segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

"a wii é uma seca!"




dias antes:
"mori, para o ano, quando já estivermos a viver juntos quero comprar uma wii para nós!"

                                                              ***

"que seca, roupa!" respondeu-nos o puto que não tem mais de seis anos.
quando eu era criança fascinava-me com qualquer brinquedo - próprio da idade ou falta do que brincar. certo era que, como qualquer criança, lá ia pedinchando aos meus pais um peluche aqui, uma boneca ali. nada. era muito raro haver brinquedos nas minhas mãos. os tempos não eram fáceis, nunca soube o que era passar fome nem tão pouco mais ou menos mas também nunca foram tempos de fartura. a casa do meu pai era a casa de um homem de trabalho. e então as minhas brincadeiras passavam desde objectos ao acaso, perdidos no chão passando pelas caniças e até chegar a alguns bonecos. tive alguns claro, não pensem que passei a infância sem brinquedos! os meus pais falam que me deram cinco nenucos. e eu até me lembro deles. lembro-me, principalmente, de os despir: primeiro as peúgas, depois o bibe até ficarem sem mais nada senão o corpo de esponjas e o resto do corpo de borracha destapado. também tive uma barbie ou duas, uma nancy e outros bonecos de pelúcia. quanto aos caniços serviam de burritos entre as pernas desenhando no chão curvas da rama levesinha. e sempre me contentei com pouca coisa. brincava com qualquer coisa. qualquer coisa servia para me distrair.
talvez, por que somos resultado de meio e genes, também não sou da opinião como o meu pai ainda hoje não é ofercer bonecos e brinquedos. roupa sim! livros também! brinquedos até certa idade - dois, três, quatro anos. mais do que isso necessitam de algo que os instrua, que os eduque.
o meu namorado tem um afilhado que, por sua vez, tem um irmão. estes fazem anos em datas próximas e por conseguinte as prendas de aniversário e do natal são a pares e iguais para evitar disputas e ciúmes. se for algum tipo de jogo é meias para os dois. neste caso, em particular, eu e brinquedos somos incompatíveis. os miúdos têm por sua conta um quarto inteirinho cheio de prateleiras preenchidíssimas de bonecos, brinquedos, jogos e sei lá mais o quê! "que seca, roupa! eu queria brinquedos!!" eu até entendo o miúdo; é natal e querem-se coisas que nos encham o olho e alma e a voz para dizer aos amigos eu recebi este e aquele brinquedo mas quando se tem tudo não vale a pena dar mais nada... deram aos miúdos, este natal, uma wii. e ainda não tinha feito vinte e quatro horas já os irmãos andavam às turras por causa... dos jogos no computador. a discussão típica terminou com o mais novo a responder à mãe: "eu quero jogar no computador do mano! (...) a wii é uma seca!!" o que é que me dizia o meu namorado com trinta e cinco anos de vida que teve um computador aos dezoito com o primeiro salário dele?... ah! era mais ou menos isto: "mori, para o ano, quando já estivermos a viver juntos quero comprar uma wii para nós!" mas o puto diz que a wii é uma seca...

virgem

a lua está cheia,
cheia a virgem que dorme no manto escuro da noite.
há-de dar à luz esta noite.
há-de iluminar os céus de inverno.
há-de trazer paz ao mundo.

a lua está cheia, grande, iluminada.
a virgem dorme sossegada no silêncio da noite.
o mundo gira calmo.

e nas voltas que o mundo dá
o mundo inteiro espera a chegada da virgem ao estábulo
o beijo abençoado da estrela
as oferendas ao menino
e as boas-novas cantadas nas janeiras.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

x'mas time

o natal é aquela época do ano que eu dava tudo para nunca a perder ou não, nem sei muito bem. mas é a minha preferida. no natal ando mais calma, mais animada, mais soft, digamos. gosto das ruas iluminadas com os motivos próprios da quadra, da música que se ouve aqui e ali nas ruas de calçada aqui da vila, o cheiro que há no ar por esta altura que se mistura com a chuva nos bocadinhos que vou á rua espreitar o tempo. por estes dias tenho acessos de consciência e preciso deles - torna-me uma pessoa melhor, mais madura ou o que se espera de uma mulher de vinte e três anos; tenho uma melancolia própria da altura pelos entes queridos, pelos sonhos perdidos, pelos projectos esquecidos. não sou nem mais nem menos solidária que o resto do ano todo mas sinto-me de uma forma muito particular que não me sinto, por exemplo, no meu aniversário. quando o reveillon se apoxima o espírito é outro mas isso conto da próxima. aqui descobri o melhor postal de natal de sempre. divertiu-me imenso a idéia e é este que desejo a todos os que me seguem, conhecendo-me ou não, que opinam a minha escrita, que me dão idéias, sugestões  e estão sempre ligados de alguma forma. o blogue foi das melhores coisas a que aderi, a minha poesia sofreu um bocadinho com o impacto desta novidade, já há meses que não ponho a vista em cima, aquela sebenta de capa negra, linhas azuis. tenho já uns seis ou sete, salvo erro cadernitos desses que me acompanham desde os meus dez anos, é estranho esta pausa agora. mas eu sou como os poetas das cantigas do século XIV - preciso do sofrimento daquela amor fatal ou daquela tesão nos amantes para escrever desmesuradamente. mas eu estou bem - já sou uma mulherzinha - desvio os meus insntintos mais primários para outras vias que não a escrita. e então aqui deixo um beijo e muitas felicitações:
M: que me semeou uma vontade irresístivel de ter um blogue meu também, que me faz rir, que está sempre aqui para mim. feliz natal primo!
Mário Rodrigues: o que eu gosto dos teus textos! a forma como escreves, e dos teus comentários mais inesperados aos meus! um natal cheio de coisas boas!
Márcio: amigo que encontrei por estas bandas, que nos falamos sempre que possível, obrigada por tudo. desejo-te um 2011 cheio de aventuras na blogosfera. espero um dia conhecer a Mia. sê fiel a ti mesmo.

a todos os outros que me incutem a escrever, bloguistas ou não um bem-haja a todos. feliz natal 2010

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

oix/sms/msg/tlm/td/ok...

eu sou do tempo que ainda não havia telemóveis. quando precisava de telefonar aos meus pais ia até ao café mais próximo e pedia com gentileza e educação ao senhor se me cedia o telefone para ligar lá para casa. se tivesse algumas moedas comigo pagava senão pedia se não me deixava telefonar na mesma que no dia seguinte passaria a telefonar. era assim que funcionava. esta malta mais nova não sabe o que isso é. aos catorze anos tive o meu primeiro telemóvel, um nokia3310, a custo de muito trabalho, muito trabalho mesmo, e muito "oh pai... vá lá..."; "oh pai... vais ver que te vai dar jeito ainda..."; "oh pai..." e  blá, blá, blá... quando o tive, a vinte e quatro de dezembro de 1999, foi uma felicidade imensa havia tariférios imensos, um dos melhores na altura era a vitamina P da vodafone com mensagens para a 91 a 0.04€ cada. isso pedia, mesmo assim, recorrer a abreviaturas, simbolos e invenções. a maior parte do que já há actualmente é fruto de muita imaginação. e palavras como tudo = td; como = cm; também = tb; sempre = smp; vez = x ... é um leque de opções à escolha. se calhar foi por isso que se inventou o novo acrodo ortográfico - para que toda a gente aprenda a escrever e a falar correctamente. enfim! quando surgiram as primeiras imagens ainda muito primárias e depois as de cor lembro-me de pensar, no meio do barulho da camioneta velha com a gritaria dos putos nos bancos lá detrás, que não tarda nada iria haver fotos e imagens reais. e assim aconteceu.
no meu último post tive um comentário de um anónimo. e deve ser alguém novo, que ainda escreve muitas mensagens = sms/msg; percebe-se pelas abreviaturas em texto fora do ecrã do telemóvel. estou curiosa de saber quem é. quem és tu? é que eu sou muito curiosa e gosto muito de comentários e daqueles assinados também. vá revela-te lá!

leprechauns

falava eu com a são sobre coisas banais como os tesouros escondidos atrás de um arco-íris quando a minha memória foi invadida por uma recordação, já esquecida à muito, pensava eu! o arco-íris e seus tesouros recordaram-me , imaginem, uns maravilhosos cereais que comia deliciada em garota não tinha mais que seis ou sete anos. eram uns cereais de aveia e marshmallows, doces, muito doces, de várias cores e formas com sabores diversos e respectivos. lembro-me que na capa de  cartão havia um homenzinho vestido de verde, de chapéu alto e da mesma cor que o fato, um cinto grande e preto, sapatos pretos com fivelas, era ruivo acho eu. havia um pote de ouro algures também e muitos cereais por trás dele sob um arco-íris de cores lindas e suaves. havia formas como corações, estrelas, e outros formas que nunca distingui.
invadi o google. fiz uma pesquisa intensa e até liguei à minha mãe, ela recorda-se de qualquer coisa mas não sabe o nome, só que começava por ch, fora isso nada feito. teimosa como não sou, não desisti. cliquei nessa imagem primeira que me enredou por outras vias que não as esperadas: caminhos curiosos, curiosa como sou, até resultou muito bem. apresento-vos o leprechaun e trata-se de um tipo de gnomo ou duende de nacionalidade e foclore irlandeses, de profissão sapateiro, tinha na mão ora um martelo para concertar os sapatinhos das fadas, a bengala e/ou um cachimbo de ervas - deve dar jeito para ver sempre tudo tão colorido. ah! são os tais guardiões de tesouros escondidos atrás do arco-íris. há uns que têm uma aparência mais simpática - que é como eu me lembro dele, talvez por causa das crianças - mas a maioria tem um ar assutador pois não gostam de humanos, têm personalidades fortes.
entretanto pelo que li fiz a ligação entre os leprechauns e os potes de ouro e, a meu ver, são o trevo de quatro de folhas, o amuleto da sorte, pois são eles que nos levam aos potes de ouro ou a um da meia dúzia que têm e vai daí encontrei a caixa mais verosímil com a imagem que a minha mente gravou:
claro... está um pouco diferente das características que vos falei acima mas em miudos tudo nos parece ser de uma maneira muito peculiar que o acumular dos  anos vai enevoando. não sei se chegaram a provar mas era muito bons e depois havia uns que eram mais doces que outros e outros mais giros e passava aquela hora do pequeno-almoço a escolher os melhores e na hora do lanche a assaltar a embalagem para comer aqueles de que mais gostava!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

moedas dos escudos

"não tens luvas? já viste como as tens as tuas mãos?! tão geladas?" ... em segundos antes de a responder a minha memória viajou no tempo. via-me no caminho para a escola, encasacada, cheia de camisolas, de mochila às costas até à paragem do autocarro. um caminho sem casas entre as duas localidades onde o mais que se via era a vegetação tapada com um manto de geada que a noite cobriu. o frio às sete horas matinais é de cortar, o calor da respiração não aquece o ar e a ponta do nariz é escarlate, a voz falha. as mãos geladas como o gelo quebradiço da arca frigorífica lá de casa tinham um tom arroxeado. numa das mãos levava uma moeda de cinquenta escudos ou de vinte; era a maior que tinha no bolso. quanto maior fosse mais aquecia embora houvesse dias em que aquecia a moeda e mão continuava geladíssima. agarrava-a com muito cuidado para não perdê-la e durante minutos que chegasse até a mão alternar a cor da pele e de roxo passar a vermelho até simplesmente ficar rosácea como as rosas do jardim da minha mãe. quando chegava à paragem já as mãos não estavam tão frias, era sempre a primeira a marcar presença, e só mesmo a ponta do nariz não resisita a tanto frio invernoso.
"não gosto de luvas. as fibras causam-me arrepios esquisitos! hei-de experimentar aquelas de pêlos fofinhos por dentro como as da serra da estrela."

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

paixões por playboys

há quem afirme por aí que as coincidências não existem. eu acredito que as coisas acontecem quando têm que acontecer e têm um porquê mas dou na mesma uma abébia  por que há sempre alguma coisa inexplicável. no outro dia falava-se de escolhas de  vida e de ideais. o assunto girava em torno da história de uma amiga cuja paixão da sua vida não passa de um playboy  que já deu frutos, um lindo menino de vinte e três meses. nunca gostei dele, nunca fui à pala com ele, aliás, antes de o conhecer já não simpatizava nada com a criatura pois todos os dias a minha amiga vinha junto de mim chorosa contar uma nova partida. e aquilo tudo foi-se acumulando. na noite em que me foi apresentado por ela gostei ainda menos, sexto sentido, sei lá. soube, aí à dias, a razão de um part-time, quando ela tem estabelecimento por conta própria e soube ainda que, mais não foi, uma chapada na cara já levou. e eu fiquei de queixo caído, a enrubescer de raiva e incredibilidade do que acabara de saber. à muito tempo que deixei de estar presente a cem por cento na vida dela. ela fez as escolhas dela e embora nos falemos muito bem afastámo-nos um bocado por causa disso. nunca quis acreditar que tal acontecesse. falou-se depois no geral. no que acontece nos dias de hoje. e alguém referiu que acreditava piamente que actualmente há mais violência que no tempo dos nossos avós. perdeu-se muito o respeito tanto da parte do homem quanto da mulher. já ouvi respostas bruscas vindas do nada, sabe-se lá porquê e de ambas as  partes. por favor, sociedade, roupa suja lava-se em casa!
mas aparte disso eu pergunto onde está o amor-próprio de uma mulher por si mesma que se deixa ficar à primeira estalada, à segunda, às seguintes?! não devemos dizer nunca nem hoje ou amanhã e não também é uma palavra ambígua e pouco amiga. hoje sou uma mulher feliz ao lado do homem a quem faço juras de amor e promessas de respeito e carinho como as noivas de branco, ao altar, de véu na cara. em tempos amei muito um homem que em duas semanas mudou dramaticalmente e quis dar um tempo sem quês nem porquês. tirei a aliança de ouro do dedo naquela hora, arrumei as minhas coisas, saí porta fora. nunca mais dirigimos palavra um ao outro. saí do restaurante já anoitecia e encontrei o joão no parque de estacionamento à minha espera para irmos confirmar a encomenda do último móvel. bebemos um café em seguida e já sentada, de chávena de café segura por uma das mãos levantei os olhos e vi por atrás do joão. entrou no café central, assim se chama, o meu ex com o filho dele ao colo, a enteada e a actual mulher pelo café adentro. por ironia do destino ou não aquilo estava atolado de gente, barulhento, movimentado e  a única mesa que vagou da dezena que o estabelecimento tem foi precisamente a do nosso lado. ri-me daquilo. ele não procurou os meus olhos e eu não lhos dei a ver mas sim, provoquei uns momentinhos de risota com o meu namorado para que ele tivesse em conscinência a péssima atitude que teve quando quis dar um tempo. nem sei que coisa é essa do tempo, cá comigo ou chove ou faz sol. quando soube que nem oito dias eram feitos do rompimento da relação já o senhor andava por aí com qualquer por que o tempo livre era muito jurei a mim mesma que jamais aquele homem me voltaria a tocar.

há coisas que não são para ser mas deve haver sempre um respeito pela outra pessoa - uma relação faz-se a dois, nunca só um decide o que quer que seja.

eu gosto muito dessa minha amiga e eu sei que ela também gosta muito de mim mas a vida tem destas coisas e pronto o tempo não corre por que a pilha acaba. o ano novo vai entrar e os meus desejos são que as mulheres se amem mais. se estimem mais. que sejam mais brandas as que são já ousadas. que as mais calmas se tornem destemidas. que ela tenha sorte sempre na vida. e no céu haja uma boa estrela para ela. e para todos nós também.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

tennis

os meus ténis são azuis, de marca - columbia, confortáveis, foram caros. estão a estragar-se. alguma coisa prendeu no meu téni direito e não tarda nada tenho que olhar bem para o fundo da minha carteira para ver se há lá alguns trocos para outros quer sejam de marca ou não - ligo pouco a essas coisas! e esta meditação deu nalguma coisa. no quê? ora bem... coisa boa só podia ser! eu gosto tanto destes ténis quanto uns que tive em garota bué da loucos. coloridos. mesmo muito coloridos. o meu pai comprou-mos numa feira qualquer daquelas de muita gritaria, muitas barracas, e outras sem pano pendurado, com a mercadoria disposta em cima de um pano qualquer que estava à mão. naquele amontoado de pares perdidos, sim perdidos, parece estranho haver pares ausentes mas era mesmo assim, quem vai ou já foi à feira sabe bem do que falo mesmo que nunca tenha comprado nada, quem nunca foi aquilo funciona mais ou menos assim: está o cigano a fumar, a cigana a berrar o preço baixo no megafone, o ciganito a correr, a ciganita a dormir, e o/a recém-nascido/a a chorar. no meio daquela confusãosita há um pano estendido no chão onde é espalhada a mercadoria, que neste caso em particular, tratava-se de ténis. "ai v'zinho! compra qu'é bom!! na encontras produto melhor e com este preço... ai!!..." segue-se a pergunta do "quanto custa?" e toca a menina tania a experimentar aquele e o outro par, ora o esquerdo, depois o direito (por que é só para experimentar não vale a pena procurar o do pé que já está descalço). gostei de uns, dos tais que eram coloridos, e o pai perguntou-me como é que eu me sentia. já não me lembro do preço mas deve ter sido convicente o bastante por que mal ouviu-me dizer que até estavam justos. o cigano, que ouviu e muito bem, "ai... qu'isso depois alargaaaa!" alargada era o tom de voz dele! naquela época uma bagatela era quinhentos merréis; com mil paus já se encontravam os ténisinhos jeitosos portanto o mais certo deve ter sido esse o preço. bem... os ténis até eram engraçados, rijos, lembro-me que eram duros mas muito engraçados. fartava-me de rir por causa deles. eram de atacadores brancos, do lado de fora azuis, à frente vermelhos, atrás aamrelos, e por dentro verdes. "oh menina!!!, gritava às sete e pouco da manhã uma velha codrilheira à beira do portão velho de ferro, de tinta lascada, tens os ténis trocados!" ao que eu, com a resposta pronta na ponta da língua, "não tenho, não!! são mesmo assim oh!..." e rodava os pés para se verem as cores todas  ao mesmo tempo. e foi a minha aventura até os meus pés reclamarem o espaço apertado. mas o que eu gostava daqueles ténis da feira... na google não encontrei nada igual só os coloridos da nike - que eu não sei quem os calçará, talvez o mesmo tipo de pessoa que eu era aos sete ou oito anos de idade... não sei o que é que a minha mãe terá feito, provavelmente, tê-los-á deitado fora. bem, o que é certo, é que eu gostei deles, e muito, e que já não me lembrava deles não fosse o meu namorado me ter feito reparo ao preço que gastei pelos ténis de marca, que estão agora estragados.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

pessoas... donde as conhecemos?

as pessoas conhecem-nos através do quê? do local de trabalho? de sorriso simpático? do nome? da família?

aí à coisa de uns cinco anos, talvez, fui passar o revéillon com uma amiga e um grupo de rapazes com quem saía regularmente naqueles tempos. no dia 01 janeiro convidaram-me a lá ir almoçar e não esperei a recepção do avô dessa minha amiga de longa data. "olha uma marçalinazinha!" por todo o lado há pessoas alcunhadas, outras dão-se pelo nome da família. a parte do meu avô paterno era marcelino, a da avó belizária. tenho uma prima que é tal e qual o feitiosinho dessa avó, deus tenha a sua alma em descanso. eu não tenho traços do avô. tenho os olhos azuis da avó. e acho que uma costela de mau feitio também. o meu pai, segundo as histórias, parece-se muito com ela. e com o avô dele, meu bisavô, que eu não conheci. a minha avó era uma fraca figura, sempre vestida à velha, com roupas que tinham tantos anos quanto ela, de cabelo fino, branco, seco, e apanhado em pitó. a recordação mais fincada que tenho dela são as garrafas do tintol escondidas na arca frigorífica, debaixo de umas sacas de rede e outras de ráfia. o portão vermelho era a casa do manel. era sempre o manel para mim. o homem velho, que já o conheci velho. gordo. de bengala na mão, sorriso enternecedor. a minha avó deve ter sido uma pessoa arisca, tinha muito cara disso! ao sótão, pelas escadas que só pude subir uma vez, as escadas caiadas, largas, robustas, polidas do vento e da chuva. sujas do mau tempo, do pó primaveril, as teias de aranhas no meio das pétalas das flores em vasos, sujos da terra fértil que as alimentava. o sótão era escuro e havia roupas ainda mais velhas que ela. é só do que me lembro, nunca mais lá fui, nunca mais lá irei. um dia aquilo é vendido. deitado abaixo e nunca lá descobri tesouros. o avô era uma paz de alma. não o era em novo segundo o meu pai, que ele morria de ciúmes da velha mas quando foi para a velhice não perdoava as meninas auxiliares do lar. olho-me ao espelho e vejo um rosto redondo. um olhão azul, tenho os olhos grandes, sempre tive, engraçado, eu pensava, em tempos de artes, que era eu que não dava conta do recado e traçava mal as linhas do meu rosto. mas hoje, de facto, deparo-me com isto: eu tenho mesmo os olhos grandes. não são demasiado. mas são olhos grandes. bem.. eu cá segredo convosco que tenho uma costela afinada. e um coração d'oiro como a minha mãe. da minha mãe, tenho o grupo sanguíneo. e desconfio que umas costelas desconhecidas. depois no dia-a-dia... conhecem-me do meu local de trabalho, sou a menina que trabalha no dentista ou no restaurante (à meia dúzia de anos que deixei de ser a filha de fulano). outros conhecem-me dos sítios do costume. sou uma pessoa de hábitos e costumes muito fortes. só gosto daquele café, daquela livraria daquele shopping, daquela sapataria, daquele bancário naquela surcusal, daquela ourivesaria, daquela perfumaria... e por aí adiante. não gosto de caras novas. não gosto de mudanças. gosto das coisas habituais. conhecem-me pelo sorriso, ou melhor, pela gargalhada. pelas idéias mais loucas - que piada tem uma idéia simples senão a complicarmos um pouco?! conhecem-me pela forma como me visto. e muitos sabem que eu não gosto de cabeleireiras. que adoro livros. mais do que gosto de roupa e saltos altos. que tenho um blogue sem alguma vez me terem visto sequer. que gosto de pagode. e pelo tamanho, sim também conta, no meu caso, que tenho um modesto metro e meio. há quem me tome pela pinta sem alguma vez me ter cruzado com aquela pessoa. a minha mãe sabe sempre quando fiz alguma asneira ou quando vou dizer um disparate. o meu pai não me conhece como pessoa. tenho professores que ainda hoje me falam muito bem e colegas que viram a cara vá-se lá saber o porquê. acredito na influência dos nomes que escolhem quando ainda somos bebés. não acredito nos signos das revistas mas acredito na ciência. eu conheço pessoas de todos os lados e depois quando os vejo onde não os conheci não os reconheço e fico muito embaraçada e pergunto pela família e tal e tal e sigo caminho até me fazer um flash na memória. e vocês? conhecem-me pelo quê?!

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

natal 2010

era eu miúda e a chegada da época natalíca era sinónimo de luzes por todo o lado, muitas cores, muito barulho de papel de embrulho amachucado, bolas de todos os tipos. a minha árvore de natal foi, durante muitos anos, um pinheirinho verdadeiro a quem cantava "pinheirinho de natal" enquanto o decorava com aquelas fitas de cores garridas das quais agora são feitos os pinheiros falsos que se vêm à venda em cores tão garridas quanto aquelas fitas à vinte anos atrás. as bolas tinham figurinhas ilustradas - o pai natal a acartar as prendas, os meninos à volta da lareira, as renas, os presentes com grandes laços... salas cheias de cor e amor... as botinhas. também já haviam bolas prateadas, espelhadas, outras vermelhas, douradas... e umas outras cheias de brilhantes! depois punham-se as luzes. e entre as picadas afiadas da rama do pinheirinho e as das próprias luzes que entre umas quantas e outras mais eram flores e as arestas eram demasiado definidas até para espinhos lá se enfeitava a árvore de natal - o grande acontecimento do ano! algures nas caixas de papelão, de anos e anos a fio, havia sempre o meu pai natal articulado, vestido num fato vermelho muito vermelhos, as botas pretas muito pretas, as bochechas rosadas muito rosadas e uma barba de algodão maravilhosa. todos os dias mexia-lhe nos braços e nas pernas. a minha mãe gostava de colá-lo num dos vidros da porta da cozinha e eu gostava de o ter ali de costas viradas para a mesa à espera da meia noite da consoada para ver pai e filha num sprint da cozinha à outra ponta do corredor até à àrvore para desempacutar os presentes. havia algures os bonecos de neve desenhados em qualquer lado. árvores de natal cheias de bicos com bolas suspensas de todos os tipos. ah! e sinos! ouvia-se muito o jingle bells e aquelas outras músicas natalícias que agora todos os anos são desculpa para se fazerem cd's de música natalícia tradicional - como se se andasse todos os anos a inventar músicas de natal que prometessem prosperidade. mas havia uma música em especial... que era ironicamente badalada entre a miudagem... como era?! ah! encontrei. é assim: "Jingle Bells/Jingle Bells/Já não há papel!/Não faz mal/Não faz mal/Limpa com jornal!/O jornal tá caro/Caro para chuchu!.../Já me dói o dedo/De Limpar o .../Jingle bells..." ah ah!!! muito bom! e até eu ser crescidinha o pai natal era uma figura muito paternal, as renas muito próprias à diversão, os sinos, ainda que só delineados, eram uma alusão perfeita a sinfonias! belas orquestradas! durante muitos anos a tradição fora cumprida. no dia em que a minha mãe resolveu resignar-se contra aqueles pinheirinhos de natal que nem tinham eira nem beira foi uma dor de barriga para o meu pai, muito pano para mangas.
ah! mas hoje em dia já não é nada assim! os tempos são outros! hoje em dia as músicas de natal começam a cantar nas ruas ao dia 01.dezembro e a mascote de natal é a popota. a popota?! ah e a leopoldina. a leopoldina?! mas o que tem a ver um hipopótamo e uma ave a ver com o natal? a popota então este ano regressou com uma força que começa nas gatas assanhadas e zaping! lady gaga zaping! britney speares! a leopoldina (ainda é parecida com um perú mas como eu não como peru no natal por que gosto de comer é bacalhau...) anda o ano inteiro no ginásio para agora estar em melhor forma que a angelina jolie no tomb raider!! as ruas estão vazias de luz para o que é habitual a esta altura do ano. a crise não permite decorações extravangantes e por aqui, pelo andar da carruagem, nem esta semana nem nas próximas três. por mim, tudo bem! sempre fui contra a decoração de natal no meio da água-pé e das castanhas do são martinho. coitado do senhor! ser assim passado para trás! mas quem não gosta de ver as ruelas de portugal enfeitadas agora? mas é sim... os tempos são outros. agora são tempos de leopoldinas e popotas. " - ai popota!" e o pai natal?