quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Como é que nascem os bebés?

" - Tânia, vais cortar a tua barriga?"
" - cortar a barriga?! Nããããõoooo!"
" - então como é que o teu bebé vai nascer?"

pausa

" - ...!!#$%&@..."

continuação da pausa

" - ah! pois... então... humm... o bebé da Tânia, em princípio nasce por outro lado." o que é que eu fui dizer?!
" - por onde Tânia?"
" - ...!!#$%&@... por outro lado!"
" - pelo cu?!"
" - não, amor... talvez a Tânia tenha que cortar a barriga!"
" - como é que sabes?// nasce por onde Tânia?"
" - ...!!#$%&@... pelo pipi amor..." (WTF?! eu disse aquilo??)
" - porque é que não cortas a barriga Tânia?"
" - oh amor isso o senhor doutor é que sabe, não é a Tânia!"
" - Tânia, Tânia!!"
" - meninos, depois... agora vamos mudar de asssunto!"

como é que duas crianças com cinco anos dão baile de uma adulta com trinta?
o meu desespero era visível e a Ticha só se ria como quem: desenvencilha-te! é que nem vale a pena olhares para mim!
e eu só pensava como é que eu não previ a intenção daquela pergunta!! ri para não chorar porque foi desesperante! dois mini sherlock holmes a instigar um assunto tão delicado quanto o parto que nem eu sabia que ia correr como correu!


das suspeitas à certeza

a primeira ecografia...
apesar da médica de família ter adiantado a credencial para fazê-la pelo serviço nacional de saúde, dirigi-me ao obstetra, dr. N.
que personagem! alto. careca. usa óculos. é moreno. tem mãos grandes. um riso contagiante. um vozeirão descomunal que, uns decibéis a menos, é até ternurento. quase como o lobo mau na história do capuchinho vermelho! foi o meu primeiro contacto com ele e, no entanto, a atitude foi-me familiar devido às referências que trazia: "são horas de espera mas quando entramos no gabinete é como se não houvesse mais ninguém para atender."
16h00 - hora oficial da minha consulta.
15h30 - ligaram-me a informar que não estivesse preocupada, o dr. estava atrasado.
19h30 -  entrei na clínica, fiz a ficha. a sala de espera é pequena mas acolhedora. a vidraça contém umas cortinas que nos dão alguma privacidade, o sofá já é vintage! e contrasta com a verga das cadeiras por perto. há muitas revistas espalhadas e no balcão, a I., recepcionista, tem uns livros antigos para consulta - um deles é a escolha do nome para a(s) criança(s) mediante o significado, caso assim se deseje ou, por mera curiosidade, consultar o significado do nome já escolhido.
20h30 - a fome já apertava...
21h00 - entrámos.
foi nos questionado o nosso historial clínico, fui pesada, deitei-me na marquesa.
uau!... percebia-se perfeitamente a forma do embrião, quase nem eram necessárias as explicações do médico.
o pai foi chamado a aproximar-se e foi-lhe sugerido que filmasse o batimento cardíaco. é forte. é acelerado. é indescritível. ri. "antigamente dizia-se que um batimento cardíaco assim era de uma menina, parece um cavalo galopante!" e olhou para ele e acrescentou "a melhor coisa que pode acontecer a um homem é ser pai de uma menina.", não sei se foi para tentar acalmar o nervosismo dele, se dando força para a ideia ganhar raíz. 
e dissemos a primeira frase cliché: seja o que for, que venha com saúde.
já passava das 22h00 quando saímos do gabinete, com uma fome!!!...
no entanto, na ecografia das doze semanas, foi-nos dito que "o exame sugere um rapaz." ora bolas... lá se vão trocar os totós, os laços, os vestidos, as purpurinas, os folhos... pelos suspensórios, as boinas, as camisas, os arranhões nos joelhos! 
embora desejasse uma menina, no fundo, eu sabia que viria um rapagão. se bem que, por mim, nem se tinha sabido o sexo do bebé até à hora do parto! daqui em diante a tendência foi olhar para o quarto de loja ocupado com a secção de rapaz!

o sonho em pompa e circunstância

já contar à família também não foi por menos! a minha sogra há anos que me vinha com a conversa que tinha um sonho com um neto loirinho de olhos azuis, o meu pai (que por acaso nunca quis ser pai) já pedia netos antes de eu ter namorado!
ora agora que era a sério tinha que dar a notícia com pompa e circunstância!
fui outra vez ao Pinterest procurar ideias e a frase mais bonita que
encontrei resumia tudo:

"os melhores pais foram promovidos a avós."

e resolvi complicar!
eu nunca fui uma criança que tratasse bem dos seus brinquedos. tive uns cinco nenucos! a partir do momento que os começava a despir até lhes arrancar a cabeça era um piscar de olhos; as barbies ficaram carecas; os peluches andavam aos reboques pelo armazém! escapou um papagaio amarelo de imitação nem sei como! vinte anos depois o que é que eu vou querer?! os sapatos das bonecas. a questão que se coloca é: há bonecas?
no sótão, no canto mais escuro, onde nem a luz da janela consegue penetrar a cortina de croché, que já foi branca um dia, ou a luz da lâmpada poirenta alcança, encontrei duas bonecas: uma calçada; outra com um sapato apenas. algures numa gaveta de um mono (guarda-vestidos) encontrei o seu par - que sorte! - e um palhaço sem cabeça.
os meus pais separaram-se. precisava de arranjar três pares de sapatos.
admirei-me como é que a minha mãe nunca desconfiou! até porque me atrapalhei ao inventar que era para a farda do carnaval...
a paragem seguinte consistia em ir ao chinês comprar spray dourado e molduras brancas!
e escrevi, à mão, a frase.
para a futura titi fiz algo do género mas substituí os sapatinhos (até porque não havia mais sobreviventes) por um ursinho de peluche onde costurei um pouco de feltro que agarraria ao feltro colado ao vidro da moldura, obviamente com uma frase diferente: 

"a minha irmã foi promovida a tia!". 

ocorreu-me que a princesinha da família pudesse querer brincar com o ursinho então facilitei o drama.
confesso que, a única pessoa que correspondeu às minhas expectativas foi a minha cunhada, que soltou uma gargalhada! toda a família ficou apática! a minha mãe caiu num pranto, o meu pai não segurou as lágrimas, o meu sogro (que era quem eu pensava que ia mijar pelos olhos) ficou a olhar, a minha sogra nem percebeu bem!
que domingo à tarde tão conturbado! o meu pai chorou?!?!

contar até oito

contar ao pai da criança...
a adrenalina que senti no corpo quase me fez precipitar em fazer-lhe uma chamada. respirei fundo. contei até três. e fui trabalhar.

"perdi dois kg desde a passagem de ano mas nos próximos meses talvez ganhe vinte!", foi assim que contei, por exemplo, a uma colega no trabalho; foram os primeiros a saber, por uma questão de segurança devido à radiação - hoje em dia já é mínima, no entanto, mais vale prevenir que remediar! confesso, esperava boas reacções mas não tão efusivas quanto foram. sensibilizou-me e fui apanhada desprevenida.
e durante a tarde planeei uma forma especial e divertida de dar a notícia lá em casa. o Pinterest foi uma ajuda e pêras!
como era segunda-feira havia treino de setas e isso deu-me umas três horas para preparar tudo!

fonte: PINTEREST
a ideia que mais me agradou exemplifico-vos na imagem aqui ao lado e consistia numa coisa muito simples: colocar uma mensagem numa tira de papel dentro do ovo.

primeiro passo:
escolher o ovo.
não é um ovo, é o ovo! nestas horas, todos os pormenores contam - a forma, a cor, o tamanho, portanto, o mais bonito!

segundo passo:
esvaziar o ovo. simples não é? não, não foi!
escusado será dizer que o primeiro ovo explodiu na minha mão porque a arma que me lembrei de usar para furá-lo foi um palito. óbvio que tinha de correr mal, vá-se lá perceber porquê! a segunda tentativa teve os seus ameaços mas cumpri a missão quase na perfeição.

terceiro passo:
lavar o ovo.
aí eu fui super inteligente!!! trouxe do meu local de trabalho uma seringa e fui lançando jactos de água lá para dentro.

quarto passo:
secar o ovo.
pois... isto não dizia o pinterest... e a solução que me ocorreu foi usar o secador de cabelo!

quinto passo:
escrever a mensagem.
não é tão fácil quanto se pensa mas lá foi escrito: "ÉS PAI."

sexto passo: 
enfiar o papel lá dentro!
não pode ser uma tira muito larga por que o diâmetro do furo não é (quase) visível, nem muito comprida porque isso implicaria enrolar ainda mais (e garanto que não é fácil)

(tudo pormenores que, só quando te pões a fazer coisas paneleiras te apercebes que há muito photoshop, pelo meio de certeza absoluta!
p.s.: usar caneta de acetato!)

sétimo passo:
disfarçar os furos.
eu optei por colocar uns corações (fofinhos) à volta.

oitavo passo:
o embrulho.
a minha avó paterna era uma acumuladora! às vezes, acho que também sou mas ainda bem! do tempo que ele fumava tabaco de enrolar, andava ainda cá em casa umas latas; escolhi uma, limpei-a, forrei-a com papel kraft e juntei-lhe uns laços de cetim. simples e bonito!

tomei banho. deitei-me na cama a ler um livro à espera.
quando ele finalmente chegou pedi-lhe que se sentasse na cama, precisávamos falar.

(um bocadinho de suspense nunca fez mal a ninguém)

depois dei-lhe o embrulho para a mão, o resultado da análise ao sangue e o teste de gravidez.
e expliquei-lhe tudo como se fosse uma criança de quatro anos!

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

positivo/negativo

isto começa bem! oh Deus que figura!

três dias antes...

era uma quinta-feira, estávamos a vinte e seis dias do mês primeiro do ano corrente, e a meio da manhã, a consulta com a médica de família. tinha uns quantos tópicos anotados a tratar para resumir a minha ida em quatro palavras: "estou atrasada duas semanas." ela riu-se. saí do gabinete fisgada em direcção ao laboratório e fiz a análise; à tarde, recebi o resultado por e-mail.
foi-me explicado, na recepção do laboratório, que o resultado da análise não se resumia a "positivo" ou "negativo" mas sim, caso fosse positivo, estava apresentado um gráfico, se não, não aparecia nada. muito bem...
depois de almoço, instalou-se um mau-estar incomum mas associei ao treino que tinha feito, já tinha saído da aula mal disposta. nas últimas semanas treinava de segunda a sexta, comia a régua e esquadro e ainda compensava com as aulas de zumba à sexta-feira à noite e com as caminhadas ao domingo pelos Trilhos. sentia-me cansada e sonolenta mas a agitação era tanta!...
eram umas quatro e tal da tarde, abri o mail, queria despachar o assunto de uma vez. não havia gráfico. ok... então, próximo passo: abrandar o ritmo e abstrair a mente.
o mau estar teimou em marcar presença, o sono intensificou-se. fui tirar as dúvidas: ou estava realmente grávida ou estava oficialmente maluca! fui ao laboratório.
levei comigo o resultado impresso e ainda nem tinha desdobrado a folha a meio quando fui interrompida por um entusiasmo inesperado: "ai está, está!!", incrédula e surpresa lá lhe perguntei pelo raio do gráfico.
rimos em boa gargalhada. tinha havido uma pequenina falha de comunicação: o que me foi descrito por gráfico, foi me apresentado uma tabela sem grelha. depois... com muita atenção, mas mesmo muita atenção, percebi que números eram aqueles e o que representavam! as semanas de gestação! 

Tânia... estás grávida!