sábado, 30 de outubro de 2010

para dar sorte

não há nada de mais fascinante no ser humano que a sua genuinidade, digo eu. eu que digo as coisas sem pensar da forma mais espontânea que pode espantar. digo as coisas na minha mais pura inocêncica, em tom de brincadeira e desafio quer seja alguém da minha idade ou mais velho, meu colega de trabalho ou meu superior. "por que a maldade está nos olhos das pessoas" digo o que quer que seja sem segundas ou terceiras intenções. depois, claro está, a menina tânia vê-se em situações, no mínimo, embaraçosas e troca as mãos pelos pés, cora automáticamente e fica sem palavras - haja uma vez!
sou também uma pessoa dada a doces. não a todos. a todos não que eu cá não gosto de mousse de manga, só de chocolate, mas se o bolo de bolacha até nem tiver muito creme por dentro também dou uma dentada que me delicia profundamente. ora depois de dito não se volta atrás e eis que alguém, que não devia dar tamanha importância a um pormenor minimamente vulgar, eis que alguém proporcionou-me, hoje, a meio do meu serviço laboral, uma situação na qual me senti enrubescer de tal ordem que o sentimento mais forte foi de um embaraço tão grande, tão grande que nem soube dizer nada de jeito, apenas e só, sorri levando na mão o pratinho de porcelana branca com uma bela fatia de bolo de bolacha que a mãe do bebé afonso, a quem pertencia a festa de baptizado, gentilmente me trouxe. "ouvi dizer..." disse-me ela e eu sorri corada que nem um tomate maduro. a senhora foi de uma gentileza tal que não pude resistir à tal fatia de bolo, além do que, para granfina, mostrou que "(não) é o hábito que faz o monge"; ali a senhora não era a bela da média/alta sociedade e eu não era a empregada de mesa/responsável pelo serviço. éramos apenas duas moças, duas senhoras, duas raparigas, duas pessoas com sentido de humor. e é bom saber que não são apenas os trapos que contam. é claro, foi um pagode à minha conta, coisa que não me importei já que as pessoas mostraram o seu lado mais barroco, chamemo-lhe assim. eu continuo sempre a mesma. também tenho as minhas fatiotas e a minha caixinha de maquilhagem que me tornam numa grã-fina por uma vez ou outra e a minha roupa/farda que me tornam na melhor serviçal onde tudo corre como deve correr e não falta nada em lado nenhum. o bolo de bolacha era o bolo do baptizado, extremamente bonito, delicado, decorado com gosto e ternura de quem ama os seus. comi um pouco. "para dar sorte", dizia-me sempre a minha mãe que me incitava a arranjar mais um espacinho na minha barriga para um pedacito do bolo comemorativo, era eu ainda uma miúda. à saída agradeci, uma vez mais, e desejei sorte e felicidades ao bebé e aos pais.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

bonecas de trapos

o meu pai deu uma boneca de pano à minha mãe à coisa de uns meses atrás. ela tem o cabelo de fios de lã castanha nos dois totós, uns olhos castanhos como os dela mas menos bonitos, os olhos castanhos da minha mãe são muito mais bonitos e intensos, um sorriso cor-de-rosa e tem vestido um fatinho cor de creme com uma flor no meio feita a retalhos e linha cor-de-rosa; a bainha também é de retalho. a minha mãe dorme com ela de noite. esta manhã, por acaso, estava eu a fazer ronha para me levantar da cama, cada vez mais aninhada nos lençóis de fanela, quando abri um olho ela estava mesmo ali quase a fazer-me cócegas no nariz com a ponta dos cabelos. cheirei-a. a minha avó materna tinha um saco cheio de trapos e tinha dado para fazer uma boneca de trapos verdadeira. era uma tarde de sol como muitas outras (acho que o sol naquela terra dura mais tempo que noutro lado qualquer!) quando resolvi entrar à socapa na adega do vinho onde ainda restavam as pipas do tempo do avô quando ainda se fazia vinho tinto; cheirava a velho  e a teias de aranha; havia pó por todo o lado e coisas guardadas em segredo no meio das falhas das paredes de betão. a avó deixou-me levar o saco cheio de trapos para a minha casa e fui a correr para que ninguém mais visse o meu tesouro descoberto. sentei-me à chinês num canto do armazém e fui tirando trapo a trapo, tira a tira; havia panos azuis de algodão ou flanela, sei lá!, cetim em tom arroxeado, havia outros em tons de creme e branco e muitas mais tiras de pano, das quais não me recordo - já se passaram tantos anos... mas tenho a certeza que havia panos para todos os gostos, isso era mais que certo! o que mais torna a lembrança viva é o aroma. hoje, e curiosamente só mesmo hoje, tomei noção de quão forte é a sensibilidade dos nossos sentidos e como é esse o elixir das nossas memórias. uma vez mais, não sei o que fiz a tantos restos de tecidos mas o mais certo deve ter sido a minha mãe levada pela razão a deitá-los todos no lixo mas enfim! ainda hoje me lembro deles e do cheiro tão característico a esquecimento no tempo que tinham dado para fazer umas belas bonecas de trapos cheia de retalhos. eu gostava de ter tido uma e a da minha mãe não é verdadeira.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

echolalia

há ecos dentro de mim. eeeeecos. e-cos. ecos. ecos enoooormes. ecos profundos. ecos do tamanho do mundo. ecos da duração dos anos-luz. ecos intermináveis. ecos como aqueles mudos quando eu, em criança, de joelhos, atirava pedrinhas, palhinhas, lêvas pequeninas de terra seca para dentro do poço de pedra a pedra, feito uma a uma com paciência e inteligência também,pelo avô pai da mãe, à muitos anos, ao fundo da terra, junto das laranjeiras. e depois ficava a ver as ondinhas que o que quer que fosse atirado lá para dentro fazia assim uns círculos deliciosamente simples como os primeiros pingos de chuva no começo do outono. fazia sempre frio ali. os cedros atrás de mim, a caneira à minha frente, do meu lado direito a terra cultivada que se estendia quase até ao portão de casa, do meu lado esquerdo mais uns metros de terra e depois uma estrada de chão abatida, a dar de si por causa das enxorradas. debaixo dos meus braços o poço rebocado à pressa, de forma tosca, velho e cheio de musgo aonde a água das chuvas e a do leito passageiro subterrâneo não tocava nos ninhos dos melros; estes que tinham ninhos que eu queria alcançar mas estavam tão longe da ponta dos meus dedos pequeninos. era o sítio ideal, para os ninhos dos melros, a àgua não molhava por baixo, as crianças curiosas não alcançavam por cima. depois eu distraía-me por ali... divertia-me os sons que surdiam dali. e então produzia sons monótonos como os ah, uh, muitos outros ah batendo repetidamente a mão direita na boca enquanto o som saía das minhas cordas vocais. e depois eu ouvia aquele som em surdina. eram ecos bem mais infantis e dispersavam-se trespassando-me as entranhas míudas do corpo pequeno. hoje, o corpo da menina é um corpo de mulher e os ecos também por isso mesmo (?) são maiores. e não se extinguem tão facilmente como outrora. enrolo-me no cobertor "macisinho" da mãe, no sofá e fecho os olhos. fecho os olhos para dormir.

uma estrela do céu - quem lhe sentiria a falta?

fechei os olhos. respirei fundo. sinto um cheiro no ar que me é familiar mas... o que é? fecho os olhos. está escuro. mas ao fundo... ao fundo... eu vejo uma luz branca qualquer... eu conheço aquela luz. na mão tenho uma flor. na outra uma... na outra mão... não sei que coisa é. costumo vestir as folhas dos livros e o batôm dos meus lábios é da cor velha das folhas velhas dos livros antigos. o meu olhar, tão azul, tão azul como o céu, o meu olhar está cheio de sonhos. eu fecho os olhos e tu não estás aqui. sinto um aroma no ar... há algo no ar de cariz maravilhoso mas eu não sei que coisa é... a época aproxima-se... oiço os sinos ao longe, as melodias a chegar e tu não estás aqui e é uma coisa tão estranha, tão estranha que é coisa que nunca me habituo - à tua ausência. quero-temuito. quero-te demais... mas agora que o tempo passa, e passa tão depressa!... parece que... que horror! já não penso tanto em ti e tu dormiste tantas noites comigo. nas noites todas que o céu, à noite, no inverno, no céu se viam mais estrelas que agora... parecia que cada vez que olhavas o céu fazias nascer mais uma estrela como uma flor no jardim lá de casa. eu gostava de ter uma estrela tua. gostava que uma das tantas que o céu se envaidece de ter, uma delas fosses tu, e fosses minha para sempre ou de quando em vez... para matar a saudade do teu sorriso de mel, dos teus olhos cheios de sonhos de menina, do teu perfume a flores campestres... oh! se tu soubesses... mas eu acho que sabes.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

falamosdepoissff.blogspot

 encontrei aqui esta bela imagem com o título do post "se eu tivesse coragem" e depois vem uma data de desejos ainda por realizar.eu, ando há tanto tempo, tanto tempo, à procura de uma idéia genial para fazer uma destas que nunca me ocorreu que as coisas mais simples são sempre as mais bonitas. curiosamente o post dela acaba da melhor maneira possível: "Mas eu não preciso de coragem. Basta-me um impulso, só não sei por onde começar..."
da minha parte, fiquei com uma inspiração tal, que não fosse o frio que está pela manhã e a falta de uma imagem decente sairia agora a caminho do estúdio a reclamar o feito.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

as coisas estranhas do facebook

o facebook e o quiz monster é das co-relações mais insólitas que pode haver. todavia quando não se tem mais nada que fazer inventa-se!
no outro dia estava eu cheia de... nada!, quando resolvi partir à descoberta dessas coisas estranhas; comecei pelo tou's - uns bonecos mal feitos, loucos, cómicos que descaradamente dizem como estamos ou deixamos de estar a nível de humor. mais tarde cedi à curiosidade da semelhança que possa existir entre mim e qualquer outra coisa. comecei pelos bolos e calhou-me o pastel de nata, desconfio que tenha sido a preferência pelo cafésinho ao invés da hora do chá ou um snack rápido que justificou a análise assim: "O tamanho não importa. O pastel de nata está sempre bem acompanhado e apesar de às vezes ser inseguro, sabe que a maioria das pessoas reconhece-lhe o sabor merecido. Estás sempre recheado de boas surpresas. Apesar da aparência rija por fora, tens um coração de nata!". ri-me da simplicidade. depois fui ver que chocolate seria eu  e surpresa das surpresas: twix! sei lá por quê mas adorei a designação: "És crocante como a bolacha, delicioso(a) como o chocolate e saboroso (o) como o caramelo.. Ninguém te resiste." ainda serviu para me rir à brava com o meu namorado quando lhe mandei a mensagem enchendo o meu ego como um balão. daí parti à (des)aventura da minha pessoa no passado e bastou-me ter dito que gostava do mar para passar a ser uma sereia e, de facto, é uma descrição tão narcisista que jamais poderia ser eu ora vejam: "És encantadora e tens uma beleza e charme que fascina toda a gente. És uma mulher tímida e calma, que evita conflitos sempre que pode: preferes refugiar-te no teu mundo, do que ter problemas. Não precisas de fazer por ser amada, porque as pessoas apaixonam-se pela tua personalidade mal te conhecem! Para ti, amar e ser amado são as coisas mais importantes na tua vida. Tens muito medo que te partam o coração, por isso não o entregas de qualquer forma... apenas alguém muito especial irá merecer o teu amor. És muito feminina e graciosa, e o teu mistério faz com que te queiram conhecer melhor..."  - não sou encantadora nem evito problemas - e vai nisto toma lá outra vez a pequena sereia da walt disney para confirmar a teoria anterior: "Você sonha alto, é determinada e se vê, no futuro, morando longe da sua terra natal. Quando se agarra a um objetivo dificilmente desiste e é capaz de tudo pra conseguir o que quer. Apesar de parecer ambiciosa e teimosa, na verdade você sempre busca a sua felicidade e te...nta de tudo para tê-la, mas arriscando a si propria e nunca os outros. Se tivesse o dom de cantar, mas pra ser feliz precisasse andar...trocaria sua voz por pernas.". mudei de assunto - loucura parecera-me um bom tema e calhou-me a rainha de copas da Disney: "A Rainha de Copas é uma personagem que aparece nos capítulos finais do livro Alice no País das Maravilhas. Tem um pavio curtíssimo, é autoritária e responde a qualquer sinal mínimo de desrespeito com a famosa frase "cortem-lhe a cabeça". Geralmente a rainha exige que tu...do seja perfeito e, se por alguma razão qualquer, algo vai errado, pode-se ter certeza que algum envolvido será decapitado. No entanto, esse negócio de decaptação é apenas fantasia e ninguém realmente perde a cabeça (ou será que perde?). Até mesmo nisso ela é a maluca de plantão, sendo superada somente por VOCÊ!" aqui a única coisa que posso dizer em minha defesa é que gosto de vilões e malvadas mas acho que isso também não beneficia lá grande coisa a meu favor. dias depois decidi espreitar o futuro e sabem o que me vai acontecer em 2011? vou ter um cão! coisa impossível não é? e depois fui saber quando seria mãe e surpresa das surpresas o primeiro teste calhou trinta e um anos e isso está fora de questão por que quero ser mãe até aos trinta e não depois disso; o segundo deu dez anos de diferença para menos e das duas uma ou não dei por nada ou enganaram-se outra vez; e como não há duas sem três à terceira satisfiz-me com o resultado quando deu vinte e sete embora, confesso, gostava que fosse um pouco antes mas logo se vê. mais tarde aventura das desventuras, ou não, o facebook afirma que sou parecida com a Beyoncé - deve ser pelo cabelo esvoaçante. e pronto! esmorecida da minha vida resolvi que o melhor era parar aqui mesmo. coisas estranhas, as do facebook!

terça-feira, 19 de outubro de 2010

são mais as vozes que as nozes

com a chegada do outono o mais comum e familiar são os frutos secos. hoje em dia não como muito por que a minha adoração virou pecado capital guloso: tâmaras e ameixas e figos e alperces e mais qualquer coisa que falha agora na memória mas queainda assim já dá uma idéia do que falo. em miúda comia muito pinhões e nozes. mais pinhões que nozes. passava as tardes sentada no chão do armazém, junto ao portão grande, todo aberto, com um martelo do meu lado esquerdo e o saco dos pinhões com casca do lado direito. com muito cuidado e técnica - sim, por que ao fim de muito tempo adquira-se técnica que baste para quebrar a casca sem esborrachar o fruto - passava horas a admirar as sombras que o sol deixava fugir à minha frente enquanto comia deliciada. não era um martelo qualquer. tinha um cabo de madeira pintado a amarelo. e a cabeça era escura como a cor do metal de que era feito. só os pinhões me tingiam os dedos daquela cor acastanhada da casca dura. também gostava de pegar nas pinhas e sacar dos frutos mas levava mais tempo! na minha casa, preferencialmente e sabe-se lá porquê, as nozes comiam-se à noite e em família, partindo a casca dura da noz na dobradiça da porta de madeira, de tinta lascada e pintada a duas cores - do lado da cozinha branco sujo - como lhe chamou o pintor - e encarnado do lado de fora - nomeeia eu - a da fechadura comprida, velha e ferrugenta, sem entalar os dedos. actualmente compram-se uns objectos que servem para isso mesmo - partir as nozes - chamam-lhes quebra-nozes e isso, inevitavelmente lembra-me sempre o filme da barbie e o quebra-nozes que todos os anos dá pelo natal ora  no próprio dia ora na véspera ora depois seja quando for e à hora que passe é sempre na quadra natalícia.
outubro cheira a castanhas. a água-pé que não me agrada nada por aí além. a batata-doce que como com uma satisfação infantil. e a frutos secos, todos eles. isto até ao natal, na sua maioria. isto tudo evoca-me feed-backs do carnaval pelos desfiles em e de cores que não acabam; só a música diferencia uma festa da outra e as filhoses. desde que namoro que passou a ser natural a presença das filhoses no natal mas em miúda só eram feitas na minha casa pelo carnaval. a mãe punha a massa a levedar junto da lareira com um fogo espectacular num alguidar grande, cor-de-laranja, grosso e velho, e rijo o bastante para aguentar as batidas fortes do braço da minha mãe. tum-tum-tum como as batidas do meu coração em ritmo certo com o dela. horas depois, com as faces em rubor escaldante do calor da lareira, a impaciência só acalmava com o escaldar da boca e do estômago destas, saídas da fritura do azeite e passadas a açúcar e canela. uma tarde cheia, uma barriga cheia! nos outros dias, que eram dias mais que ordinários, entre tantas brincadeiras e outros entretenimentos, num deles era, de facto, o martelo e o saco dos pinhões. e comia, comia, comia... era uma criança comilona e gulotona. com as nozes a diversão era outra. nas tardes em que decidia pegar no martelo e comê-las tinha o verdadeiro sentimento de triunfo de cada vez que as abria com uma perfeição tal que as metades se uniam em perfeita simetria. comia a noz com uma satisfação que não tenho hoje. enjoam-me. excepto quando as entalo no meio dos figos secos abertos ao meio. que delícia. um verdadeiro acepipe - ah!... a melhor parte era noutras tardes quaisquer em que pegava nessas cascas e fazia delas barquinhos aventureiros nas ondas tempestivas do bidé da casa-de-banho. iam à pesca dos peixinhos, bolinhas de papel branco atiradas à àgua/mar. era até afundá-los. depois já não tinha piada. e abandonava-os num canto qualquer. ia buscar as bonecas ou os caniços, os meus burritos fiéis, e fazia longas caminhadas fartas de conversas à don quixote! agora instalou-se o drama e a desventura. que faço eu aos vinte e três anos com as cascas das nozes?! o mesmo que Scrat?!

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

coisas de crianças

a menina cresceu. tivera sido toda a infância uma menina rechonchuda, de cabelo castanho-aloirado e um olhão azul profundo. profundo e intenso. a madrinha dera-lhe um fatinho de lã azul... um amor! era um conjunto todo azul com umas riscas pretas. uma saia. uma camisola. uma boina. dia de páscoa. domingo de páscoa. o pai muito orgulhoso. a mãe babada. a mãe babada foi buscar a máquina fotográfica. o pai sentou a menina no capô da carrinha, deu um ovo de chocolate grande para a menina segurar. olha o passarinho! estalinhos com a ponta dos dedos. a menina sorria.

click!

um momento registado para sempre. eram tempos difíceis, uma época de muito trabalho, pouca boémia. o dinheiro era pouco e não havia lugar para extravagâncias. todavia "tudo o que é pequenino tem graça" e era o sorriso da menina que dava tom à roupa - o azul mais azul, a lã mais macia, a beleza acentuada pela simplicidade da época, pela infância da criança.
tirou-se outra fotografia. os primeiros passos a correr registados num flash rápido de uma atenção extremosa, maternal, amorosa; um flash da menina dos olhos dos papás a correr, com um ovo de chocolate na mão, os caracóis a dar gosto à aragem fria daquele dia ainda invernoso, por baixo daquela boina azul aos saltos, os braços abertos a correr em direcção ao colo, um sorriso rasgado, uma voz de criança. a madrinha aparecia poucas vezes. mas a menina adorava aquele tom de chocolate da pele dela. e do sorriso dela.
a casa da madrinha era grande mas mal arranjada. antes da varanda o chão era uma poça de lama no inverno. quando se entrava a sala era enorme, fria; o mobiliário era substituído por um cobertor enorme ou seria uma manta (?), bem... com muitos brinquedos à volta, bonecos, peluches, carros. tinham dois filhos, cinco anos mais tarde. uns sofás velhos, uma espécie de móvel com a televisão e o rádio. depois se seguíssemos pelo lado direito havia um quarto de arrumações extraordinariamente desarrumado, outro do rapaz e um seguinte com duas camas para a filha mais velha - era onde dormia a afilhada nesses fins-de-semana que lá pernoitava. em frente havia a casa de banho em tons de rosa. e a cozinha com as bancadas cheias de pratos sujos e panelas por lavar. nem por fora ou por dentro a casa era pintada, tirando o mosaico do chão e os azuleijos da casa de banho não havia quaisquer cores na casa. da janela da cozinha via o padrinho de volta das porcas com os porquinhos, patos e galinhas à solta e uns belos legumes cultivados ao lado. no armazém abaixo havia montes de espaço. muitos gatos. alguns cachorritos. muitas pulgas. uma sociedade inteira pulguenta! e máquinas de trabalho. e camiões. mas a menina gostava de chapinhar na lama. de correr atrás dos patos e das galinhas. olhar os porquinhos em bicos de pés, detrás da divisória. apanhar figos e ovos. a menina gostava de andar à solta. brincar junto à estrada e ficar com carrapatos agarrados às meias e apanhar umas ervinhas que se enrolavam na palma da mão. andar no jipe amarelo a cair de podre do padrinho. encontrava sempre grandes tesouros - bonecos minúsculos vindos dos ovinhos de chocolate da kinder surpresa.

a menina cresceu. agora era uma mulher. cheiinha. o cabelo mais escuro. mas o azul... o azul continuava profundo, intenso. ria-se com a mesma intensidade que a inocência nos seus gestos em criança. era mais contida - já não brincava à chuva nem chapinhava na lama nem corria atrás de patos e galinhas mas sorria quando via, sem esperar, uma criança suja de terra, despenteada, sorridente, com os olhos brilhantes das descobertas campestres.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Aisha, a outra face da realidade

lembro-me do dia em que soube que os cães não vêm o mundo como nós. aquilo fez-me tanta confusão!... e fez-me questionar também qual a veracidade da realidade aos nossos olhos. devia ter os meus onze anos(?)...

quanto mais vasta a nossa literacia mais fácil se torna de compreender os usos e costumes do outro lado da rua. existem direitos. existem leis. convicções religiosas. parece só não haver senso comum e quando estamos habituados ao nosso mundo, ao nosso umbigo, torna-se difícil respeitar situações destas.
acho que a única maneira de dar a volta à situação é oferecer asilo; pouco mais se poderá fazer num país que olha para outro ser humano como se olha para um animal repudiante. há realidades para as quais nunca estamos preparados.
felizmente a coragem da Aisha é maior que a brutalidade sofrida. num mundo onde, pessoalmente, as mulheres são tão bonitas e não têm como preservar a beleza é onde também são desrespeitadas a um nível tão baixo que nunca conseguiremos imaginar o quanto. que sejam abençoadas todas as que vivem sob opressões de todo o género, sequer imaginário.
no entanto, não deixa de nos chocar a todos como sai caro o auto-conhecimento e a ousadia em tomar decisões para proveito próprio como inicia a reportagem a revista TIME "WHAT HAPPENS IF WE LEAVE AFGHANISTAN" - "O QUE ACONTECE QUANDO DEIXAMOS O AFEGANISTÃO". faz-nos confusão, a nós, ocidentais, branquelas, enfezados, tamanha diferença social.
a mim, o que me faz mesmo muita confusão, é a limitação a que estas pessoas se dedicam dia-após-dia... são como os burros da minha terra a quem se punham talas para não se distrairem no caminnho e verem sempre só o caminho a seguir. será que o mundo gira no sentido oposto dos ponteiros quando estas coisas acontecem mesmo ao nosso lado?

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

coisas de mulheres

eu sou uma pessoa inocente. uma alma ingénua. e sou mulher. gosto de me perder nas lojas de lingerie, de qualquer uma. hoje entrei numa. perguntei pela minha marca preferida. já não se vende tanto... justificou-se a lojista com a falta de mais peças e mostrou-me o catálogo para a colecção outono/inverno10. peças lindíssimas, como sempre. acessórios? já tenho tudo. pois... tirando o que está nesta loja só encomendando ou indo a uma das três lojas que a vendem. cascais tem? perguntei com receio. nem toda a gente tem os horizontes alargados mas uma vendedora conservadora e reservada não é coisa que se espere quando se entra numa loja de lingerie. é óbvio que há as suas diferenças comparando a uma sexshop mas as semelhanças também existem, principalmente quando se procura sensualidade e intimidade em cada pedaço de renda, em cada bocado de cor, a cada toque. essas são as palavras-chave sob atrevimento, sexo e prazer.
adorei o corpete. 300€, sensivelmente... oops!... era lindo, lindo, lindo o corpete mas caro, caro, caro... uma verdadeira lástima... ficar-me-ia tão bem...

mas eu tenho tanta pena dessas mulheres, fechadas em armários, anos a fio...

sábado, 9 de outubro de 2010

pessoas risonhas

o meu pai dizia-me muita vez, era eu ainda pequena, e ele na idade e no entendimento e carga conotativa próprios de um mestre que alarga o conhecimento do pupilo, dizia-me ele que "uma pessoa risonha é sempre mais bonita que outra qualqer de trombas!" dizia-o, em especial, aquando de uma comparação momentânea e banal. o mais comum era o irmos na rua observando as pessoas e quase sempre víamos o mesmo panorama: a magra de cabeça erguida, cabelo esvoaçante, bem arranjada, peito para fora, barriga para dentro, andar correcto, costas direitas, toc-toc-toc... de cara fechada; e a gorda desinibida, desmanzelada ou nem tanto, de rabo-cavalo, de ténis, mostrando uma cara de sorriso largo que rapidamente se estende a rasgado de orelha a orelha. eu afirmava com a cabeça e distraía-me com qualquer coisa, não sei bem. sempre fui uma pessoa distraída.
hoje em dia, os que me conhecem, sabem que sou uma pessoa de risotas e pagode. gosto de rir a bom rir, ter boas gargalhadas, ou apenas deixar escapar um sorriso. não consigo sequer evitar. confesso até que há casos em que me esqueço do papillon ou da bata branca e rio pelo prazer que me dá. não há nada tão recompensador, seja à hora que for, que um sorriso partilhado ou uma gargalhada em uníssono especialmente no final do dia, quando, aqueles a quem devemos maior contenção de modos e etiqueta acima de tudo, nos provocam com uma piada de bom tom e nos olham nos olhos; nos integram dentro das suas brincadeiras e o dia acaba. como se fossemos marionetas nas suas mãos tanto tempo que quando se cansam nos largam para ver se os surpreendemos. gosto de rir. e acho que só por fazê-lo fico mais bonita assim.

um dia, à muitos anos, fiz um teste em frente ao espelho. consegui exprimir sentimentos inesperados. aumentei o volume da música no rádio e consoante a música ora uma lágrima caía ora um sorriso. claro que também ajudou imenso as memórias. o mais engraçado foi a alternância do brilho na íris; quanto maior o sorriso ou aquilo que me motivava a tal expressão maior a intensidade daquela luz; quanto maior a quantidade de lágrimas agrupadas menor o brilho como se escurecesse. gosto de rir. e acho que só por fazê-lo fico mais bonita assim.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

lanches em dias de chuva

dias de chuva como este merecem outras melhores recordações dos meus tempos de míuda. naquela casa onde passei dezoito anos da minha vida muita coisa me construiu por dentro. o cuco ao longe, naquele mato, quase inaudível; a cigarra nas tardes mais quentes de verão atiçando a preguiça; o vento assobiador às frestas da janela; a chuva a cair no alpendre. nestes dias, na lareira, estalava os galhos de madeira seca apanhada para o efeito. bocados de vimes. pinhas. cavacos. madeiras mais que velhas. além das camisolas velhas e desusadas, sem graça e de lã, e das meias grossas guardadas de um ano para o outro só mesmo aquele crepitar dava algum alento quando não se podia sair de casa. rascunhava muito com lápis de todas as cores e de todos os tamanhos em qualquer canto dobrado de uma folha qualquer. jogava ao galo sozinha e conseguia perder. via os desenhos animados sentada à chinês no cobertor estendido no chão. e colava o nariz à janela a ver a chuva a cair nos campos de trigo que o pai amanhava ora uma sementeira de batata ora uma de trigo; ano sim, ano não era uma colheita diferente. o armazém era gelado não apetecia brincar a nada ali nem andar de bicicleta. muitas vezes estendia-me no sofá a ver o fogo a dançar e a brincar.
depois... havia dias... não era sempre e foi isso que tornou tão especial esta recordação. havia dias que a mãe fazia torradas. barrava com manteiga e polvilhava com açúcar... humm... que delícia... quem nunca comeu torradas assim? estaladiças... quentinhas... de pão caseiro... aquele cheiro de manteiga açucarada...
claro que naquele tempo eu só sabia o quanto era bom de comer; nunca me ocorrera analisar assim as torradas; talvez fosse por isso que a Pessoa perdurava um fascínio eterno pelas crianças e daquela inocência própria de fazer tudo pelo sentir e nunca pelo pensar. lá fora a chuva escorrega nas janelas grandes da minha futura casa. o céu, entre prédios, está cinzento como todos eles e só a vegetação ruim dos caniços se mexe mais abaixo. a casa ainda está fria, não é de todo e ainda, quente daquele maravilhoso calor que só os lares têm. mas já tem cor. tenho de pôr uma nota, algures, para numa das próximas compras de electrodomésticos a escolha recair na torradeira e nunca me poderei esquecer de repetir a torrada que a minha mãe me fazia em garota. eram tão boas e as minhas filhotas, nesse dia, irão gostar também.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

gomas! ai eram tão boas!!

ia pah!!! gomas!!! txiii!!! que saudades!
ontem à noite fui ao videoclube, aluguei o streetdance - recomendo. queres gomas?! aquela pergunta nem foi bem interrogativa mas sim mais sugestiva. como quem diz... se tu quiseres eu até te faço companhia. sorri. humm... até que fiquei indecisa, já lá vão dez anos que não como gomas.
a sara adorava gomas. saímos nos intervalos e na hora de almoço só para ir dar uma voltinha ao quarteirão, ver as paredes dos prédios, e voltar para dentro do recinto da escola com sacos transparentes (e denunciantes) mais ou menos cheios consoante as moedas na carteira de uma ou de outra. ela comprava mais que eu. e ela adorava ainda mais que eu também. fizemos amizade no dia da apresentação da escola nova quando eu saí da primária da terrinha mais próxima, a dois quilómetros de casa, para o ciclo, a uns sete quilómetros de casa sensivelmente. uma escola grande com o segundo e terceiro ciclos inseridos. sentei-me atrás dela com uma mesa ainda antes de mim junto à porta do lado direito da sala, perto da parede cor de creme desmaiado. nunca percebi estas cores de burro quando fogem escolhidas para as escolas. nos dias seguintes sentei-me junto dela e foi amizade para o resto da vida. nunca nos largávamos. eu sabia da paixão dela pelo menino alto como o raio, loiro, de olhos castanhos, magrinho, do oitavo ou nono ano. nono acho eu. chamava-se francisco. ela sabia que o meu pai ralhava comigo por tudo e por nada e que a minha mãe nunca me dava razão. tínhamos longas conversas interessantes. ela usava as minhas coisas e eu as dela. e quando eu não tinha uma moeda que fosse para o vício a amiga do coração dava-me uma goma ou duas.
ai eram tão boas!! parece-me que eram melhores naquela época que agora que posso comprar todas quanto quero. lembro-me de um dia ter perdido a cabeça e depois de uma visita de estudo ter comprado um saco cheio de gomas com o dinheiro que sobrara das lembranças para o pai e para a mãe. entretenimento certo até casa - era um verdadeiro sacrifício para mim: não propriamente comê-las mas sim resisti-las. a sara era louca por gomas. naquele tempo chegava a gastar 200$00 (duzentos escudos) em gomas!!! era muito dinheiro em gomas e muitas gomas para comer. eu gostava mesmo era daquelas com açúcar à volta com excepção das amoras e dos melões amargos as escolhas recaíam sempre nos dedos, nas dentaduras, nas lagartas, nas bananas, nos morangos, e numas fitas às cores maiores ou mais pequenas, e... eu sei lá... por minha livre vontade marchavam todas. todas em quantidade e género. antes da chegada do €uro ao nosso país pequenino e lusitano as gomas eram a 5$oo (cinco escudos) cada uma; agora são a 0.05€ (cinco cêntimos)... a carteira fica sem moedas e o volume é metade daquele tempo ou sai mais caro... todavia o sabor mantém-se e as memórias também. as memórias dos dedos peganhentos, a língua às cores, a boca doce, o açúcar por todo o lado e a carteira sem moedas. e depois uma nova caça à moedas perdidas nos assentos do sofá velho da cozinha e algures debaixo dos tapetes das carrinhas de trabalho cheias de pó de todo o género, debaixo dos bancos, entre a manete das mudanças; onde calhava, a bem dizer, excepto no porta-moedas; isto com os pais é sempre de olho vivo  - nunca se sabe - e eu sempre fui muito medricas para esses trabalhos assim. às vezes rendia. outras vezes nem por isso mas valia sempre a pena arriscar. ai eram tão boas!! as gomas...

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

amélia...

amélia. em suma, numa só palavra, pessoa. humana. sensível. jovem. mulher. errante. apaixonada. irreverente. responsável. já foram oito palavras a mais e muitas mais faltam mas só com o tempo se saberia.
chorava sozinha embora sentísse um prazer intenso em rir em uníssono. de carácter firme. tinha uma cara de menina, um sorriso de traquina, um olhar que provocava pele de galinha, aquele olhar azul.
amélia. cresceu sozinha mas não era egoísta. distinguia o bem do mal. o bom do mau. e aquele azul inundava corações quando lhe magoavam da forma que ela mais considerava a pior de todas elas. a chapada sem mão. palavras de ordem sem ordem de números ou letras, crescente ou decrescente...
amélia. mulher. ouviu. engoliu em seco. não disse palavra. os olhos imergiram naquela água salgada, instantânea como a nascente que brota dos rochedos frios nos cumes das montanhas. comeu o mínimo e indispensável para poupar demais perguntas. perguntas ridículas. respostas inconvenientes.
amélia... oh minha querida! as palavras são tão vãs... o coração não deveria escutá-las quase nunca. há palavras de amor. se as há... e como são belas, elas, as palavras de amor. e as outras. aquelas outras que provocam a largada de risadas e gargalhadas.
améliaem suma, numa só palavra, pessoa. e pessoa humana. sensível. de coração aberto ao mundo, solto de rumores. a bater como o rufo de tambores. e mais. causava aquelas batidas frenéticas das asas de borboletas mesmo no meio da barriga. asas de borboletas no estômago. e o rufo de tambores.
quando a noite chegou, chorou a noite toda em silêncio. e quando a madrugada chegou os raios de sol beijar-lhe-iam a pele clara da cara, gostava de pensar. como se assemelhava o carinho da mãe que nesse dia lhe faltara.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

"ah!!! uma estrela cadente!!!!"

está a fazer um ano. não! dois anos. sim dois anos. já se passaram dois anos?! fogo! o tempo corre... mas, então recuando, e por falar em memórias... hoje recordei-me daquilo que mais me fascina desde míuda além daquelas bolas de vidro com coisinhas lá dentro a imitar a neve a cair. estrelas cadentes. não acreditarão, quem ler, que me lembrei disto ao limpar as portas de vidro do meu trabalho. ainda estava a interiorizar as últimas palavras dele sobre as minhas memórias escritas, quando, ao fazer aquele movimento circular, de quem abrange uma grande área, de quem quer abraçar o mundo; fui assaltada por um flash. estrelas cadentes. nunca tinha tido a oportunidade de presenciar uma só que fosse, assim de surpresa. já as tinha visto na televisão mas não é a mesma coisa, convenhamos. então lembrei-me da primeira vez que isso aconteceu.
a meio da tarde recebi no telemóvel mais uma de tantas sms's dele. uma em especial. dizia "hoje apetece-me algo diferente." eu não sou propriamente um monchérie ou um ferrero rocher para algo diferente, perguntei o quê. deixou ao meu encargo. não achei grande piada no momento. é difícl surpreender alguém ainda para mais quando os flirts são recentes. um pic-nic! outro flash momentâneo a meio daquela tarde. mas de noite? ora... diferente é diferente! então lá fui eu comprar umas bolachas próprias para diabéticos, umas de maçã e outras não sei de quê, não me recordo. saí sem as chaves e a colega e o patrão sairam, deixando-e na rua. tive de percorrer meia vila, quase, para a encontrar e pedir-lhe que me abrisse a porta pois tinha tudo lá dentro. a colega assim o fez; rimo-nos o caminho todo daquele enfado. cheguei a casa, tomei um banho quente. escolhi a lingerie. a roupa. o perfume. jantei. pus a água a ferver. café ou chocolate?... fui buscar o termo da minha mãe, ainda por estrear, misturei o café (sem café, aquele que temos muitas vezes em nossa casa que contém cereais em vez de ou mais que) com a água. estranho... não me recordo onde transportei tudo aquilo mas o que quer que fosse levou o termo, as bolachas, os guardanapos de pano brancos, duas canecas, duas colheres, dois ou três pacotes de açúcar. um cobertor. e muitos beijos.
fomos beber café ao barzinho do costume. vinte e duas horas. vamos dar uma volta? tenho uma surpresa para ti, disse-lhe. ele sorriu. saímos. chegámos à praia, que devia mudar o nome de Areal para a Praia dos Namorados com os "pais" a vigiar excessos, estacionei. saí. disse-lhe que saísse e me ajudasse com uma coisa. aberta a mala do carro sorriu-me corando quando sentiu o cheiro a café. e naquilo fui um bocado lamechas ao dar-lhe uma foto minha. aproximei os meus lábios dos dele. "ah!!! uma estrela cadente!!!!" corei de seguida desatando a rir do meu entusiasmo tão infantil. expliquei-lhe que nunca tinha visto nenhuma e para nos rirmos mais um pouco o senhor vangloriou-se dizendo que com ele só seriam surpresas deste género. foi um pagode de riso. estendemos o cobertor na areia. dispusemos o café, as bolachas, e espalhámos os beijos... ele adororu o pic-nic e eu nunca tinha nem feito nem tido nenhum - foi para ambos uma experiência inesquecível. um veradeiro pic-nic de amor entre amantes. até ao fim de dezembro foi uma chuva de estrelas cadentes. a última que vi ia conhecer os pais dele e pedi-lhe - por que dizem por aí que se deve pedir desejos às estrelas cadentes - pedi-lhe que me desse sorte nessa noite. por acaso até nem deu mas pronto!