do comércio tradicional de uma pequena cidade aqui ao pé. saí tarde. tardíssimo para quem tem de se levantar às sete e pouco da manhã no dia seguinte. mas ainda assim antes de ir para casa convidei a colega a ir beber um café ou qualquer coisa ali ao pé. sim senhora, lá fomos nós.
abençoado ângulo ocular! permite-nos visualizar o que está atrás de quem conversamos, do lado direito, do lado esquerdo... entrámos e pedimos dois chocolates quentes. o dela com leite, o meu com água. e sentámos numa mesa junto do aquário. na mesa ao lado e ligeiramente à frente da nossa reparei nuns quatro ou seis homens do leste, não sei se eram quatro ou seis por que as mesas desse bar são rectangulares; eles eram alguns - além de que, às duas e pouco da manhã o cansaço já nos tolda a vista e a paciência. enquanto conversávamos reparei mas sem dar a grande valor a isso que olhavam para nós inúmeras vezes. mas... como há homens que nunca viram uma mulher ou parecem nunca ter visto... não se pode valorizar estas coisas. e como são estranhos estrangeiros... acho que a curiosidade deles é facilmente atiçada.
a dada altura vi um deles levantar-se. e vi os colegas a rirem-se. vi o fulano pegar numa revista e viu-o dirigir-se à nossa mesa. sempre olhando para ela e dando atenção ao que me dizia: "...e depois ele como não gostou do que eu lhe disse nunca mais me chamou para..." e interrompeu-nos. "discu'pa minina, você faz o que quiser. si quiser guardare guarda ou rasga revista, num interessa! ispero qui goste!". faltavam-lhe os dentes da frente. dois ou três, acho eu. aparentava os seus trinta e muitos anos gastos, pouco cabelo e esgadelhado, olhos azuis ou cinzentos, roupas baratas, velhas, sem graça... aspecto de quem vem de outro país, de outra cultura, de outro mundo. fiquei sem jeito. a revista estava aberta no meio publicitando uma das belas maravilhas: os açores. e sob uma das colinas estava um desenho feito a esferográfica azul. retrato de uma menina de olhos grandes, rabo de cavalo, encasacada, sem pormenores na camisola. era um retrato meu. percebi assim que ele pousou a revista. sorri. disse-lhe "'tá bem!" num tom seco e distancial. fiquei sem jeito. atrapalhada. devo ter corado. apeteceu-me rir da situação, no bom sentido, sempre que fico sem jeito rio-me, é a melhor maneira de lidar com uma situação constrangedora. ainda deixei escapar um sorriso mas não olhei mais para o grupo, envergonhada como estava... aos poucos, um a um, foi saindo e ainda vi o autor do desenho a dizer adeus bracejando a toda a velocidade como se estivéssemos a quilómetros de distância e uma relação fortíssima. nem sequer olhei. quando vi as horas já eram duas horas e trinta e três minutos. "tenho de me ir embora, desculpa querida." ela pagou os chocolates quentes e saímos. antes de sair ainda tive oportunidade de dizer à dona do bar para que ela me guardasse a revista até à semana seguinte que lá passarei a buscar para ficar com o retrato do não-sei-das-quantas, estranho estrangeiro. agora, entre nós, eu até gostei do desenho, observei as linhas, os traços, a figura. a senhora comentou a graça. agradecemos e saímos.



p.s.: semana que vem posto a foto do desenho caso a senhora cumpra a promessa de guardar/conservar a revista até lá.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

candeeiros de sala

nunca pensei que fosse tão difícil escolher candeeiros! cruzes, credo!! chiça!... as meias voltas ao mundo que já dei e nada agrada.
pressuponho que um candeeiro de sala  além de iluminar o espaço crie uma atmosfera, ambiente, ajude ao calor humano, às relações intra-pessoais. que enquadre no tema decorativo, que seja a cara de quem o comprou, não literalmente esclareço, e  depois, claro está,  tem de ser um candeeiro que fique bem com carteira que o escolhe. fiz uma lista dos pormenores a ter em atenção durante a compra:

1º - o joão não quer nada de halogéneo
2º - eu dou importância ao aspecto, tem de ser bonito.
3º - a sala é rectangular com a área merecedora de dois mas a mesa de jantar põe em causa a virtude do candeeiro - se ela existe está no meio e não há possibilidade de ficar mesmo por baixo por que esta fica em frente à porta da sala.
4º - não podem ser daqueles que ficam bem compridos desde o tecto até a meio por que o tecto é baixo
5º - damos preferência a candeeiros sem formas rectas. eu gosto deles "desalinhados"

deve haver mais uns quantos pontos mas para já exemplificam o meu drama e como estou a resolvê-lo. na verdade, já encontrámos uns engraçados mas caros, caros, caríssimos! "caríssimos irmãos",  diria alguém,  notificando qualquer coisa de carácter religioso. ah! ah! de uma bela benção é o que eu preciso tanto na bolsa quanto no descobrimento de algo excepcional, maravilhoso, enquadrado na minha sala, perfeito! assim como o da imagem: simples, belo, luminoso! mas sem ser de halogéneo!

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

bella lullaby

fecho os olhos e deixo-me a sonhar... sinto no corpo aqueles vestidos leves, brancos, dançantes a beijarem-me o corpo, dançando com as curvas do me corpo. fecho os olhos e sinto uma nova vida dentro de mim, uma invasão de ternura e paixão. e na-na-na-na-ana... na-na-na-na... na-na-na-na... e no ar os meus dedos indicadores ousam bailar no ar, desenham curvas de ordem como os dos maestros ao longo de uma melodia fina, calma, simples...

***

eu não sei tocar piano, uma pena, uma lástima... há algo naquelas teclas que me toca de uma forma muito peculiar. é de uma excentricidade única. apaixonante.

***

são para mim, os dedos de um pianista, Aquele que me toca a alma...




p.s.: não consegui publicar o link mas pesquisem no youtube bella lullaby

sábado, 20 de novembro de 2010

doll troll

aos fins de semana mudo de casa, de residência, de vida, de estatuto, de terra. nunca de personalidade. sempre que chegam os belos finais de dia  das sextas-feiras das cinquenta e duas semanas do ano mudo de vida. migro do concelho que me viu crescer, que conhece a minha personalidade, que sabe a minha identidade, donde são originárias as minhas raízes e migro para a terra que de longe em longe me ouvia as passadas na ribeira, junto às docas, ouvia a minha voz de criança misturada no murmúrio do mar e via o reflexo da cara de menina - que ainda hoje tenho - estampado nas águas calmas do porto onde uma gaivota mais gulosa interrompia a calmaria que banhava os barcos de âncoras alojadas metros abaixo. a casa está como quem gosta de ver um copo: meio cheio ou meio vazio. para mim está meia cheia. aos poucos se vai enchendo de tudo um pouco. todavia, sem electrodomésticos à excepção do aspirador que por motivos que não interessam nada é tudo menos silêncio como o de gato cuja única semelhança em particular é a cor, nada posso ter a fins de conserva diária de modo que o pequeno-almoço é como o dos ricos - fora de casa. são dois dias a tomar o pequeno-almoço no café. o joão gosta de ir a um perto da casa dos pais, já eu, confesso, gostei mais de lá ir. sou daquelas pessoas que não gosta de confusões e barulhos fortes pela manhã. gosto de uma manhã tranquila. quanto mais tranquila for, melhor o meu despertar e, por conseguinte, melhor, muito melhor até, o meu humor e a sua duração ao longo do dia. não é o caso na maioria das vezes, que, vá se lá saber agora, faço das tripas o coração para ignorar os gritos das criancinhas, das mulheres histéricas alvoraçadas, da televisão aos berros e os gritos das pessoas ao balcão para pagar. fora a refeição que nunca me satisfaz de todo. gosto do comer da terra que me viu crescer e tornar mulher. aqui a comida não tem o mesmo sabor.
hoje, para me abstrair daquela poluição sonora num espaço tão pequeno, de tão poucos metros quadrados, olhei para a vitrina e, mais do que noutro dia qualquer, reparei em cada chincalharia à venda: bonecos com gomas, chocolates de todas as marcas, brindes, guloseimas, sugos, chocolates, brinquedos... enfim! uma diversidade que até eu, que já sou uma mulherzinha, tive dificuldades em, hipotéticamente, escolher uma coisa só que fosse. sorri. achei piada aquilo tudo e imaginei-me criança outra vez. recordei o fascínio que é para uma criança aquele mundo mesmo ali à mão de apanhar e satisfazer. não é comum, pelo menos aqui por estas bandas, tanta coisa assim à venda. a última vez que vi algo assim era ainda muito novinha, não devia ter mais que os meus seis anos talvez se tanto ou pouco mais. na terra natal do meu pai, cuja natalidade é mínima e a velhice abunda em cada esquina, havia e ainda há um café com direito a sala de jogos, mercearia, w.c senhora e homens separado, e mais qualquer coisa que eu visualizo na minha mente mas que não indetifico o que seja. um balcão enorme tanto em comprimento quanto em largura, albergava por todo o lado coisas do género. entre garrafas de aguardente e vinho tinto caseiro, copos-penalty e garrafas de cerveja de litro, num fundo de azulejos verdes-enjoados contrastando o chão de mosaico branco-sujo serampitado, havia muitos chocolates desde os mais antigos como o chapéu-de-chuva da regina até às pintarolas. (comi centenas de pintarolas... nem sei como não enjoei). ir aquele café calhava quando o rei fazia anos. e talvez por isso poucos sejam os pormenores que me escapem, claro não ponho de parte a realidade, mas em tantos anos, muita coisa muda... tanta coisa mudou desde aí... ainda me lembro do cheiro... confundia-se o cheiro da mercearia com o da taberna mas estava sempre tudo muito asseado. mesas e cadeiras várias dispostas por toda a área. eram frias. desconfortáveis. típicas de um café antigo. havia fitas de plástico à porta para espantar as moscas. os homens jogavam às cartas sempre naquele canto à direita quando se entrava e as mulheres sentavam-se quase sempre na esquerda conversando umas com as outras.  mas hoje... hoje, quando me lembrei desse café não foi pela apresentação do estabelecimento. foi por causa das guloseimas. na minha infância apareceu este boneco que fez um furor imenso e que eu me cansei de o procurar na google. já não me lembro o porquê mas sei que adorava aquele cabelo fino, esgadelhado, de cores estranhas para um boneco - mal sabia eu que seria moda nas senhoras anos mais à frente. eu lembro-me bem do de cabelo verde. havia noutras cores mas não sei se havia algum significado específico. sei apenas, e por curiosidade partilho isto também, que a origem destes bconecos de aspecto tão tosco é humilde, triste e bonita pois tratou-se de um pobre homem pobre que sem nada que pudesse oferecer à filha pelo natal esculpi à mão e da sua imaginação uma boneca. podem ver em wikipedia.com. como era habitual e já tradição mesmo foi mais um que não resistiu à minha infância de modo que não posso continuar a dizer mais que seja. seja como for é bom saber que ainda me lembro dele.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

pantera cor de rosa

só o facebook e mais uma vez o facebook. agora inventaram de propôr à malta a alteração da foto de perfil para um desenho animado que tenha uma marca significativa na infânica. torci o nariz. achei piada. aderi. eu escolhi a pantera cor-de-rosa. nos meus tempos de miúda, o som vinha longe e eu já corria para o sofá ver as aventuras daquela pantera atrevida. as imperdíveis aventuras e partidas também.
fui fazer uma pesquisa por que queria uma imagem específica desta menina - aquela em que ela aparece em bicos de pés mesmo atrás do inspector closeau. não encontrei. uma lástima para a minha memória. todavia, descobri algumas coisas engraçadas como, por exemplo, a criação do filme ser tão antiga que ainda nem a minha mãe tinha nascido - 1963. que a primeira escolha para a representação do papel do inspector foi recusada pelo actor e escritor inglês de nome peter ustinov. que os homens também sofrem regras de corte-e-costura; peter seller, a segunda escolha para o tão desafortunado inspector tomou muitas pílulas de dieta durante um ano para realizar este papel - quantos quilos é que ele tinha?! e o mais triste é que a actriz não falava inglês e as suas falas foram todas dubladas. enfim! um filme cheio de pequenas pistas para um closeau a sério resolver. ah não! esperem lá. ainda há um pormenor que me deixou desiludida e daí perceber melhor o filme já que também o apanhei sempre a meio. a pantera cor-de-rosa é uma personificação do diamante pantera cor-de-rosa roubado pelo ladraõ autonomeado o fantasma. eu pensava que era apenas um filme divertido, hilariante e cómico sobre uma pantera bípede e cor de rosa. afinal é mais uma complicação adulta...

energias...

sinto uma qualquer energia contida dentro de mim. sinto-a no compasso cardíaco deste músculo guardado em si, dentro de mim. sinto-a a respirar. a contrapôr-se. a impôr-se aos poucos . sinto-a envaidecer-se no passeio pelas minhas veias. sinto-a a correr nas minhas veias, pelo meu corpo como meninas à solta a correr nos prados de papoilas e ervas deixadas ao abandono, de sorrisos ao longe e balões na mão. sinto que há, de tempos a tempos, qualquer coisa errrada. e qualquer coisa inaudível, que não faz sentido nenhum. a morte é um compasso de espera e há algures, atrás de uma esquina de rua escura, algo pronto a revelar-se à luz, a olho vivo. eu fecho os olhos e não vejo nada para lá da escuridão que se impõe. e o silêncio que se ouve do lado de fora do meu corpo é interrompido pelo compasso cardíaco deste músculo dentro de mim. tum... tum... tum...

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

sala de espera no centro de saúde


ontem dirigi-me ao centro de saúde para um consulta fora de horas com o médico de família, pessoa que desdenho imenso pela falta de amabilidade que tem com os seus doentes, apresentei-me à hora marcada e esperei a chamada na sala de espera. curioso, pensei, não cheira a hospital, aquele cheiro próprio dos hospitais como os dentistas cheiram a dentistas, os cabeleireiros aos produtos capilares e secadores de cabelo abafando o ar,  as padarias/pastelarias a pão e bolos, e as clínicas têm aquele cheiro a ar filtrado, coisa que estranhamos sempre - devemos estar habituados à imundice, sei lá. havia nove pessoas quando me sentei numa cadeira perto da janela que dá vista privilegiada aos cigarros a meio do expediente do pessoal auxiliar e médico. sento-me sempre naquela cadeira. catorze horas e quinze minutos, atrasado; já não seria às catorze horas desse dia a minha consulta, suspirei apelando à paciência e deixei escapar um sorriso de mal evidência. via uma mãe com duas filhas. a mais nova irrequieta, não devia ter mais que os nove anos se tanto. a mais velha pisava os treze e daí o pé torcido, talvez. quatro cadeiras à esquerda da senhora estava uma filha quarentona com a sua mãe sexagenária, a senhora teria já alguma doença avançada, ouvia-a contar repetidamente 1, 2, 3... // 1, 2, 3... // 1, 2, 3... parava, esfregava-se, batia com alguma força e determinação e retomava a contagem; à minha frente estava uma senhora na casa dos seus setenta anos com uma ligadura no pé. outra mulher estava com ela. pareceu-me ser sua familiar. no meu lado esquerdo a maior ternura de sempre. uma avó com o seu neto. duarte. rabugento e traquina. não tinha mais que era um aninho. duas senhoras ao lado deles sorriam deliciadas. eu sentia-me no meio da vida. de uma ponta à outra daquela espécie de sala de espera do centro de saúde tinha todas as gerações ali mesmo ao meu belo dispor. outra senhora juntou-se a nós. sentou-se ao meu lado direito e senti que ela queria meter conversa comigo pela forma como me olhara mas eu não queria conversas com ninguém, há dias assim. passou uma outra de cadeira de rodas. "caí! na vês agora a minha vida!!" dizia ela pouco antes da chamada à da minha frente. estive sentada naquela cadeira uma meia hora até ouvir no altifalante a voz do médico soar como a de um rinoceronte zangado não que alguma vez tenha estado perto de um rinoceronte ao vivo e a cores e ainda menos zangado mas o national geographic é bastante elucidativo nesses aspectos da vida humana. está mais gordo. e o mau humor vinca-lhe a cara cinquentenária  de rugas. estava mal disposto como sempre. não fiz os mínimos para fazer de conta que não me apercebi e ser simpática. passou outra caixa de medicamentos e disse-me que não sabia o que é que eu tinha. saí. na mão o último resultado de exames reclamado por mim e não por iniciativa dele, na outra a receita, nos meus ouvidos a frase descabida e dita a frio "não sei o que tens, que queres que te diga?!" e os meus olhos a encherem-se de água abafaram a minha voz quando passei na recepção e agradeci a atenção. desci as escadas. liguei à mãe. depois ao namorado. fiz uma marcação no particular. e é assim a grande maioria dos médicos deste país. são-no pela simpatia familiar, por que dá jeito um médico na família, dá nome, é um posto de respeito. é um erro. certas profissões (senão todas) merecem o mínimo de dedicação e paixão senão nunca nada tem o seu devido valor nem o efeito pretendido. desci as escadas sem ver quem ainda estava naquela sala de espera.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

velhos são os trapos o tanas!!

epah que neura!! detesto trabalhar com gente velha! é que eles são velhos, ultrapassados, velhos, retardados e fazem os mais novos velhos, ultrapassados, velhos, retardados, e numa pilha de nervos!!! são teimosos. só fazem o que querem e eu não percebo por que é que estão no activo durante tanto tempo!! é velho? rua!


se eu gostasse de trabalhar com gente velha ia para um lar!! e tenho dito!!!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

dias cinzentos de outono

ah o outono... o frio... as cores acinzentadas do céu tão azul na primavera e no verão, as cores verdes e castanhas, amarelas e vermelhas das folhas à deriva no chão e à mercê dos meus pontapés inofensivos. hoje foi um daqueles dias em que fui possuída por uma lânguidez, um enfado tal que não vi encanto em coisa nenhuma. nem nas folhas a cair que normalmente me fascina. nem... em nada!
eu não gosto nada de vestir golas altas justas ao pescoço. é um atrofio! ora dá-me em calor ora é um frio que não há roupa que me aqueça! e depois aquilo ali junto ao pescoço quase não me deixa respirar!
e depois hoje não tinha carro por que ele foi fazer uma segunda visita à oficina. ah! que dia!! o frio, a chuva-molha-parvos, as trombas de água, a gola alta! irra!
nestes dias gosto de olhar a rua pela janelas. ver as pessoas a correr na rua, o vento levantando as folhas feias que andam pelo chão às cores, a chuva miudinha que cai do céu nublado, o vento que sopra nas frestas das janelas. o chocolate quente ou o café ou o chá a evaporar-se no fumo que se desvanece perfumando o ar, aquecendo as mãos e enamorando a ponta do nariz avermelhada. este ar seco, sem graça, sem amor, sem coisa nenhuma do nada. é isto que o outono faz às pessoas: acorda-as no leito quente embrulhado em tecido de algodão rosado. e depois fá-las vestir camisolas de gola alta pela manhã por que está frio, não há carro para o caminho até ao emprego e a chuva promete a chegada para breve. cachecóis ainda vão mas golas altas é que não! justas ao pescoço é que nem pensar. sacrilégio ou não nesta época do ano é sim um grande sacrifício! e andei assim o dia todo. encafuada na gola alta, cheia de frio e a morrer de calor, sem alento nenhum nestes dias sisudos que antecedem o inverno.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

mulheres

pintura de June Leeloo
ah! isto de ser mulher tem muito que se diga. gostamos de amor, de romance, de paixão, e lutas com garra. eu pelo menos gosto de coisas que me dêem luta, que me aticem a imaginação e de consegui-las. é uma tarefa desgastante mas tudo se faz e eu gosto mesmo é de arregaçar as mangas e pôr-me ao caminho. também gosto de obstáculos, confesso, mas não digam a ninguém por que é segredo. não gosto de ter nada assim de mão beijada até por que já lá vai o tempo que alguém beijava a mão a quem quer que fosse. também gostamos de mimos. de muitas prendas. de palavras de amor. de supresas (boas, claro!). e pronto! simples não é? eu também acho que sim. eu, pelo menos, dou especial atenção aos pormenores, a pôr o torto direito para ganhar vitalidade, a pôr o direito torto para o pôr na ordem; vestir-me bem, vestir-me muito bem, vestir-me com qualquer coisa; chorar quando me emociono, rir quando me apetece chorar, rir à gargalhada sem me conter; trabalhar bem, descansar melhor; gosto de saias, de vestidos, de lingerie, de saltos altos, de collants de licra, de meias de liga; não aprecio o vermelho em tudo quanto é sítio, gosto de branco na roupa, de preto na lingerie; de organza nos cortinados, de renda nas tangas e nos soutiens, de algodão nos lençóis de cama de casal; gosto de combinar o aroma do perfume com a roupa e a de fora com a interior e depois o perfume com isso tudo. não gostamos todas de escrever nem ler. eu adoro escrever e ler, gosto de poesia, de música, do cheiro dos livros; gosto do primeiro olhar, de faces coradas, de palavras gaguejadas, de risos embaraçados. gostamos de sedução, de sexo, de prazer, de amor e de romance. acho que é tudo.

eu gosto de crianças e odeio birras!!

gosto de crianças. hoje em dia mais que à anos atrás. e já sei o que vão dizer, é o relógio maternal. não me interessam justificações. gosto e pronto. é um facto. uma constatação. é simples.

foto de Catarina Batista

quando sei que uma amiga minha vai ter um bebé fico em êxtase. fico delirante com a idéia dos sorrisos, das gargalhadas, dos choros de birras ensonadas que prevêm sempre belas sonecas em descanso. acredito que muitas mamãs sonhem com isso... mas quem resiste àquelas carinhas de bebé? aqueles olhões fascinados com tudo à volta? aquele beicinho... qualquer coisa que eles acharam piada repetir....? à uns anos atrás,  não há muitos, dizia eu que gostava de ter cinco filhos. hoje não ponho essa hipótese mas três gostava muito. duas meninas e um menino. ou venha o que vier que é sempre bem vindo. haja saúde por que já não podemos contar com a economia devido ao sr. sócrates - a ver vamos se não terá ainda o mesmo fim que o seu antropónimo. mas voltando ao tema principal é tão bom o toque das ropinhas, as ropinhas, os lençóis, a colcha, todo aquele conjunto de enxoval... eu fico simplesmente deliciada. e depois os nomes... eu desde nova que creio que o nome diz muito de uma pessoa, pelo menos o meu nome é a mais pefeita descrição de mim além do singo mas isso já são muitas balelas :) mas odeio birras descomunais. isso comigo é que não!! a minha amiga catarina é fotografa, uma excelente fotografa, por sinal. as imagens dela captam uma essência indescritível. avassaladora. profunda. momentânea. esta foto é prova disso. não há nada tão eternecedor quanto olhar para um bebé abstraído da realidade. e ela capta isso de uma forma muito única. eu gosto de crianças. gosto e pronto! é um facto. uma constatação. é simples

hurt, beautiful life




adoro esta música. tem um quê de uma essência que me transcede. sinto um arrepio espinha abaixo e os meus ombros convergem num sentido de união único. poucas são as músicas que me provocam este efeito. esta é uma delas. fecho os olhos e sinto-me a mergulhar dentro de mim como se um novo eu se revelasse. quando abro os olhos, infelizmente, não é bem isso que acontece mas sabe-me bem cantarolar a melodia.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

manhãs difíceis

humm... quarto-escuro. um olho aberto, outro que cerra, que me dá mais uma ruga de expressão. é o que dá a preguiça pela manhãzinha. a cama quentinha dos lençóis amarelos, polares; o cobertor amarelo, suave e quente da pierre cardin e aquele homem ao meu lado, sempre tão quente... eu ainda não vira já sabia que o dia estava mesmo bom para ficar na cama mas ganho coragem e num salto levanto os lençóis quentes de cima de mim, subo os estores e espreito entre os buracos o céu cinzento lá fora. torço o nariz. vou até à cozinha em bicos de pés e é realmente um facto: chegou a cara feia do outono. visto qualquer coisa mais ou menos quente e saio para a rua. um olho aberto, o outro que cerra ainda mais, o sol é matreiro pela manhã e eu ainda não pus os óculos de sol. humm... respiro fundo. o ar cheira a chuva. e o frio é cortante. parece que consigo ouvir o nock nock atrás da porta a querer entrar mas eu não quero a chuva e o frio. gosto de namorar no calor do verão. aperto o casaco até chegar ao carro e os meus passos parecem seguir um ritmo lento demais... não tarda nada daqui a semanas terei o pingo no nariz com a ponta encarnada e os olhos cheios de água... humm... pequeno-almoço? ah concerteza! 

sábado, 30 de outubro de 2010

para dar sorte

não há nada de mais fascinante no ser humano que a sua genuinidade, digo eu. eu que digo as coisas sem pensar da forma mais espontânea que pode espantar. digo as coisas na minha mais pura inocêncica, em tom de brincadeira e desafio quer seja alguém da minha idade ou mais velho, meu colega de trabalho ou meu superior. "por que a maldade está nos olhos das pessoas" digo o que quer que seja sem segundas ou terceiras intenções. depois, claro está, a menina tânia vê-se em situações, no mínimo, embaraçosas e troca as mãos pelos pés, cora automáticamente e fica sem palavras - haja uma vez!
sou também uma pessoa dada a doces. não a todos. a todos não que eu cá não gosto de mousse de manga, só de chocolate, mas se o bolo de bolacha até nem tiver muito creme por dentro também dou uma dentada que me delicia profundamente. ora depois de dito não se volta atrás e eis que alguém, que não devia dar tamanha importância a um pormenor minimamente vulgar, eis que alguém proporcionou-me, hoje, a meio do meu serviço laboral, uma situação na qual me senti enrubescer de tal ordem que o sentimento mais forte foi de um embaraço tão grande, tão grande que nem soube dizer nada de jeito, apenas e só, sorri levando na mão o pratinho de porcelana branca com uma bela fatia de bolo de bolacha que a mãe do bebé afonso, a quem pertencia a festa de baptizado, gentilmente me trouxe. "ouvi dizer..." disse-me ela e eu sorri corada que nem um tomate maduro. a senhora foi de uma gentileza tal que não pude resistir à tal fatia de bolo, além do que, para granfina, mostrou que "(não) é o hábito que faz o monge"; ali a senhora não era a bela da média/alta sociedade e eu não era a empregada de mesa/responsável pelo serviço. éramos apenas duas moças, duas senhoras, duas raparigas, duas pessoas com sentido de humor. e é bom saber que não são apenas os trapos que contam. é claro, foi um pagode à minha conta, coisa que não me importei já que as pessoas mostraram o seu lado mais barroco, chamemo-lhe assim. eu continuo sempre a mesma. também tenho as minhas fatiotas e a minha caixinha de maquilhagem que me tornam numa grã-fina por uma vez ou outra e a minha roupa/farda que me tornam na melhor serviçal onde tudo corre como deve correr e não falta nada em lado nenhum. o bolo de bolacha era o bolo do baptizado, extremamente bonito, delicado, decorado com gosto e ternura de quem ama os seus. comi um pouco. "para dar sorte", dizia-me sempre a minha mãe que me incitava a arranjar mais um espacinho na minha barriga para um pedacito do bolo comemorativo, era eu ainda uma miúda. à saída agradeci, uma vez mais, e desejei sorte e felicidades ao bebé e aos pais.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

bonecas de trapos

o meu pai deu uma boneca de pano à minha mãe à coisa de uns meses atrás. ela tem o cabelo de fios de lã castanha nos dois totós, uns olhos castanhos como os dela mas menos bonitos, os olhos castanhos da minha mãe são muito mais bonitos e intensos, um sorriso cor-de-rosa e tem vestido um fatinho cor de creme com uma flor no meio feita a retalhos e linha cor-de-rosa; a bainha também é de retalho. a minha mãe dorme com ela de noite. esta manhã, por acaso, estava eu a fazer ronha para me levantar da cama, cada vez mais aninhada nos lençóis de fanela, quando abri um olho ela estava mesmo ali quase a fazer-me cócegas no nariz com a ponta dos cabelos. cheirei-a. a minha avó materna tinha um saco cheio de trapos e tinha dado para fazer uma boneca de trapos verdadeira. era uma tarde de sol como muitas outras (acho que o sol naquela terra dura mais tempo que noutro lado qualquer!) quando resolvi entrar à socapa na adega do vinho onde ainda restavam as pipas do tempo do avô quando ainda se fazia vinho tinto; cheirava a velho  e a teias de aranha; havia pó por todo o lado e coisas guardadas em segredo no meio das falhas das paredes de betão. a avó deixou-me levar o saco cheio de trapos para a minha casa e fui a correr para que ninguém mais visse o meu tesouro descoberto. sentei-me à chinês num canto do armazém e fui tirando trapo a trapo, tira a tira; havia panos azuis de algodão ou flanela, sei lá!, cetim em tom arroxeado, havia outros em tons de creme e branco e muitas mais tiras de pano, das quais não me recordo - já se passaram tantos anos... mas tenho a certeza que havia panos para todos os gostos, isso era mais que certo! o que mais torna a lembrança viva é o aroma. hoje, e curiosamente só mesmo hoje, tomei noção de quão forte é a sensibilidade dos nossos sentidos e como é esse o elixir das nossas memórias. uma vez mais, não sei o que fiz a tantos restos de tecidos mas o mais certo deve ter sido a minha mãe levada pela razão a deitá-los todos no lixo mas enfim! ainda hoje me lembro deles e do cheiro tão característico a esquecimento no tempo que tinham dado para fazer umas belas bonecas de trapos cheia de retalhos. eu gostava de ter tido uma e a da minha mãe não é verdadeira.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

echolalia

há ecos dentro de mim. eeeeecos. e-cos. ecos. ecos enoooormes. ecos profundos. ecos do tamanho do mundo. ecos da duração dos anos-luz. ecos intermináveis. ecos como aqueles mudos quando eu, em criança, de joelhos, atirava pedrinhas, palhinhas, lêvas pequeninas de terra seca para dentro do poço de pedra a pedra, feito uma a uma com paciência e inteligência também,pelo avô pai da mãe, à muitos anos, ao fundo da terra, junto das laranjeiras. e depois ficava a ver as ondinhas que o que quer que fosse atirado lá para dentro fazia assim uns círculos deliciosamente simples como os primeiros pingos de chuva no começo do outono. fazia sempre frio ali. os cedros atrás de mim, a caneira à minha frente, do meu lado direito a terra cultivada que se estendia quase até ao portão de casa, do meu lado esquerdo mais uns metros de terra e depois uma estrada de chão abatida, a dar de si por causa das enxorradas. debaixo dos meus braços o poço rebocado à pressa, de forma tosca, velho e cheio de musgo aonde a água das chuvas e a do leito passageiro subterrâneo não tocava nos ninhos dos melros; estes que tinham ninhos que eu queria alcançar mas estavam tão longe da ponta dos meus dedos pequeninos. era o sítio ideal, para os ninhos dos melros, a àgua não molhava por baixo, as crianças curiosas não alcançavam por cima. depois eu distraía-me por ali... divertia-me os sons que surdiam dali. e então produzia sons monótonos como os ah, uh, muitos outros ah batendo repetidamente a mão direita na boca enquanto o som saía das minhas cordas vocais. e depois eu ouvia aquele som em surdina. eram ecos bem mais infantis e dispersavam-se trespassando-me as entranhas míudas do corpo pequeno. hoje, o corpo da menina é um corpo de mulher e os ecos também por isso mesmo (?) são maiores. e não se extinguem tão facilmente como outrora. enrolo-me no cobertor "macisinho" da mãe, no sofá e fecho os olhos. fecho os olhos para dormir.

uma estrela do céu - quem lhe sentiria a falta?

fechei os olhos. respirei fundo. sinto um cheiro no ar que me é familiar mas... o que é? fecho os olhos. está escuro. mas ao fundo... ao fundo... eu vejo uma luz branca qualquer... eu conheço aquela luz. na mão tenho uma flor. na outra uma... na outra mão... não sei que coisa é. costumo vestir as folhas dos livros e o batôm dos meus lábios é da cor velha das folhas velhas dos livros antigos. o meu olhar, tão azul, tão azul como o céu, o meu olhar está cheio de sonhos. eu fecho os olhos e tu não estás aqui. sinto um aroma no ar... há algo no ar de cariz maravilhoso mas eu não sei que coisa é... a época aproxima-se... oiço os sinos ao longe, as melodias a chegar e tu não estás aqui e é uma coisa tão estranha, tão estranha que é coisa que nunca me habituo - à tua ausência. quero-temuito. quero-te demais... mas agora que o tempo passa, e passa tão depressa!... parece que... que horror! já não penso tanto em ti e tu dormiste tantas noites comigo. nas noites todas que o céu, à noite, no inverno, no céu se viam mais estrelas que agora... parecia que cada vez que olhavas o céu fazias nascer mais uma estrela como uma flor no jardim lá de casa. eu gostava de ter uma estrela tua. gostava que uma das tantas que o céu se envaidece de ter, uma delas fosses tu, e fosses minha para sempre ou de quando em vez... para matar a saudade do teu sorriso de mel, dos teus olhos cheios de sonhos de menina, do teu perfume a flores campestres... oh! se tu soubesses... mas eu acho que sabes.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

falamosdepoissff.blogspot

 encontrei aqui esta bela imagem com o título do post "se eu tivesse coragem" e depois vem uma data de desejos ainda por realizar.eu, ando há tanto tempo, tanto tempo, à procura de uma idéia genial para fazer uma destas que nunca me ocorreu que as coisas mais simples são sempre as mais bonitas. curiosamente o post dela acaba da melhor maneira possível: "Mas eu não preciso de coragem. Basta-me um impulso, só não sei por onde começar..."
da minha parte, fiquei com uma inspiração tal, que não fosse o frio que está pela manhã e a falta de uma imagem decente sairia agora a caminho do estúdio a reclamar o feito.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

as coisas estranhas do facebook

o facebook e o quiz monster é das co-relações mais insólitas que pode haver. todavia quando não se tem mais nada que fazer inventa-se!
no outro dia estava eu cheia de... nada!, quando resolvi partir à descoberta dessas coisas estranhas; comecei pelo tou's - uns bonecos mal feitos, loucos, cómicos que descaradamente dizem como estamos ou deixamos de estar a nível de humor. mais tarde cedi à curiosidade da semelhança que possa existir entre mim e qualquer outra coisa. comecei pelos bolos e calhou-me o pastel de nata, desconfio que tenha sido a preferência pelo cafésinho ao invés da hora do chá ou um snack rápido que justificou a análise assim: "O tamanho não importa. O pastel de nata está sempre bem acompanhado e apesar de às vezes ser inseguro, sabe que a maioria das pessoas reconhece-lhe o sabor merecido. Estás sempre recheado de boas surpresas. Apesar da aparência rija por fora, tens um coração de nata!". ri-me da simplicidade. depois fui ver que chocolate seria eu  e surpresa das surpresas: twix! sei lá por quê mas adorei a designação: "És crocante como a bolacha, delicioso(a) como o chocolate e saboroso (o) como o caramelo.. Ninguém te resiste." ainda serviu para me rir à brava com o meu namorado quando lhe mandei a mensagem enchendo o meu ego como um balão. daí parti à (des)aventura da minha pessoa no passado e bastou-me ter dito que gostava do mar para passar a ser uma sereia e, de facto, é uma descrição tão narcisista que jamais poderia ser eu ora vejam: "És encantadora e tens uma beleza e charme que fascina toda a gente. És uma mulher tímida e calma, que evita conflitos sempre que pode: preferes refugiar-te no teu mundo, do que ter problemas. Não precisas de fazer por ser amada, porque as pessoas apaixonam-se pela tua personalidade mal te conhecem! Para ti, amar e ser amado são as coisas mais importantes na tua vida. Tens muito medo que te partam o coração, por isso não o entregas de qualquer forma... apenas alguém muito especial irá merecer o teu amor. És muito feminina e graciosa, e o teu mistério faz com que te queiram conhecer melhor..."  - não sou encantadora nem evito problemas - e vai nisto toma lá outra vez a pequena sereia da walt disney para confirmar a teoria anterior: "Você sonha alto, é determinada e se vê, no futuro, morando longe da sua terra natal. Quando se agarra a um objetivo dificilmente desiste e é capaz de tudo pra conseguir o que quer. Apesar de parecer ambiciosa e teimosa, na verdade você sempre busca a sua felicidade e te...nta de tudo para tê-la, mas arriscando a si propria e nunca os outros. Se tivesse o dom de cantar, mas pra ser feliz precisasse andar...trocaria sua voz por pernas.". mudei de assunto - loucura parecera-me um bom tema e calhou-me a rainha de copas da Disney: "A Rainha de Copas é uma personagem que aparece nos capítulos finais do livro Alice no País das Maravilhas. Tem um pavio curtíssimo, é autoritária e responde a qualquer sinal mínimo de desrespeito com a famosa frase "cortem-lhe a cabeça". Geralmente a rainha exige que tu...do seja perfeito e, se por alguma razão qualquer, algo vai errado, pode-se ter certeza que algum envolvido será decapitado. No entanto, esse negócio de decaptação é apenas fantasia e ninguém realmente perde a cabeça (ou será que perde?). Até mesmo nisso ela é a maluca de plantão, sendo superada somente por VOCÊ!" aqui a única coisa que posso dizer em minha defesa é que gosto de vilões e malvadas mas acho que isso também não beneficia lá grande coisa a meu favor. dias depois decidi espreitar o futuro e sabem o que me vai acontecer em 2011? vou ter um cão! coisa impossível não é? e depois fui saber quando seria mãe e surpresa das surpresas o primeiro teste calhou trinta e um anos e isso está fora de questão por que quero ser mãe até aos trinta e não depois disso; o segundo deu dez anos de diferença para menos e das duas uma ou não dei por nada ou enganaram-se outra vez; e como não há duas sem três à terceira satisfiz-me com o resultado quando deu vinte e sete embora, confesso, gostava que fosse um pouco antes mas logo se vê. mais tarde aventura das desventuras, ou não, o facebook afirma que sou parecida com a Beyoncé - deve ser pelo cabelo esvoaçante. e pronto! esmorecida da minha vida resolvi que o melhor era parar aqui mesmo. coisas estranhas, as do facebook!