sábado, 30 de dezembro de 2017

sumário: ano civil 2017

ando há semanas com frases feitas na minha cabeça para resumir este ano que começou ainda 2016 não tinha terminado.
vi a minha vida dar uma volta de 180 graus duas vezes sem que ficasse como estava antes. e, em silêncio, no silêncio da noite as lágrimas foram moldando a pedra dura que pesava no meu peito. aprendi em 2016 que o politicamente correcto não é sinónimo de caminho fácil, pelo contrário. e a luta que arbitrei foi tão desnecessária: no meu lado emocional era maior a teimosia que a lógica, defendida por quem? pelo lado racional. tão desgastante... porém, há coisas que não se controlam como desejamos.
os dias foram passando. a minha barriga foi crescendo. e o meu mundo não aumentou o degradê de rosa, virou azul. substituí as bandoletes por boinas, os tules por suspensórios, as sabrinas por botas. a primavera deu lugar ao sol quente de verão que teimava em não ceder lugar às chuvas de outono. nasceste. 
primeiro, o deslumbramento.
depois, a certeza que serás meu, sempre só meu.
e então, de seguida, um amor que vai crescendo de dia para dia; que traz com ele a sabedoria tão desejada, a paciência desconhecida, a alegria de quem nunca sorriu e a certeza que o dia mais fácil foi ontem.
como um burro olha para um palácio vi, fascinada, as tuas pestanas surgirem; as tuas sobrancelhas se desenharem; o teu sorriso chamar o meu; e agora cada vocalização é um elo ao meu coração. 
chorei por tudo e por nada e chorei muito e chorei sozinha; também chorei como se não houvesse amanhã. certas noites há, que ainda adormeço, no leito salgado das minhas lágrimas; de manhã, sei, há outro sorriso no teu rosto e a minha memória, tão selectiva desde a gravidez, esquecerá o drama do dia anterior.
não sei que me trará 2018, não quero nem saber. sei que te terei no meu colo por direito de exclusividade trezentos e sessenta e cinco dias e apelo à criança adormecida dentro de mim que venha dizer "olá" porque ela tem uma segunda oportunidade de sorrir!
e espero ter a sensatez de aceitar a mudança seja ela onde for como dizia alguém nada se perde, tudo se transforma!

com os melhores desejos.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

A fome é negra!

-"Tânia... tens fome?"
- "tenho."
-" e o teu bebé??"
-" (...)"
-"ele também tem fome?"
-" hã... sim ele também tem fome..." suspeito que não vai sair daqui coisa boa...
-"Tânia, como é que tu sabes?"
txiiii... e agora??
-"então... porque sei."
-"ele morde-te??"
- "hã????!! não... hummm... " (que desepero! onde raio cai uma criança buscar estas ideias???)
e fui interrompida com:
-"tu tens um cordão na tua barriga, pois é? é por aí que o teu filho come, pois é?"
-"é, é..." respondi meio a medo do que viria a seguir.
-"oh Tânia!..."
-"sim...?"
-"o teu filho gosta de gelado?"
já uma pessoa não pode comer um perna de pau descansada!
-"gosta, gosta!"
-"como é que sabes?"
lá está! o caminho fatídico para o precipício e respondi:
-"porque sei! vocês não gostam de comer gelados? então pronto!... agora vamos para a piscina; daqui a pouco temos de ir embora!"

e lá foram os dois fedelhos, a correr, enquanto eu, no meu passo magestoso de grávida no fim do tempo, fui atrás com um breve desvio à casa de banho antes de ir para a toalha.
o que será que eles me perguntariam às três da manhã?? pelo menos o choro da fome é fácil de identificar, a fome é negra e o sono não perdoa. durmam todos muito bem.

Minion de sentinela

já em casa dos meus pais havia uma regra d'ouro que só por motivos muito, muito excepcionais era quebrada: dormir era com as luzes apagadas. e porquê?? "porque a luz 'tá cara!", era a resposta, alternada, de vez em quando, com a tão bem conhecida: "porque sim!!"
com o pequeno a caminho a regra era para se manter, quais luzes de presença, quais quê! até por que com tanta tecnologia à disposição qualquer luz de ecrã do telemóvel é mais que suficiente. (ou assim devia ser ou assim pensava eu) até que... numa noite abençoada em que sabe-se lá quanto tempo levei a acordar com os beca-becas (onomatopeia longe de ser o mais real possível às vocalizações de um bebê de dias) da criança, lá me levantei para preparar o biberão, lá lho dei, e lá mudei a fralda. 
eis a minha descoberta: o polvo é um animal perfeito e eu ambicionei sê-lo! ao mesmo tempo que com dois tentáculos preparava o leite, com um terceiro dava a chucha para acalmar, com outros dois mudava a fralda e com um outro segurava o bem dito telemóvel. tomem nota que ainda assim me sobravam dois tentáculos! mas o que sou eu? uma insignificante mãe humana com dois braços.
o menino tem cocó. são três da manhã e o nosso melhor amigo são as toalhitas! até que aconteceu o impensável: deixar o cair o telemóvel. onde?? mesmo no meio da cagada! e pronto! era merda por todo o lado! nas pernas da criança que, entretanto, soltaram-se das minhas mãos, e novamente no rabinho, e no ecrã do bendito telemóvel.
na semana seguinte, chegou cá a casa, um substituto à altura do desafio! um minion que para candeeiro tem pouca luz e para luz de presença está bem à frente do seu tempo. o que é certo é que dali em diante as madrugadas continuaram apenas a ser malcheirosas!

p.s.: obrigada Gru!