sexta-feira, 17 de agosto de 2018

menina do algodão doce

a velha espreita à janela.

o gato dorme na soleira da porta.

o sol esquenta o corpo do velho perdido no tempo.

e a menina passa a passo largo. sei lá para onde ou porquê! nem ela sabe...

as espigas de trigo arranham-lhe as pernas torneadas e desnudadas da saia plissada que a mãe lhe ofereceu nos anos; os olhos azuis-mar herdou-os do pai e são tão intensos que até os girassóis rodam ao seu encontro.
levantou vôo nas asas de um estorninho, abraçou-lhe o reflexo das estrelas nas penas cintilantes para depois beijá-las ao de leve como quem beija o Menino e deixou-se levitar até alcançar o algodão das nuvens que via lá de baixo. não são doces, pensou mas fechou os olhos e sorriu. amanhã a travessia poderá ser tortuosa; via, lá de cima, o roseiral cor grená e sentia-lhe o aroma a perfumar os cabelos curtos mas hoje... hoje estava nas nuvens e a ver estrelas.

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