quinta-feira, 23 de agosto de 2018

chuvas de agosto

nas chuvas de agosto não sei medir o tamanho do desgosto causado pelo gelo que abala o calor do estio. é um nó que se instala, que se aperta a cada soprada violenta do vento, bandido!
bendito aquele que tira partido dos quatro elementos.
infeliz, o triste, que embora olhe p'ra o céu, não vê nada além das nuvens cinzentas que cobrem o céu azul e o sol, que já vai alto, e se recolhe em si mesmo procurando o conforto que não encontra noutros braços, por que não os tem... nem outros pés que lhe aqueçam a cama... nem lábios que o beijem para acalentar a alma. 
pobre do espírito que vagueia sem rumo, sem destino, alheio ao mundo, perdido no tempo, entregue à sua própria sorte, madrasta ou madrinha, e sozinho. 
faz-me lembrar, por vezes, as folhas arrancadas pelo vento e levadas sem ordem de travar a viagem...

as noites de verão já não são o eram nos meus tempos de garota, nem longas nem quentes nem eu já sou garota! também já não se vêem os pirilampos nas encostas de caniços a brilhar do cu e a minha casa ja não é aquela, moro onde sou feliz! porque só preciso de paredes que deixem ver para além do que a vista alcança, seja serra ou monte ou mar, e um tecto de estrelas para me sentir abençoada.

qualidade de vida sob a perspectiva do desemprego

"tia, já é outono?
"não sobrinha, porquê?
"então por que é que as folhas estão a cair?"

                                                  ***


não, não me dava a esta vida para o resto da minha vida. tenho muito para dar, para vender, para fazer, para falar! no entanto, há uma parte de mim que dava uma bela dondoca! nasci pobre. não há cá Luíses Vítores (Louis Vuitton) ou Carlas Marias (Chambel) p'ra mim. a malta conhece bem é as Lojas C (chinês e cigano).
ao fim de quase seis meses acumula-se agora uma sensação de aborrecimento e saturação pela monotonia e consecutivos nãos atrás de alguns foi-por-pouco. é tal e qual como a procura do primeiro emprego ainda que se tenham passado uma dúzia de anos em situação laboral contínua. 
porém, aparte disso tudo, descobri o que é qualidade de vida. agora tenho tempo para ir para o quintal jogar à bola com a minha sobrinha, ou correr atrás dela num "aqui te apanho, aqui te agarro, e venceste-me!"; faço longos passeios com o puto, umas vezes no carrinho, outras no pano; em todos eles, o miúdo quer é descobrir o mundo e eu quero dar-lhe a descobrir o mundo todo e fazer parte do mundo novo dele. agora posso ir ao parque, correr descalça com a minha menina, soltar o cabelo, cheirar as flores, desfazer as folhas secas com as mãos, observar as formigas, que não fazem mal nenhum!, e rirmos! posso ir à praia, cheirar o mar, molhar a pele e enfiar os pés na areia seca e quente do sol. posso sentar-me no chão com o meu filho e brincar com os brinquedos que decoram a minha sala em cor e energia - em cada um deles há um sorriso e um olhar atento e arregalado para a descoberta e saliva, muita saliva - a gata também é uma privilegiada, há tempo para mimá-la e para me mimar com o seu ronronar e o calor do seu corpo. há tempo para tudo e passa tudo muito depressa e é muito solitário, às vezes, também... está na hora de tomar o rumo, que apesar de tudo o que se quer é o bom de dois mundos! o dia já amanheceu, é outro dia para arregaçar as mangas, no intervalo da boa vida, o lado bom de quem está desempregada. procura-se vida activa! a felicidade custa tão pouco.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

menina do algodão doce

a velha espreita à janela.

o gato dorme na soleira da porta.

o sol esquenta o corpo do velho perdido no tempo.

e a menina passa a passo largo. sei lá para onde ou porquê! nem ela sabe...

as espigas de trigo arranham-lhe as pernas torneadas e desnudadas da saia plissada que a mãe lhe ofereceu nos anos; os olhos azuis-mar herdou-os do pai e são tão intensos que até os girassóis rodam ao seu encontro.
levantou vôo nas asas de um estorninho, abraçou-lhe o reflexo das estrelas nas penas cintilantes para depois beijá-las ao de leve como quem beija o Menino e deixou-se levitar até alcançar o algodão das nuvens que via lá de baixo. não são doces, pensou mas fechou os olhos e sorriu. amanhã a travessia poderá ser tortuosa; via, lá de cima, o roseiral cor grená e sentia-lhe o aroma a perfumar os cabelos curtos mas hoje... hoje estava nas nuvens e a ver estrelas.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

água das azeitonas

situações caricatas são comigo, não que sejam constantes mas são, no mínimo, top! uma semana destas fui às compras a um supermercado e, para companhia, requisitei a minha rica maesinha, e, lá fomos os três: eu, ela e o patareco! 

entrámos no supermercado, demos duas voltas p'ra trás e p'ra frente e ao chegar à caixa, atacou-me aquele cheiro característico de "se não fez está p'ra fazer na certa!" 
saímos do supermercado em direcção ao carro. compras arrumadas, sabe Deus como, e íamos a outro supermercado quando reparámos, as duas, que o menino estava molhado.


eu: "humm que estranho..."
mãe/avó: "será xixi?
eu: "não... (fum-fum) não cheira a xixi... (fum-fum) parece que... (fum-fum) cheira a ... água das azeitonas... ?? ... será que o carro das compras estava molhado e não reparámos?!"


e eis a declaração oficial assim que lhe abri as molas das jardineiras entre as pernas: ca-ga-da! não não... uma senhora cagada e rala! um pivete que deus m'a livre! toca de trocar a fralda da criança... e a roupa! em menos de nada era todo um arnesal de tralha e dedos em forma de pinças com toalhitas dodots, umas atrás das outras, o nariz em suspensão de ar e a criança a revirar-se de tal ordem que por pouco nem a forra do carrinho escaparia! em pleno estacionamento, junto ao porta bagagem do carro atulhado em compras para o mês...
"ufa!!! já está!" - constei triunfante com a roupa suja dentro de um saco bem fechado, a fralda cagada no lixo, a criança ao colo da avó e eu esgotada com aquela odisseia!! 
já no outro supermercado, encontrámos a M. que se derrete em gu-gus e da-das cada vez que o vê e mais umas cócegas e "ai tão bonito, o meu menino..." é interrompida pela minha mãe com a seguinte frase: "bonito estava ele antes ainda nem há meia hora!"

água das azeitonas... oh meu Deus!!!