quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Treze meses

ele brinca com as mãos, quando tem sono, como eu.
aconchega e roça a fralda no nariz como eu, com a ponta do lençol, antes de adormecer ou quando não quero largar a lanzeira.
tem uma doçura no olhar que encontro, de vez em quando, nos olhos castanhos do pai.
mas ri como eu. melhor, talvez. por ser criança ou por ser meu filho, sei lá! solta uma gargalhada genuína e pura.
tem um ar de reguila que provoco com as pontas dos meus dedos, cócegas pelo corpo todo!
é o meu bicho-mau em plena birra descomunal com direito a corpo hirto, voz aguda em modo grito, faces vermelhas, punhos cerrados (vem a dar-me água pelas barbas!!), atira com a chucha e a fralda e mais haja!; e o meu patareco desde que nasceu quando se atrapalha; a minha tartaruga quando se quer levantar e não sei se é aquela barriga gorda que não deixa se são aquelas bochechas rosadas do rabo que se agarram ao chão!... é o meu pinguim agora que aprendeu a andar.
lembro-me agora como dois minutos podiam muito bem se ter transformado em meia hora que eu queria lá saber do resto do mundo, por acaso!! (falo para ele como se fosse um adulto ou um pouco mais crescido.) estava na cozinha a calçar-me e achei piada chamá-lo. uma, duas, três vezes! nada. 

'tá a fazer disparates de certeza, pensei.
agora que já chega à mesinha de cabeceira...
ah!! ficou no chão o biberon da noite!!! tal pai, tal filho, de certeza que está a beber o resto que não lhe apeteceu p'raí... às três da manhã!!!

tanta certeza errada!!
fui à porta do quarto dar com ele em grande equilíbrio, uma mão no ar com a chucha, a outra também no ar com a fralda. aqui te agarro, aqui te apanho... lá vinha ele ao encontro do meu chamamento. ajoelhei-me. abri-lhe os braços e incentivei-o a continuar.
oh que doce momento!!! troco tudo por isto. troco tudo por ele. não há nada mais valioso... e eu sou tão feliz!

domingo, 18 de novembro de 2018

chuva

a chuva que cai lá fora não acalma o meu desassossego.
não abranda o meu pensamento. não acelera o meu passo para sair da cama.
não resolvo o mundo, não questiono o mundo.
fecho os olhos e mantenho-me em absoluto estado absorto.
a chuva vem trazida pelo vento e bate com força no vidro da janela.
será um estado de alerta?
será apenas o inverno.
será o som do meu coração que oiço em eco quando aperta.
quando sinto um nó na garganta...
quando a vontade de chorar é tanta e a fonte está seca...
a chuva que cai talvez encha a fonte, talvez faça a ponte entre o meu sentimento e o meu pensamento, lave a alma e traga a calma, e amanhã o sol amanheça entre as nuvens.

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

ecos do meu ego

entre o alter ego do sucesso empresarial e os prazeres da carne abençoado no linho do altar ou no algodão de uns quaisquer lençóis nunca dei grande importância ao universo. chocalhos da moral aparte sempre soube qual era o meu objectivo sem ter realmente um percurso traçado.
nunca ambicionei um véu, um beijo a meio da noite chega e nunca ambicionei zeros a perder de conta à direita com medo de um dia rotular-me de zero à esquerda e...!! também nunca me armei em alcoviteira para disfarçar a virgindade da minha alma ou do meu corpo ou da minha mente. foi bem plantada a semente da humildade em mim. e gosto assim.
entretanto, cresci. conheci o bem e o mal e o in de incerto, injusto, infeliz; e aprendi a ser condescendente, a não ser tão exigente sem menosprezar os meus ideais de coisa nenhuma para vir a descobrir o inesquecível, o inexplicável. porém, confesso, não me tenho saído lá muito bem. falho com a única pessoa que não podia, comigo mesmo. parece que não há rosa dos ventos que me impulsione a enfrentar mares desconhecidos nem bússolas que dêem a encruzilhadas nem astrolábios que denunciem bons ventos... as estrelas que estão no céu até parece que nem brilham! estão lá apenas.
e eu olho em redor e não estou em lado nenhum!
tal como as estrelas até o eco será mudo, tenho a certeza!

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

excedentes

nunca somos suficientes. nunca seremos. é tão natural quanto cruel e é equivalente à vontade de o querer ser. há quem acorde e ache o mundo um lugar maravilhoso para viver, cada dia é uma dádiva. 
há quem acorde com reprovação na voz e odiando até a humanidade que já morreu e aquela que ainda nem nasceu (nem vou referir a actual). eu tenho os meus dias, não acredito em unicórnios e adoro o pai natal. trabalho todos os dias para ser melhor pessoa, alguns dias é mais difícil por que a educação é sempre mais forte que o meio onde se vive mas insisto até quando já estou em bicos de pés e de dedo indicador em riste e faces vermelhas, a voz prestes a falhar ou a engrossar, e as lágrimas a quererem brotar!... às vezes até pergunto a mim mesma o porquê da minha insistência neste tipo de lacunas; o que quero provar; a quem quero provar; o quê, exactamente. 
gosto de acreditar que o tempo nunca é perdido nem mal empregue desde que se retenha alguma experiência, algum conhecimento. se se puder buscar conforto ou regozijo, melhor. fora isso... é uma sensação de fracasso e desconforto muito ingrato. nunca corresponderemos às expectativas dos nossos progenitores ou excedemos ou negligenciamos. que raio ambicionarei eu, daqui a uns dez ou quinze anos para aquele ser tão pequenino que dorme a meu lado agora?

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Halloween for God!

algo vai mal na sociedade. 
não, não é um post sobre política ou religião nem sobre teorias intuitivas! mas que é estranho, é.

nunca brinquei ao carnaval nem fui ao pão por Deus e descobri o Halloween só no ciclo e também nunca tinha ouvido falar em tal. comparei-o com o nosso carnaval e a professora disse que não tinha nada a ver mas para mim fazia muito mais sentido que ser metade carnaval metade pão por Deus já que andam de porta em porta a pedir doces mascarados. hoje, certamente com a velocidade a que corre a informação através da internet e das redes sociais e dos meios de comunicação tão adaptados às necessidades instáveis da sociedade acho que chegamos a determinados excessos. na manhã desta quarta-feira tinha um papelzinho pendurado no cacifo da creche do X. o recado mencionava a tradição do pão por Deus e cada encarregado levaria o que podia e sugeria os tradicionais doces e
novas alternativas: frutos secos e fruta. tive muita pena de não ter tido tempo para fazer bolachinhas sem ovo, sem leite, sem glúten...  sim, que hoje em dia é um leque  de restrições alimentares que uma pessoa até tem medo do que escolher! comprei umas tangerinas (espero que alguns pais já tenham inserido os citrinos).
foto da net
já estava em grandes devaneios para decorá-las como se fossem abobrinhas quando me ocorreu: "helloooo!!!!!???? it's not Halloween!!!!"; enchi uma cesta de vide e lá subi as escadas com o menino ao colo de um lado e a cesta de braçado do outro. 
o X. também trouxe pão por Deus para casa. adorei a ideia mas fiquei decepcionada quando abri o embrulho - então e as opções saudáveis?? lá dentro vinham palmieres, biscoitos de manteiga, línguas de gato, um chocolate (what?!)... o mais saudável só mesmo umas mini bolachas Maria e ainda assim... enfim. 
voltando à tradição do dia que, até é feriado, saí do talho esta manhã e deparei-me com uma criança de mão dada a uma adulta; chamou-me a atenção as collants cinzentas com três riscas coloridas que se cruzavam atrás dos joelhos. na mão levava uma cesta de plástico em forma de abóbora com ar maquiavélico, típico da tradição hallowuinica (esta palavra não deve existir), cheia de guloseimas como manda a nossa tradição deste primeiro de novembro... e eis que surge a minha questão do dia: "então agora substitui-se o tradicional saco de pano por cesto em forma de abóboras de plástico para ir ao pão por Deus?" desculpem-me mas há para aqui uma crise de identidade qualquer!!

esta é a hora

esta é a hora. 
a única que interessa. 
mas é difícil estarmos bem a toda hora. as pessoas não compreendem isso. 
são discursos que mais não são monólogos mudos onde é tudo
muito natural: catástrofes que implodem no próprio umbigo; tempestades apocalípticas capazes de pôr cabelos em pé; tsunamis maléficos que arrasam quaisquer sonhos das mais belas adormecidas. 
todavia, como o voo incerto da cotovia, são lançados olhares frios como a cacimba da madrugada, de estranheza, às sombras que assolam o olhar do outro. não compreendem que na irmandade que nos une seja tão comum o drama na cabeça de cada um, assim, o próximo. não querem nem saber, o que agrava ainda mais o ambiente que nos rodeia. 
fala-se um tanto em obrigações e outro tanto em direitos sem que se perceba que, no final, são resultados de uma relação causa-efeito. não é bizarro? não, parece que não... bizarro é eu ter de estar bem disposta. perdão! bizarro é eu não estar bem disposta!...