domingo, 26 de maio de 2019

lugar para voltar

entrei sem bater.
fui recebida como sendo da casa.
em casa me sinto.
da casa saio.
e no coração levo amor e um lugar para voltar.

na soleira da porta fui convidada a entrar.
entro todos os dias com o pensamento e o sentimento da criança que resgato dentro de mim.
hoje tenho comigo a benção da madre, aquela que sempre esteve comigo sem que eu imaginasse a importância que eu tinha para ela.
por hoje estou grata pela partilha.
levanta-se um vento de mudança no horizonte; por ora, vou dormir, sei que as estrelas olham por mim e amanhã vou continuar a estar aqui, penso.

desconstruir crenças

cheguei a meio da travessia.

daqui em diante não será mais fácil, será mais desafiador.

mas até aqui... foi uma experiência megalomana!
tomar consciência de que não preciso de nada do que pensava é, no mínimo, e trinta anos depois, avassalador.
recordo como se já fosse algo com muito, muito tempo, a garra com que eu defendia o materialismo, o palpável, o perceptível. não, não me despi já de pré-conceitos definidos nem me libertei do mundo para me entregar a ele porém, a tomada de consciência de que não é nada disso que faz sentido na minha vida e que o caminho não era, definitivamente, aquele, leva-me a questionar onde estive este tempo todo e que direcção leva a sociedade. que relógio tiquetaqueia-lhe no coração.
que horizonte alcança o olhar que não vê.
aprendi uma nova palavra, nunca usada, nunca sentida, nunca entendida, gratidão.
constatar que devo ser grata por tudo o que tenho nas mãos também levou o seu tempo tão simples de justificar por isto: direitos são mal-entendidos como adquiridos - a minha cama, a comida na minha mesa, o tecto que me abriga e nem mesmo o sol ou a chuva, a noite cheia de estrelas ou o céu desenhado pelas nuvens é meu por direito mas andamos aqui a achar que sim!
também andamos aqui a mencionar muito certas palavras mas também cheguei à conclusão que poucas pessoas têm noção do impacto, do significado, do acto implicado de prosperidade.
eu, por exemplo, só usava esta palavra nos votos soltos na passagem para mais um ano. nunca percebi o que era, nunca senti o seu conceito, era outra palavra clichê que a minha boca pronunciava e os meus dedos escreviam. a intenção era boa mas o sentimento não estava lá.
e pergunta quem lê agora, balelas, balelas e fica tudo igual, não fica porque em toda a certeza afirmo, prosperidade é benção.
atenção, sugiro eu, que sou mais um ser que aqui anda, atenção à palavra dada de forma gratuita, o que vai volta, o bem e o mal andam de mãos dadas, são amigos de uma vida, são irmãos.
grata pela vossa atenção

sábado, 18 de maio de 2019

pedras no caminho

que as pedras no meu caminho
sejam algodão
sejam linho
sejam ninho
sejam carinho
sejam porto
sejam amor.
que as pedras do meu caminho
me mostrem o destino
na palma das mãos traçado,
na mente almejado,
nos sonhos alcançado.
que eu tenho sabedoria na agonia.
que eu saiba chorar de alegria.
que eu tenha uma palavra amiga,
que eu seja criativa.
que cada pedra do meu caminho
segure as mágoas da vida,
as lágrimas das feridas,
os medos da virgem,
os pecados da alcoviteira.
e que eu nunca perca o rumo,
não me desampare na beira
e que, enquanto, durmo
descubro a maneira de ser feliz.

quarta-feira, 15 de maio de 2019

Ninguém dorme

o sangue sobe me à guelra.
o sangue quente.
numa discussão. fria.
a noite vai a meio.
noutra parte qualquer do mundo
já é dia, mentira ou não.
quem te sorri, mente-te.
diz o espelho.
diz o medo.
e desprende-se de mim
um grito surdo
um grito mudo
um esgar cego
um se fim de coisas sem nexo.
e aqui estou eu
a fazer não sei o quê
com o propósito de ser mais além sem resposta a porquês.
Ninguém. está.
Ninguém dorme.

sexta-feira, 3 de maio de 2019

Às vezes

às vezes âncora.
às vezes corrente.
às vezes lancha.
às vezes prancha.
às vezes salto.
às vezes mato.
às vezes choro.
às vezes rio.
às vezes minto.
às vezes não sinto nada
e atiro-me à água como quem sente que a sua vida depende desse acto.