terça-feira, 30 de novembro de 2010

quando os opostos se atraem

das situações mais insólitas em que já me vi esta foi igualmente divertida. a bela da tecnologia ajuda em muita coisa e muitas das vezes nem se dá conta disso. imaginem que vão ao dentista. sim já sei! metade de vocês dirá: "txiii epá há tanto tempo que não vou ao dentista... tenho de lá ir!"; outra metade: "rrrrr!!!". pois eu já sabia... bem, este dentista que eu conheço tem uma cadeira muito gira, ela sobe, ela desce, ela inclina para trás, para a frente... e tem televisão. tem os quatro canais nacionais e perto de uns quarenta à escolha do freguês - mentira! está no canal à vontade de quem lá está um dia inteiro. esta manhã, para não variar, estava a ver legends rock top 10 na VH1 quando entra uma irmã. não é minha nem de ninguém mas de toda a gente. é freira. as freiras também dentes. aquela tem poucos mas tem. velhinha, de véu comprido e preto, traje castanho, corda branca com aqueles nós próprios, óculos-fundo-de-garrafa. no oitavo lugar do top 10 das lendas do rock estava van halen com o tema panama. sim, sim... os van halen. não sou grande fã deles mas gosto do som das guitarras.
o mais cómico nisto é que nos três minutos e quarenta e três segundos do video clip o que se vê são malucos aos pulos, de um lado para o outro, a correr no palco aos gritos. transpirando segundas intenções, apelando aos sentidos mais pecaminosos! "Don't you know she's coming home with me/You'll lose her in the turn (...)" e a velhinha religiosa que nunca provou a mais apetecível maçã, pensamos todos mas há sempre um mas, olhava o que diziam e não percebia nada daquilo por que nem falavam português ou latim, pensamos todos mas há sempre um mas. e eles continuavam aos pulos, agitando o público cheio de vazios púdicos, exaltando os calores tropicais de panamá e dos voos escaldantes que sobrevoam os céus. "I can barely see the road from the heat comin' off of it/You reach down, between my legs (...)" eela sosegada cheia de regras e normas, de respeitos e tabus. então como se sente? 'tá tudo bem? perguntava o dentista de óculos sobre o nariz simpático. então não haveria de estar sr doutor?! cantarolando vou saindo do gabinete terminando a quadra "(...) Ease the seat back!..."
a irmã lá saiu satisfeita do dentinho estar mais composto, concerteza terá ido rezar umas novenas ou não! eu vou namorar e vocês desfrutem de van halen!



será que ela não percebia mesmo nada do que eles diziam?! e por baixo do traje? será que não andava por lá uma tangasita de renda? deus nosso senhor me perdoe!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

estranho estrangeiro

as   situações   mais   marcantes  de  uma criança são criações  das suas crenças   enquanto   individuos   e   consequentemente   serão    o    resultado  na  sua  maioridade.

das  crenças  infantis,  as minhas,  mais fortes que tenho desde garotinha são a má imagem e o que reportavam os dentes d´ouro. para mim só quem tinha aquilo eram os maus da fita, as bruxas e outros quaisquer. e sempre tive medo de quem os usasse. por mim estava sempre tudo  bem desde que não visse. até podiam ter a boca cheia de coroas desse metal desde que os da frente, pelo menos, fossem minimamente semelhantes aos originais.
a primeira situação que me marcou era ainda menina; estava sentada na mesma mesa com um senhor - português - que além do bigode farfalhudo e dos gestos saloios exibia com grande orgulho o seu dente de ouro. quanto  mais  olhava para ele melhor via aquele dente amarelo  reluzente  e  mais  ouro  me  parecia  logo  mais  horrorizada  ficava.  era  das  coisas  mais  aterrorizantes.  ele  tem  um dente  d´ouro,  dizia  eu  aos  meus  pais.
mais tarde, já eu era aquilo que os velhinhos têm a mania de chamar, uma mulherzinha, confrontei-me com outra situação que me deixou exactamente no mesmo estado instável e desconfortável. foi  num  dia  a  caminho  da  terra  vizinha para apanhar a caminete-carrera  para a escola, por volta das sete e meia da manhã em que, sem dar conta, apareceu  à  minha frente  um  homem,  do leste,  dos primeiros  que haviam  aparecido na zona,  nunca lhe ouvia palavra até àquele dia fatídico quando o  vi a rir de sorriso amarelo,  do ouro. o homem tinha um ou dois dentes logo à frente em ouro!!   o  resto   do   dia   fiquei   a   martirizar   aquela   imagem   horrorosa. mais  que não  fosse  também por  causa do susto que apanhei.

***

eu sou uma pessoa tímida. não gosto de estranhos. não gosto de estranhos estrangeiros. temos um pré-conceito formado de tudo quanto nos é desconhecido. e a minha timidez não me permite mais que um sorriso amarelo, daqueles de simpatia mínima e indispensável. mas saliento: não sou racista nem xenófoba nem homofóbica ou qualquer outra coisa discriminatória!
ontem à noite fui fazer o primeiro jantar de natal, deste ano, de uma associação de empresários do comércio tradicional de uma pequena cidade aqui ao pé. saí tarde. tardíssimo para quem tem de se levantar às sete e pouco da manhã no dia seguinte. mas ainda assim antes de ir para casa convidei a colega a ir beber um café ou qualquer coisa ali ao pé. sim senhora, lá fomos nós.
abençoado ângulo ocular! permite-nos visualizar o que está atrás de quem conversamos, do lado direito, do lado esquerdo... entrámos e pedimos dois chocolates quentes. o dela com leite, o meu com água. e sentámos numa mesa junto do aquário. na mesa ao lado e ligeiramente à frente da nossa reparei nuns quatro ou seis homens do leste, não sei se eram quatro ou seis por que as mesas desse bar são rectangulares; eles eram alguns - além de que, às duas e pouco da manhã o cansaço já nos tolda a vista e a paciência. enquanto conversávamos reparei mas sem dar a grande valor a isso que olhavam para nós inúmeras vezes. mas... como há homens que nunca viram uma mulher ou parecem nunca ter visto... não se pode valorizar estas coisas. e como são estranhos estrangeiros... acho que a curiosidade deles é facilmente atiçada.
a dada altura vi um deles levantar-se. e vi os colegas a rirem-se. vi o fulano pegar numa revista e viu-o dirigir-se à nossa mesa. sempre olhando para ela e dando atenção ao que me dizia: "...e depois ele como não gostou do que eu lhe disse nunca mais me chamou para..." e interrompeu-nos. "discu'pa minina, você faz o que quiser. si quiser guardare guarda ou rasga revista, num interessa! ispero qui goste!". faltavam-lhe os dentes da frente. dois ou três, acho eu. aparentava os seus trinta e muitos anos gastos, pouco cabelo e esgadelhado, olhos azuis ou cinzentos, roupas baratas, velhas, sem graça... aspecto de quem vem de outro país, de outra cultura, de outro mundo. fiquei sem jeito. a revista estava aberta no meio publicitando uma das belas maravilhas: os açores. e sob uma das colinas estava um desenho feito a esferográfica azul. retrato de uma menina de olhos grandes, rabo de cavalo, encasacada, sem pormenores na camisola. era um retrato meu. percebi assim que ele pousou a revista. sorri. disse-lhe "'tá bem!" num tom seco e distancial. fiquei sem jeito. atrapalhada. devo ter corado. apeteceu-me rir da situação, no bom sentido, sempre que fico sem jeito rio-me, é a melhor maneira de lidar com uma situação constrangedora. ainda deixei escapar um sorriso mas não olhei mais para o grupo, envergonhada como estava... aos poucos, um a um, foi saindo e ainda vi o autor do desenho a dizer adeus bracejando a toda a velocidade como se estivéssemos a quilómetros de distância e uma relação fortíssima. nem sequer olhei. quando vi as horas já eram duas horas e trinta e três minutos. "tenho de me ir embora, desculpa querida." ela pagou os chocolates quentes e saímos. antes de sair ainda tive oportunidade de dizer à dona do bar para que ela me guardasse a revista até à semana seguinte que lá passarei a buscar para ficar com o retrato do não-sei-das-quantas, estranho estrangeiro. agora, entre nós, eu até gostei do desenho, observei as linhas, os traços, a figura. a senhora comentou a graça. agradecemos e saímos.



p.s.: semana que vem posto a foto do desenho caso a senhora cumpra a promessa de guardar/conservar a revista até lá.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

candeeiros de sala

nunca pensei que fosse tão difícil escolher candeeiros! cruzes, credo!! chiça!... as meias voltas ao mundo que já dei e nada agrada.
pressuponho que um candeeiro de sala  além de iluminar o espaço crie uma atmosfera, ambiente, ajude ao calor humano, às relações intra-pessoais. que enquadre no tema decorativo, que seja a cara de quem o comprou, não literalmente esclareço, e  depois, claro está,  tem de ser um candeeiro que fique bem com carteira que o escolhe. fiz uma lista dos pormenores a ter em atenção durante a compra:

1º - o joão não quer nada de halogéneo
2º - eu dou importância ao aspecto, tem de ser bonito.
3º - a sala é rectangular com a área merecedora de dois mas a mesa de jantar põe em causa a virtude do candeeiro - se ela existe está no meio e não há possibilidade de ficar mesmo por baixo por que esta fica em frente à porta da sala.
4º - não podem ser daqueles que ficam bem compridos desde o tecto até a meio por que o tecto é baixo
5º - damos preferência a candeeiros sem formas rectas. eu gosto deles "desalinhados"

deve haver mais uns quantos pontos mas para já exemplificam o meu drama e como estou a resolvê-lo. na verdade, já encontrámos uns engraçados mas caros, caros, caríssimos! "caríssimos irmãos",  diria alguém,  notificando qualquer coisa de carácter religioso. ah! ah! de uma bela benção é o que eu preciso tanto na bolsa quanto no descobrimento de algo excepcional, maravilhoso, enquadrado na minha sala, perfeito! assim como o da imagem: simples, belo, luminoso! mas sem ser de halogéneo!

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

bella lullaby

fecho os olhos e deixo-me a sonhar... sinto no corpo aqueles vestidos leves, brancos, dançantes a beijarem-me o corpo, dançando com as curvas do me corpo. fecho os olhos e sinto uma nova vida dentro de mim, uma invasão de ternura e paixão. e na-na-na-na-ana... na-na-na-na... na-na-na-na... e no ar os meus dedos indicadores ousam bailar no ar, desenham curvas de ordem como os dos maestros ao longo de uma melodia fina, calma, simples...

***

eu não sei tocar piano, uma pena, uma lástima... há algo naquelas teclas que me toca de uma forma muito peculiar. é de uma excentricidade única. apaixonante.

***

são para mim, os dedos de um pianista, Aquele que me toca a alma...




p.s.: não consegui publicar o link mas pesquisem no youtube bella lullaby

sábado, 20 de novembro de 2010

doll troll

aos fins de semana mudo de casa, de residência, de vida, de estatuto, de terra. nunca de personalidade. sempre que chegam os belos finais de dia  das sextas-feiras das cinquenta e duas semanas do ano mudo de vida. migro do concelho que me viu crescer, que conhece a minha personalidade, que sabe a minha identidade, donde são originárias as minhas raízes e migro para a terra que de longe em longe me ouvia as passadas na ribeira, junto às docas, ouvia a minha voz de criança misturada no murmúrio do mar e via o reflexo da cara de menina - que ainda hoje tenho - estampado nas águas calmas do porto onde uma gaivota mais gulosa interrompia a calmaria que banhava os barcos de âncoras alojadas metros abaixo. a casa está como quem gosta de ver um copo: meio cheio ou meio vazio. para mim está meia cheia. aos poucos se vai enchendo de tudo um pouco. todavia, sem electrodomésticos à excepção do aspirador que por motivos que não interessam nada é tudo menos silêncio como o de gato cuja única semelhança em particular é a cor, nada posso ter a fins de conserva diária de modo que o pequeno-almoço é como o dos ricos - fora de casa. são dois dias a tomar o pequeno-almoço no café. o joão gosta de ir a um perto da casa dos pais, já eu, confesso, gostei mais de lá ir. sou daquelas pessoas que não gosta de confusões e barulhos fortes pela manhã. gosto de uma manhã tranquila. quanto mais tranquila for, melhor o meu despertar e, por conseguinte, melhor, muito melhor até, o meu humor e a sua duração ao longo do dia. não é o caso na maioria das vezes, que, vá se lá saber agora, faço das tripas o coração para ignorar os gritos das criancinhas, das mulheres histéricas alvoraçadas, da televisão aos berros e os gritos das pessoas ao balcão para pagar. fora a refeição que nunca me satisfaz de todo. gosto do comer da terra que me viu crescer e tornar mulher. aqui a comida não tem o mesmo sabor.
hoje, para me abstrair daquela poluição sonora num espaço tão pequeno, de tão poucos metros quadrados, olhei para a vitrina e, mais do que noutro dia qualquer, reparei em cada chincalharia à venda: bonecos com gomas, chocolates de todas as marcas, brindes, guloseimas, sugos, chocolates, brinquedos... enfim! uma diversidade que até eu, que já sou uma mulherzinha, tive dificuldades em, hipotéticamente, escolher uma coisa só que fosse. sorri. achei piada aquilo tudo e imaginei-me criança outra vez. recordei o fascínio que é para uma criança aquele mundo mesmo ali à mão de apanhar e satisfazer. não é comum, pelo menos aqui por estas bandas, tanta coisa assim à venda. a última vez que vi algo assim era ainda muito novinha, não devia ter mais que os meus seis anos talvez se tanto ou pouco mais. na terra natal do meu pai, cuja natalidade é mínima e a velhice abunda em cada esquina, havia e ainda há um café com direito a sala de jogos, mercearia, w.c senhora e homens separado, e mais qualquer coisa que eu visualizo na minha mente mas que não indetifico o que seja. um balcão enorme tanto em comprimento quanto em largura, albergava por todo o lado coisas do género. entre garrafas de aguardente e vinho tinto caseiro, copos-penalty e garrafas de cerveja de litro, num fundo de azulejos verdes-enjoados contrastando o chão de mosaico branco-sujo serampitado, havia muitos chocolates desde os mais antigos como o chapéu-de-chuva da regina até às pintarolas. (comi centenas de pintarolas... nem sei como não enjoei). ir aquele café calhava quando o rei fazia anos. e talvez por isso poucos sejam os pormenores que me escapem, claro não ponho de parte a realidade, mas em tantos anos, muita coisa muda... tanta coisa mudou desde aí... ainda me lembro do cheiro... confundia-se o cheiro da mercearia com o da taberna mas estava sempre tudo muito asseado. mesas e cadeiras várias dispostas por toda a área. eram frias. desconfortáveis. típicas de um café antigo. havia fitas de plástico à porta para espantar as moscas. os homens jogavam às cartas sempre naquele canto à direita quando se entrava e as mulheres sentavam-se quase sempre na esquerda conversando umas com as outras.  mas hoje... hoje, quando me lembrei desse café não foi pela apresentação do estabelecimento. foi por causa das guloseimas. na minha infância apareceu este boneco que fez um furor imenso e que eu me cansei de o procurar na google. já não me lembro o porquê mas sei que adorava aquele cabelo fino, esgadelhado, de cores estranhas para um boneco - mal sabia eu que seria moda nas senhoras anos mais à frente. eu lembro-me bem do de cabelo verde. havia noutras cores mas não sei se havia algum significado específico. sei apenas, e por curiosidade partilho isto também, que a origem destes bconecos de aspecto tão tosco é humilde, triste e bonita pois tratou-se de um pobre homem pobre que sem nada que pudesse oferecer à filha pelo natal esculpi à mão e da sua imaginação uma boneca. podem ver em wikipedia.com. como era habitual e já tradição mesmo foi mais um que não resistiu à minha infância de modo que não posso continuar a dizer mais que seja. seja como for é bom saber que ainda me lembro dele.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

pantera cor de rosa

só o facebook e mais uma vez o facebook. agora inventaram de propôr à malta a alteração da foto de perfil para um desenho animado que tenha uma marca significativa na infânica. torci o nariz. achei piada. aderi. eu escolhi a pantera cor-de-rosa. nos meus tempos de miúda, o som vinha longe e eu já corria para o sofá ver as aventuras daquela pantera atrevida. as imperdíveis aventuras e partidas também.
fui fazer uma pesquisa por que queria uma imagem específica desta menina - aquela em que ela aparece em bicos de pés mesmo atrás do inspector closeau. não encontrei. uma lástima para a minha memória. todavia, descobri algumas coisas engraçadas como, por exemplo, a criação do filme ser tão antiga que ainda nem a minha mãe tinha nascido - 1963. que a primeira escolha para a representação do papel do inspector foi recusada pelo actor e escritor inglês de nome peter ustinov. que os homens também sofrem regras de corte-e-costura; peter seller, a segunda escolha para o tão desafortunado inspector tomou muitas pílulas de dieta durante um ano para realizar este papel - quantos quilos é que ele tinha?! e o mais triste é que a actriz não falava inglês e as suas falas foram todas dubladas. enfim! um filme cheio de pequenas pistas para um closeau a sério resolver. ah não! esperem lá. ainda há um pormenor que me deixou desiludida e daí perceber melhor o filme já que também o apanhei sempre a meio. a pantera cor-de-rosa é uma personificação do diamante pantera cor-de-rosa roubado pelo ladraõ autonomeado o fantasma. eu pensava que era apenas um filme divertido, hilariante e cómico sobre uma pantera bípede e cor de rosa. afinal é mais uma complicação adulta...

energias...

sinto uma qualquer energia contida dentro de mim. sinto-a no compasso cardíaco deste músculo guardado em si, dentro de mim. sinto-a a respirar. a contrapôr-se. a impôr-se aos poucos . sinto-a envaidecer-se no passeio pelas minhas veias. sinto-a a correr nas minhas veias, pelo meu corpo como meninas à solta a correr nos prados de papoilas e ervas deixadas ao abandono, de sorrisos ao longe e balões na mão. sinto que há, de tempos a tempos, qualquer coisa errrada. e qualquer coisa inaudível, que não faz sentido nenhum. a morte é um compasso de espera e há algures, atrás de uma esquina de rua escura, algo pronto a revelar-se à luz, a olho vivo. eu fecho os olhos e não vejo nada para lá da escuridão que se impõe. e o silêncio que se ouve do lado de fora do meu corpo é interrompido pelo compasso cardíaco deste músculo dentro de mim. tum... tum... tum...

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

sala de espera no centro de saúde


ontem dirigi-me ao centro de saúde para um consulta fora de horas com o médico de família, pessoa que desdenho imenso pela falta de amabilidade que tem com os seus doentes, apresentei-me à hora marcada e esperei a chamada na sala de espera. curioso, pensei, não cheira a hospital, aquele cheiro próprio dos hospitais como os dentistas cheiram a dentistas, os cabeleireiros aos produtos capilares e secadores de cabelo abafando o ar,  as padarias/pastelarias a pão e bolos, e as clínicas têm aquele cheiro a ar filtrado, coisa que estranhamos sempre - devemos estar habituados à imundice, sei lá. havia nove pessoas quando me sentei numa cadeira perto da janela que dá vista privilegiada aos cigarros a meio do expediente do pessoal auxiliar e médico. sento-me sempre naquela cadeira. catorze horas e quinze minutos, atrasado; já não seria às catorze horas desse dia a minha consulta, suspirei apelando à paciência e deixei escapar um sorriso de mal evidência. via uma mãe com duas filhas. a mais nova irrequieta, não devia ter mais que os nove anos se tanto. a mais velha pisava os treze e daí o pé torcido, talvez. quatro cadeiras à esquerda da senhora estava uma filha quarentona com a sua mãe sexagenária, a senhora teria já alguma doença avançada, ouvia-a contar repetidamente 1, 2, 3... // 1, 2, 3... // 1, 2, 3... parava, esfregava-se, batia com alguma força e determinação e retomava a contagem; à minha frente estava uma senhora na casa dos seus setenta anos com uma ligadura no pé. outra mulher estava com ela. pareceu-me ser sua familiar. no meu lado esquerdo a maior ternura de sempre. uma avó com o seu neto. duarte. rabugento e traquina. não tinha mais que era um aninho. duas senhoras ao lado deles sorriam deliciadas. eu sentia-me no meio da vida. de uma ponta à outra daquela espécie de sala de espera do centro de saúde tinha todas as gerações ali mesmo ao meu belo dispor. outra senhora juntou-se a nós. sentou-se ao meu lado direito e senti que ela queria meter conversa comigo pela forma como me olhara mas eu não queria conversas com ninguém, há dias assim. passou uma outra de cadeira de rodas. "caí! na vês agora a minha vida!!" dizia ela pouco antes da chamada à da minha frente. estive sentada naquela cadeira uma meia hora até ouvir no altifalante a voz do médico soar como a de um rinoceronte zangado não que alguma vez tenha estado perto de um rinoceronte ao vivo e a cores e ainda menos zangado mas o national geographic é bastante elucidativo nesses aspectos da vida humana. está mais gordo. e o mau humor vinca-lhe a cara cinquentenária  de rugas. estava mal disposto como sempre. não fiz os mínimos para fazer de conta que não me apercebi e ser simpática. passou outra caixa de medicamentos e disse-me que não sabia o que é que eu tinha. saí. na mão o último resultado de exames reclamado por mim e não por iniciativa dele, na outra a receita, nos meus ouvidos a frase descabida e dita a frio "não sei o que tens, que queres que te diga?!" e os meus olhos a encherem-se de água abafaram a minha voz quando passei na recepção e agradeci a atenção. desci as escadas. liguei à mãe. depois ao namorado. fiz uma marcação no particular. e é assim a grande maioria dos médicos deste país. são-no pela simpatia familiar, por que dá jeito um médico na família, dá nome, é um posto de respeito. é um erro. certas profissões (senão todas) merecem o mínimo de dedicação e paixão senão nunca nada tem o seu devido valor nem o efeito pretendido. desci as escadas sem ver quem ainda estava naquela sala de espera.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

velhos são os trapos o tanas!!

epah que neura!! detesto trabalhar com gente velha! é que eles são velhos, ultrapassados, velhos, retardados e fazem os mais novos velhos, ultrapassados, velhos, retardados, e numa pilha de nervos!!! são teimosos. só fazem o que querem e eu não percebo por que é que estão no activo durante tanto tempo!! é velho? rua!


se eu gostasse de trabalhar com gente velha ia para um lar!! e tenho dito!!!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

dias cinzentos de outono

ah o outono... o frio... as cores acinzentadas do céu tão azul na primavera e no verão, as cores verdes e castanhas, amarelas e vermelhas das folhas à deriva no chão e à mercê dos meus pontapés inofensivos. hoje foi um daqueles dias em que fui possuída por uma lânguidez, um enfado tal que não vi encanto em coisa nenhuma. nem nas folhas a cair que normalmente me fascina. nem... em nada!
eu não gosto nada de vestir golas altas justas ao pescoço. é um atrofio! ora dá-me em calor ora é um frio que não há roupa que me aqueça! e depois aquilo ali junto ao pescoço quase não me deixa respirar!
e depois hoje não tinha carro por que ele foi fazer uma segunda visita à oficina. ah! que dia!! o frio, a chuva-molha-parvos, as trombas de água, a gola alta! irra!
nestes dias gosto de olhar a rua pela janelas. ver as pessoas a correr na rua, o vento levantando as folhas feias que andam pelo chão às cores, a chuva miudinha que cai do céu nublado, o vento que sopra nas frestas das janelas. o chocolate quente ou o café ou o chá a evaporar-se no fumo que se desvanece perfumando o ar, aquecendo as mãos e enamorando a ponta do nariz avermelhada. este ar seco, sem graça, sem amor, sem coisa nenhuma do nada. é isto que o outono faz às pessoas: acorda-as no leito quente embrulhado em tecido de algodão rosado. e depois fá-las vestir camisolas de gola alta pela manhã por que está frio, não há carro para o caminho até ao emprego e a chuva promete a chegada para breve. cachecóis ainda vão mas golas altas é que não! justas ao pescoço é que nem pensar. sacrilégio ou não nesta época do ano é sim um grande sacrifício! e andei assim o dia todo. encafuada na gola alta, cheia de frio e a morrer de calor, sem alento nenhum nestes dias sisudos que antecedem o inverno.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

mulheres

pintura de June Leeloo
ah! isto de ser mulher tem muito que se diga. gostamos de amor, de romance, de paixão, e lutas com garra. eu pelo menos gosto de coisas que me dêem luta, que me aticem a imaginação e de consegui-las. é uma tarefa desgastante mas tudo se faz e eu gosto mesmo é de arregaçar as mangas e pôr-me ao caminho. também gosto de obstáculos, confesso, mas não digam a ninguém por que é segredo. não gosto de ter nada assim de mão beijada até por que já lá vai o tempo que alguém beijava a mão a quem quer que fosse. também gostamos de mimos. de muitas prendas. de palavras de amor. de supresas (boas, claro!). e pronto! simples não é? eu também acho que sim. eu, pelo menos, dou especial atenção aos pormenores, a pôr o torto direito para ganhar vitalidade, a pôr o direito torto para o pôr na ordem; vestir-me bem, vestir-me muito bem, vestir-me com qualquer coisa; chorar quando me emociono, rir quando me apetece chorar, rir à gargalhada sem me conter; trabalhar bem, descansar melhor; gosto de saias, de vestidos, de lingerie, de saltos altos, de collants de licra, de meias de liga; não aprecio o vermelho em tudo quanto é sítio, gosto de branco na roupa, de preto na lingerie; de organza nos cortinados, de renda nas tangas e nos soutiens, de algodão nos lençóis de cama de casal; gosto de combinar o aroma do perfume com a roupa e a de fora com a interior e depois o perfume com isso tudo. não gostamos todas de escrever nem ler. eu adoro escrever e ler, gosto de poesia, de música, do cheiro dos livros; gosto do primeiro olhar, de faces coradas, de palavras gaguejadas, de risos embaraçados. gostamos de sedução, de sexo, de prazer, de amor e de romance. acho que é tudo.

eu gosto de crianças e odeio birras!!

gosto de crianças. hoje em dia mais que à anos atrás. e já sei o que vão dizer, é o relógio maternal. não me interessam justificações. gosto e pronto. é um facto. uma constatação. é simples.

foto de Catarina Batista

quando sei que uma amiga minha vai ter um bebé fico em êxtase. fico delirante com a idéia dos sorrisos, das gargalhadas, dos choros de birras ensonadas que prevêm sempre belas sonecas em descanso. acredito que muitas mamãs sonhem com isso... mas quem resiste àquelas carinhas de bebé? aqueles olhões fascinados com tudo à volta? aquele beicinho... qualquer coisa que eles acharam piada repetir....? à uns anos atrás,  não há muitos, dizia eu que gostava de ter cinco filhos. hoje não ponho essa hipótese mas três gostava muito. duas meninas e um menino. ou venha o que vier que é sempre bem vindo. haja saúde por que já não podemos contar com a economia devido ao sr. sócrates - a ver vamos se não terá ainda o mesmo fim que o seu antropónimo. mas voltando ao tema principal é tão bom o toque das ropinhas, as ropinhas, os lençóis, a colcha, todo aquele conjunto de enxoval... eu fico simplesmente deliciada. e depois os nomes... eu desde nova que creio que o nome diz muito de uma pessoa, pelo menos o meu nome é a mais pefeita descrição de mim além do singo mas isso já são muitas balelas :) mas odeio birras descomunais. isso comigo é que não!! a minha amiga catarina é fotografa, uma excelente fotografa, por sinal. as imagens dela captam uma essência indescritível. avassaladora. profunda. momentânea. esta foto é prova disso. não há nada tão eternecedor quanto olhar para um bebé abstraído da realidade. e ela capta isso de uma forma muito única. eu gosto de crianças. gosto e pronto! é um facto. uma constatação. é simples

hurt, beautiful life




adoro esta música. tem um quê de uma essência que me transcede. sinto um arrepio espinha abaixo e os meus ombros convergem num sentido de união único. poucas são as músicas que me provocam este efeito. esta é uma delas. fecho os olhos e sinto-me a mergulhar dentro de mim como se um novo eu se revelasse. quando abro os olhos, infelizmente, não é bem isso que acontece mas sabe-me bem cantarolar a melodia.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

manhãs difíceis

humm... quarto-escuro. um olho aberto, outro que cerra, que me dá mais uma ruga de expressão. é o que dá a preguiça pela manhãzinha. a cama quentinha dos lençóis amarelos, polares; o cobertor amarelo, suave e quente da pierre cardin e aquele homem ao meu lado, sempre tão quente... eu ainda não vira já sabia que o dia estava mesmo bom para ficar na cama mas ganho coragem e num salto levanto os lençóis quentes de cima de mim, subo os estores e espreito entre os buracos o céu cinzento lá fora. torço o nariz. vou até à cozinha em bicos de pés e é realmente um facto: chegou a cara feia do outono. visto qualquer coisa mais ou menos quente e saio para a rua. um olho aberto, o outro que cerra ainda mais, o sol é matreiro pela manhã e eu ainda não pus os óculos de sol. humm... respiro fundo. o ar cheira a chuva. e o frio é cortante. parece que consigo ouvir o nock nock atrás da porta a querer entrar mas eu não quero a chuva e o frio. gosto de namorar no calor do verão. aperto o casaco até chegar ao carro e os meus passos parecem seguir um ritmo lento demais... não tarda nada daqui a semanas terei o pingo no nariz com a ponta encarnada e os olhos cheios de água... humm... pequeno-almoço? ah concerteza!