domingo, 30 de dezembro de 2018

feliz ano novo

faltam vinte e quatro horas para começar outro dia como todos os dias, em todo o lado do mundo acontece.
porém, esta noite é aquela especial em que fazemos votos novos e criamos causas novas, avaliamos o trabalho feito até aqui e aguardamos o resultado, seja positivo, seja negativo.
como todos os dias há uma página em branco à espera de ser escrita, uma segunda oportunidade para tentar, para corrigir, para conseguir.
não percebo por que raio não temos esta consciência diariamente... talvez se sinta nesta noite tão especial uma benção, uma protecção, um avalo à vida!
feliz ano novo!

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

"cão"

mais uma experiência de baby signs!
dia de natal com a família reunida... confesso que não tinha abordado o assunto por diversas razões de maneira que o tempo foi passando, os gestos foram sendo incentivados e, FINALLY!!!!, começa a dar frutos. questionava o meu patareco se queria comer mais seguido do gesto ao que ele me respondeu, em gesto, que tinha terminado. e eis que surge a pergunta: 
" - 'tás a ensinar linguagem gestual ao teu filho?" e respondi que sim, linguagem gestual para bebés ouvintes!
e naquele abençoado momento o meu bebecas começa de fazer o gesto de "cão" - nada a ver com a conversa mas algum cão ele tinha visto, eu só tinha de o descobrir. olhei em frente e na tv estava a passar o último anúncio da Range Rover que eu pensava até serem lobos mas, depois de ver bem o anúncio, são cães.
é por isto que me deslumbra o baby signs: descobrir o que chama a atenção do meu filho aos catorze meses de idade!
ficaram estupefatos com a situação por que reagi em euforia máxima... talvez precisem de tempo para assimilar, espero que tenha despertado, pelo menos, curiosidade...

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

feliz natal

and so this is xtmas!
que é como quem diz "chegou o natal"! 

eu sou uma fã incondicional desta época do ano não por causa do consumismo a que somos indiciados a participar mas acima de tudo pelo simbolismo inerente à celebração cada vez mais abafado, sinto.
cá em casa os preparativos são sempre motivo de pôr um sorriso na cara e arregaçar as mangas mesmo a levar com o cheiro a bafio da árvore de natal, o dos fritos das filhoses, é só naquela noite e vá lá, vá lá!... e os arranhões dos ramos manhosos da árvore de Natal que têm sempre que se dar uma ajeitadela.
estas semanas do advento trazem sempre alguma melancolia seja pela falta dos que já não estão comigo, seja pelos que ainda estão vivos mas ausentes até de si mesmos, é triste... e não há fitas brilhantes nem bolas elaboradas que alterem essa situação. depois, por outro lado, há forma de fazer alguém mais feliz.
foto representante Município de Peniche
Pai Natal Motard! é uma iniciativa em que participo desde que comecei a namorar o J. todos os anos (ou quase) são comprados um fato de pai natal que sem jeitinho nenhum se rasgam logo ali na hora, só de barretes tenho uma colecção! fazemos uma festa com esta acção  e sente-se entre todos nós uma cumplicidade de alegria e união por um bem maior, fazer sorrir uma criança!
é grande a responsabilidade e não estou p'raqui com altruísmos por que não é agora que nos tornamos melhores pessoas por isso! mas há crianças ali, naquela fila, à espera, talvez, da única prenda que receberão no natal... podemos gritar "amor", "alegria", "paz" aos quatro cantos do mundo que é muito bonito, sim senhor, mas não é isso que aquece o coração de uma criança nem lhe põe um sorriso no rosto nem ilumina o seu olhar, um presente é um gesto de amor! pena que nos esquecemos disso o ano todo...
todavia, a consciência dessa realidade leva sócios e participantes a chegar até elas e em seguida o que nos sentimos é gratificação. receber é óptimo mas dar... é maravilhoso! enche-nos a alma assim como também aquece o nosso coração, nascem sorrisos e iluminam-se os nossos olhares também. isto é amor. amor pelo próximo. aquele que não conhecemos nem o rosto nem o resto. e ainda assim ali estamos em prol de um bem maior.
espero ter a capacidade de incutir no meu filho o melhor que há no mundo, os valores morais e que deveriam ser a base da nossa sociedade: amor, compaixão, solidariedade, tolerância. há muitos mais, há, e trabalham-se trezentos e sessenta e cinco dias.
sejam felizes e façam por fazer os outros felizes também.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

à porta, 2019

perdi-me de mim a meio caminho do meu percurso.
sabutei-me.
de cada vez que cheguei a uma encruzilhada o rumo que tomei não foi escolhido por mim. deixei-me levar como se fosse uma folha ao vento quando o que eu queria era ser semente. depois, como se fosse estéril, não me deixei agarrar pela terra molhada e segui levada sem rumo.
sabutei a única pessoa que devia ter salvaguardado: eu mesma. dois mil e dezoito tem sido um ano violentíssimo para mim e nem é bissexto!
vi nascer uma pessoa diferente de mim.
vi nascer alguém de mim.
vi nascer uma mãe em mim.
de repente sinto que envelheci... e nada sei!, perdi o trabalho e descobri o reconhecimento; arranjei outro. conheci novas pessoas que não sei ainda o que elas deixaram em mim, não sei o que deixei nelas também. assumi o que não quero.
aceitei que há coisas que não sei. resolvi tomar um rumo. as consequências vêm do que se sente e eu só quero sentir amor. só quero sentir o calor da minha gargalhada. ouvir o eco da minha voz. receber de volta o meu abraço. retribuir o reflexo que o espelho me oferece. gostar de quem merece.
aguardo que a sabedoria traga com o tempo paciência.
anseio que o medo me abandone de uma vez.
choro as lágrimas que me agoniam ao fundo da garganta contra a almofada, na hora do banho.
os braços estão de mangas arregaçadas, estão de pêlos eriçados, são jovens e são fortes.
a alma quer uma benção de água benta.
os pulmões uma lufada de ar fresco como só aquela sobre as manhãs se sente.
o coração não precisa de companhia mas aprecia.
a mente é uma criança. e está na hora de crescer.
três décadas têm por base o oposto do meu outro lado da moeda... um pouco de lamechice aqui, outro pouco de tolerância acolá... creio eu, que faria de mim uma pessoa melhor... dois mil e dezanove está à porta, ora vamos lá ver se me porto à altura!

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Treze meses

ele brinca com as mãos, quando tem sono, como eu.
aconchega e roça a fralda no nariz como eu, com a ponta do lençol, antes de adormecer ou quando não quero largar a lanzeira.
tem uma doçura no olhar que encontro, de vez em quando, nos olhos castanhos do pai.
mas ri como eu. melhor, talvez. por ser criança ou por ser meu filho, sei lá! solta uma gargalhada genuína e pura.
tem um ar de reguila que provoco com as pontas dos meus dedos, cócegas pelo corpo todo!
é o meu bicho-mau em plena birra descomunal com direito a corpo hirto, voz aguda em modo grito, faces vermelhas, punhos cerrados (vem a dar-me água pelas barbas!!), atira com a chucha e a fralda e mais haja!; e o meu patareco desde que nasceu quando se atrapalha; a minha tartaruga quando se quer levantar e não sei se é aquela barriga gorda que não deixa se são aquelas bochechas rosadas do rabo que se agarram ao chão!... é o meu pinguim agora que aprendeu a andar.
lembro-me agora como dois minutos podiam muito bem se ter transformado em meia hora que eu queria lá saber do resto do mundo, por acaso!! (falo para ele como se fosse um adulto ou um pouco mais crescido.) estava na cozinha a calçar-me e achei piada chamá-lo. uma, duas, três vezes! nada. 

'tá a fazer disparates de certeza, pensei.
agora que já chega à mesinha de cabeceira...
ah!! ficou no chão o biberon da noite!!! tal pai, tal filho, de certeza que está a beber o resto que não lhe apeteceu p'raí... às três da manhã!!!

tanta certeza errada!!
fui à porta do quarto dar com ele em grande equilíbrio, uma mão no ar com a chucha, a outra também no ar com a fralda. aqui te agarro, aqui te apanho... lá vinha ele ao encontro do meu chamamento. ajoelhei-me. abri-lhe os braços e incentivei-o a continuar.
oh que doce momento!!! troco tudo por isto. troco tudo por ele. não há nada mais valioso... e eu sou tão feliz!

domingo, 18 de novembro de 2018

chuva

a chuva que cai lá fora não acalma o meu desassossego.
não abranda o meu pensamento. não acelera o meu passo para sair da cama.
não resolvo o mundo, não questiono o mundo.
fecho os olhos e mantenho-me em absoluto estado absorto.
a chuva vem trazida pelo vento e bate com força no vidro da janela.
será um estado de alerta?
será apenas o inverno.
será o som do meu coração que oiço em eco quando aperta.
quando sinto um nó na garganta...
quando a vontade de chorar é tanta e a fonte está seca...
a chuva que cai talvez encha a fonte, talvez faça a ponte entre o meu sentimento e o meu pensamento, lave a alma e traga a calma, e amanhã o sol amanheça entre as nuvens.

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

ecos do meu ego

entre o alter ego do sucesso empresarial e os prazeres da carne abençoado no linho do altar ou no algodão de uns quaisquer lençóis nunca dei grande importância ao universo. chocalhos da moral aparte sempre soube qual era o meu objectivo sem ter realmente um percurso traçado.
nunca ambicionei um véu, um beijo a meio da noite chega e nunca ambicionei zeros a perder de conta à direita com medo de um dia rotular-me de zero à esquerda e...!! também nunca me armei em alcoviteira para disfarçar a virgindade da minha alma ou do meu corpo ou da minha mente. foi bem plantada a semente da humildade em mim. e gosto assim.
entretanto, cresci. conheci o bem e o mal e o in de incerto, injusto, infeliz; e aprendi a ser condescendente, a não ser tão exigente sem menosprezar os meus ideais de coisa nenhuma para vir a descobrir o inesquecível, o inexplicável. porém, confesso, não me tenho saído lá muito bem. falho com a única pessoa que não podia, comigo mesmo. parece que não há rosa dos ventos que me impulsione a enfrentar mares desconhecidos nem bússolas que dêem a encruzilhadas nem astrolábios que denunciem bons ventos... as estrelas que estão no céu até parece que nem brilham! estão lá apenas.
e eu olho em redor e não estou em lado nenhum!
tal como as estrelas até o eco será mudo, tenho a certeza!

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

excedentes

nunca somos suficientes. nunca seremos. é tão natural quanto cruel e é equivalente à vontade de o querer ser. há quem acorde e ache o mundo um lugar maravilhoso para viver, cada dia é uma dádiva. 
há quem acorde com reprovação na voz e odiando até a humanidade que já morreu e aquela que ainda nem nasceu (nem vou referir a actual). eu tenho os meus dias, não acredito em unicórnios e adoro o pai natal. trabalho todos os dias para ser melhor pessoa, alguns dias é mais difícil por que a educação é sempre mais forte que o meio onde se vive mas insisto até quando já estou em bicos de pés e de dedo indicador em riste e faces vermelhas, a voz prestes a falhar ou a engrossar, e as lágrimas a quererem brotar!... às vezes até pergunto a mim mesma o porquê da minha insistência neste tipo de lacunas; o que quero provar; a quem quero provar; o quê, exactamente. 
gosto de acreditar que o tempo nunca é perdido nem mal empregue desde que se retenha alguma experiência, algum conhecimento. se se puder buscar conforto ou regozijo, melhor. fora isso... é uma sensação de fracasso e desconforto muito ingrato. nunca corresponderemos às expectativas dos nossos progenitores ou excedemos ou negligenciamos. que raio ambicionarei eu, daqui a uns dez ou quinze anos para aquele ser tão pequenino que dorme a meu lado agora?

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Halloween for God!

algo vai mal na sociedade. 
não, não é um post sobre política ou religião nem sobre teorias intuitivas! mas que é estranho, é.

nunca brinquei ao carnaval nem fui ao pão por Deus e descobri o Halloween só no ciclo e também nunca tinha ouvido falar em tal. comparei-o com o nosso carnaval e a professora disse que não tinha nada a ver mas para mim fazia muito mais sentido que ser metade carnaval metade pão por Deus já que andam de porta em porta a pedir doces mascarados. hoje, certamente com a velocidade a que corre a informação através da internet e das redes sociais e dos meios de comunicação tão adaptados às necessidades instáveis da sociedade acho que chegamos a determinados excessos. na manhã desta quarta-feira tinha um papelzinho pendurado no cacifo da creche do X. o recado mencionava a tradição do pão por Deus e cada encarregado levaria o que podia e sugeria os tradicionais doces e
novas alternativas: frutos secos e fruta. tive muita pena de não ter tido tempo para fazer bolachinhas sem ovo, sem leite, sem glúten...  sim, que hoje em dia é um leque  de restrições alimentares que uma pessoa até tem medo do que escolher! comprei umas tangerinas (espero que alguns pais já tenham inserido os citrinos).
foto da net
já estava em grandes devaneios para decorá-las como se fossem abobrinhas quando me ocorreu: "helloooo!!!!!???? it's not Halloween!!!!"; enchi uma cesta de vide e lá subi as escadas com o menino ao colo de um lado e a cesta de braçado do outro. 
o X. também trouxe pão por Deus para casa. adorei a ideia mas fiquei decepcionada quando abri o embrulho - então e as opções saudáveis?? lá dentro vinham palmieres, biscoitos de manteiga, línguas de gato, um chocolate (what?!)... o mais saudável só mesmo umas mini bolachas Maria e ainda assim... enfim. 
voltando à tradição do dia que, até é feriado, saí do talho esta manhã e deparei-me com uma criança de mão dada a uma adulta; chamou-me a atenção as collants cinzentas com três riscas coloridas que se cruzavam atrás dos joelhos. na mão levava uma cesta de plástico em forma de abóbora com ar maquiavélico, típico da tradição hallowuinica (esta palavra não deve existir), cheia de guloseimas como manda a nossa tradição deste primeiro de novembro... e eis que surge a minha questão do dia: "então agora substitui-se o tradicional saco de pano por cesto em forma de abóboras de plástico para ir ao pão por Deus?" desculpem-me mas há para aqui uma crise de identidade qualquer!!

esta é a hora

esta é a hora. 
a única que interessa. 
mas é difícil estarmos bem a toda hora. as pessoas não compreendem isso. 
são discursos que mais não são monólogos mudos onde é tudo
muito natural: catástrofes que implodem no próprio umbigo; tempestades apocalípticas capazes de pôr cabelos em pé; tsunamis maléficos que arrasam quaisquer sonhos das mais belas adormecidas. 
todavia, como o voo incerto da cotovia, são lançados olhares frios como a cacimba da madrugada, de estranheza, às sombras que assolam o olhar do outro. não compreendem que na irmandade que nos une seja tão comum o drama na cabeça de cada um, assim, o próximo. não querem nem saber, o que agrava ainda mais o ambiente que nos rodeia. 
fala-se um tanto em obrigações e outro tanto em direitos sem que se perceba que, no final, são resultados de uma relação causa-efeito. não é bizarro? não, parece que não... bizarro é eu ter de estar bem disposta. perdão! bizarro é eu não estar bem disposta!...

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

lamechices de mãe

eis outro dia tão insignificante como outros que já passaram por mim e ficou quase tudo na mesma. 
hoje fez sol. choveu. chove ainda. mas resolvi combater a ressaca de açúcar no aconchego da minha cama, daqui a pouco estava enjoada com' ós porcos com tanta porcaria de tanto chocolate! 
tenho aos pés a gata. peluda. quente. ronrona; ao meu lado, tenho o maior tesouro da minha vida, o meu filho.

sim, ficamos mais lamechas com a maternidade. só hoje me dei conta disso.

acordei-o de manhã. bebeu o leitinho todo. vesti-lhe quase três mudas de roupa. deixei-o na creche. chorou. quanta maldade há no mundo que veio do berço: interromper um sono lindo de ver para deixar o bebé num local estranho com pessoas estranhas...
                             ***
entrei no prédio e subi as escadas de rompante; cheguei espavorida, despenteada, cansada...
já dorme?, perguntei a medo enquanto procurava com os olhos os caracóis desalinhados, o olhar ensonado, a fralda a roçar-lhe nas bochechas e o sorriso escondido atrás da chucha. 
" - já..."

senti um desalento tão grande... um dia de treta que terminou finalmente mas sem trocar olhares e fazer traquinices com o meu amor maior... só entende quem é mãe.

sábado, 27 de outubro de 2018

a companhia das palavras à solidão

são palavras. serão sempre palavras...
inesgotáveis, insuficientes, desvalorizadas, sobrevalorizadas...

valem o que valem para o bem e para o mal mas serão sempre honestas. serão sempre reflexo do meu interior mais inóspito. serão sempre um achado inacabado de mim como um diamante em bruto. e nunca cessarão de sair do meu peito. saiem-me da boca p'ra fora, algumas, outras são tão difíceis de proferir como as lapas, na rebentação das ondas contra as rochas, descolarem. e ainda que fosse feita uma pesquisa minuciosa da gramática para melhor exemplificar a semântica da minha expressão arrisco que não há categoria ainda... ou se calhar até já há, sei lá! (nunca fui um exemplo a gramática e agora com a treta do novo acordo ortográfico que só o meu país aderiu fica difícil até saber escrever quanto mais falar.)

eu sempre fui boa companhia para mim. desde cedo que me habituei a estar só comigo. eu e as bonecas. eu, as bonecas e os ferros de engomar estragados que se transformavam em viaturas futuristas. eu e as caniças transformadas no meu imaginário em burros enquanto cantarolava a música do burrito. eu e eu. 
havia grandes conversas e não, não tive amigos imaginários; curiosamente, achava estranho imaginar alguém que ninguém visse além de mim. 
cresci. é fiquei uma jovem adulta chata, aborrecida. 
escrevo para gostar mais de mim, acho.

mas não gosto de estar sozinha.
já me disseram "é uma coisa que vem com a idade". acredito. também não sou nenhum velho do Restelo mas continuo a preferir a presença de estranhos na rua a estar em casa, sossegada - nunca foi um bom presságio ou tem de haver um motivo muito forte.
seja como for são palavras que aqui ficam, lidas sabe se lá por quem! escritas sabe se lá por quem! Com motivos tanta vez desconhecidos ainda que possam achar que sabem.
são palavras. serão sempre palavras...
inesgotáveis, insuficientes, desvalorizadas, sobrevalorizadas...

terça-feira, 23 de outubro de 2018

no futuro...

o que será que retém o inconsciente? e numa idade tão jovem quanto a do meu bebé? será que saberá o quanto é amado e adorado e o quanto são valorizadas as brincadeiras que temos? será que se ele tivesse poder para aceder a esta fase do crescimento estariam retidos os beijos, os abraços, a memória das peças espalhadas pela sala, as corridas na bicicleta (entre as portas dos quartos, paralelas entre si) que fazemos? esta criança tem o raio de um hábito que não sei se é natural do comportamento se copiou da gata! juro!! antes eu queria ver TV ou estar no PC ou sei lá... lá vinha sua excelência, a gata, enfiar-se literalmente à minha frente e esfregar o focinho dela contra o meu de maneira que eu não visse nada mais além dela! o X. faz exactamente a mesma coisa quando estamos no sofá: atira-se para cima de mim e espreita com a cabeça inclinada e sorriso malandro! não há maior semelhança entre estes dois! vai daí o que é que acontece em seguida??? a reserva de discernimento acciona o red line e dou por mim a dizer cá em casa filha à gata e bichinho ao filho!!! vá chamem lá os serviços sociais cá a casa! amanhem-se é com as unhas da gata que não são cortadas quase desde que a família aumentou! somos todos um pouco loucos e gostamos de o ser só mesmo quando a razão desperta desta euforia me lembro de questionar se, um dia, o meu filho saberá que é amado e se ou que amou os seus pais!

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

bronquiolite... outra vez!

"este pequeno está a preparar-se para ficar cá!"

caiu-me o mundo! desta vez, que não ia a contar, hão-de trocar-lhe a medicação, pensava, a mínima janela de oportunidade revelou-se um pórtico que abalou o meu mundo.
o meu bebecas, só este ano, já vai na terceira ou quarta bronquiolite e parece ser um túnel sem retorno nem resolução. é muito assustadora, a realidade de ficar à noite, no hospital, com um bebé, por causa dele e não por nossa, e em boa verdade digo por mais clichê que possa ser, dava tudo para trocar de lugar.

espirrou? não me importava de ficar com gripe!
tossiu? eu podia aguentar uma tosse de enfiada e perder as refeições de três dias.
mal respira? eu sobrevivo!

agora... quando é ele ... e nada deste mundo permite que eu possa substitui-lo é uma sensação de incapacidade, de impotência... monstruosa!! dói muito.

chorei ali, naquele segundo, em reflexo as palavras da médica. não consegui controlar o impacto que aquilo teve em mim. dói de uma violência tal que parecia ter rebentado outra bomba nuclear. a pobre da médica pediu desculpa, não foi intencional. nem me importei com isso. só queria que o meu bebé não passasse por nada disto! eu só queria não estar ali. o que menos me importava naquele momento era a intenção das palavras dela! eu não queria nada daquilo para o meu bebé!
limpei as lágrimas. perguntei se podia ficar com ele e estranhamente consolou-me as palavras da médica-chefe: "- deve!" sorri. um sorriso amarelo e levantei-me. peguei no meu filho ao colo.
fiquei ali. a noite toda ao lado dele num cadeirão com ar confortável para uma leitura extensa de quatrocentas páginas nunca para uma sesta de meia hora que fosse mas que interessava isso agora??

o menino adormeceu perto da meia noite.
há uma fez-se nova aplicação de medicação.
às cinco acordou com fome e reclamou de não ser a quantidade habitual!
adormeceu.
acordou umas três horas depois quase como se nada fosse e aguardamos o dia todo para saber se mudávamos para o internamento, se íamos para casa.
viemos para casa onde o cheiro, as cores, as coisas são nossas. onde há amor, não que haja razão de queixa seja de quem for - médicos, enfermeiras, auxiliares, todos exemplo de humanidade e compaixão no profissionalismo da função que desempenham. o médico perguntou de onde vinhamos e a chefe andou com ele, preso pela t-shirt, nos corredores a incentivar os primeiros passos dele por ele mesmo; a enfermeira brincou com a contagem em cada bomba de ventilan e atrovent, teve palavras doces com o meu menino; a auxiliar brincou com as bolas de natal penduradas do tecto, pegou-lhe ao colo para que ele mesmo tocasse nelas, deu-lhe um carrinho de brincar, fez-lhe uma papa; mas em casa é onde realmente pertencemos.
no entanto, obrigada à(s) equipa(s) do centro hospitalar do oeste das Caldas da Rainha que esteve/estiveram a trabalhar entre o período das dezanove horas do dia vinte de outubro e as dezasseis horas do dia vinte e um. para mim, mãe, significou muito!

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

mundo, o que tu precisas

às vezes é só disso que precisamos: um abraço sentido, um carinho sem demora, uma condução sem condição.
às vezes o mundo precisa de não estar em lado nenhum; ser o mundo amparado, ter palavras bonitas para o mundo e coisas assim... às vezes é tudo o que a alma quer e o corpo não sabe.

ah o corpo esse habitáculo ingrato e mal adaptado!... esqueceu a língua dos antepassados. não escuta. não vê. não sente. não fala. 
o mundo liberta gritos mudos que não se ouvem em lugar nenhum nem no mais inóspito nem no mais caótico.

caos.
o mundo tem um estado de caos crónico. 
o mundo continua a rodar sobre si mesmo e em vaidade em torno de uma estrela, namorando a sua outra metade, a lua. lua cheia ou nova, meia cheia, meia vazia como aquele copo de vinho tinto, esquecido em cima da bancada.

eu beijar-te-ia a pele, perfumar-te-ia com o aroma das castas mais ricas, marcar-te-ia em tons rouges com um beijo demorado mas ... o que o mundo precisa é do pó da terra. vestir o pó de argila, sentir o calor dos pólenes soltos no ar até, quem sabe, depois da alma lavada na chuva, brincar com os paraquedas dos dentes de leão que trazem no ar segredos e no folículo os beijos dos anjos, aqueles dos caracóis dourados, armados em cupidos, imagina-se! 
ah se eu soubesse alguma coisa de música ler-te-ia partituras, cantar-te-ia ao mundo mas nem canto nem encanto que o espelho é impávido à passagem do tempo que passa por nós.
mundo, onde estás tu?

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

ites de palpites, amigdalites, bronquiolites e...??

pior que ser tudo novidade é não saber nada. ouvir palpites atrás de palpites. ter sentimentos aos montes e não ter argumentos que cheguem.
a dúvida instala-se e a impaciência toma conta de mim.
se fizer, faço bem? 
se não fizer, devia ter feito?

um pouco como Shakespeare mas em versão borralheira que para gata nem bigodes tenho, que os fiz a última vez à linha (a minha esteticista ambiciona uma ausência de seis meses - é louca!).
o choro do menino antevê um gemido de queixume que eu não sei contestar! não é brinquedo, não é fome, não é frio, nem dentes é! era amigdalite a semana passada; esta semana é (novamente) bronquiolite; semana que vem será uma ite qualquer, consequência da creche, "um dos mil sítios piores que há no mundo", disse o médico pediatra numa da idas à urgência. "tem uns bichinhos..." continuava ele... e senti-me tão culpada como naquela vez que ele teve sapinhos justificados pela baixa imunidade do seu frágil organismo que não recebe do meu as defesas esperadas do leite materno, sem intenção de magoar, bem sei, mas questionamos até onde devíamos ter ido, ter feito, ter dito para impedir o atrevimento de um vírus, questiono eu.
esta noite que passou foi uma tourada. acordou às duas da manhã; fiz duas bombadas de ventilam e dei-lhe o leitinho, quentinho como gosta. pouco depois vomitou em jacto a minha cama, o chão, o tapete, a roupa dele... acalmou.
antes das três voltou a acordar. dei-lhe o outro medicamento, um comprimido desfeito em aero-om, vomitou tudo de novo e enquanto foi preparado um banho quente, a roupa da cama dele foi trocada, o pijama tirado a dedos em pinça e os meus braços cercaram o corpo dele como se o conseguisse proteger de mais alguma coisa. ingénua! adormeceu ao meu colo, cansado, com os caracóis desalinhados, a boca entreaberta, ao som do tum-tum do meu coração! não canto, não sei cantar, nem tenho voz para! (com alguma sorte madrasta encanto e mesmo assim tenho cá as minhas dúvidas!) desejo que o som grave do meu coração espante os gemidos agudos do meu bebé, que expulse a dor e o desconforto para que gema de excitação com os brinquedos espalhados na sala ao pontapé, qual campo de minas!

o meu bebé dorme agora. dá-me tempo de tomar um duche bem quente e preparar aquela que pode ser outra noite de loucos.
o que nos vale aos dois é que os meus braços nunca estarão cansados da minha ingenuidade e, em boa e grande verdade, o melhor aconchego da minha vida, descobri junto do corpo pequenino do meu menino!

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

chegada a casa

e se eu dissesse que te amo tanto que me assusta? 

e se eu confessasse que o cansaço me derrota às primeiras e enfio a cara na almofada só para abafar o som da queda livre das lágrimas? 

eu podia até dizer que te quero mais que a mim mesma e que já não me conheço nas pequenas coisas do dia a dia. 

que quando te grito não é para ti, é para mim mas provoco um círculo vicioso de grito meu e choro teu que só acalma, claro, quando te pego ao colo, te cheiro e me abraças e pronto!... já passou! 

faz hoje um ano que chegámos a casa da maternidade. estávamos agora no silêncio naquele que é para nós o maior conforto e o melhor canto que há no mundo, aquele que é nosso, o nosso lar. de repente, tornou-se, também, o mais assustador. 

por esta hora, há um ano, estava farta de chorar, apavorada com o tamanho da responsabilidade que é ter um recém-nascido em casa, desconfortável com a costura da cesariana, irritada com a maior expectativa que tive toda a gravidez, a ilusão de uma vida inteira, que se revelou ser o meu pior e maior obstáculo e levou-me muitas lágrimas, a amamentação! 
por esta altura sentia-me dividida até com a gata, que mal me recebeu. cheirou-me e afastou-se. cheirou o mais perto ou longe, nem sei, possível, esticada o mais que conseguia permitir-lhe perceber o que se passava naquele casulo que emanava um odor tão forte e uma temperatura tão alta a uma distância considerável segura. 
a gata fugia de mim, assanhada por dias, vi-lhe as pupilas dilatadas, o pêlo ouriçado, o corpo em alerta, os dentes afiados. estava zangada e fez questão de marcar a sua presença. 
por dias não entrou no nosso quarto e eu também não deixei; as primeiras investidas de aproximação foram de suspense; hoje é atraiçoada pela curiosidade mas não dá ainda o braço a torcer ou a pata! 

há um ano, tudo era demasiado. hoje ainda é também. demasiado assustador, demasiado cansativo, demasiado bom, demasiado avassalador, demasiado para a imensidão de inexperiência que há em mim. é devastador - o sentimento que se instala leva-nos a dúvidas, muitas, umas atrás das outras... um ano passou.

pouco mudou mas já nada é o que foi, nada está como estava. tudo passou, efectivamente. daqui a outro tanto tempo quanto este, que já lá vai, virá outra realidade constatar o óbvio. mas se te amo? se te quero mais que a mim mesma? se não sei uma data infinita de coisas? a resposta é sim! sim, amo. sim, quero. sim, não sei.

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

parabens!

levantei-me cedo. tomei banho. vesti uma roupita. 
saímos para tomar o pequeno almoço: uma arrufada com queijo e fiambre e um galão escuro. pusemo-nos a caminho e pouco passava das nove e meia quando dei entrada na maternidade. 

 faltou à médica um pingo de humanidade compensada pela atenção das enfermeiras e auxiliares! 

 agora é esperar. 
e esperei. 
esperei o dia todo. 
chegou a noite e continuei à tua espera entre "piscinas" e exercícios na bola de pilates nem ia olhando para o telemóvel para não ter de lidar com a curiosidade de mundo e meio (entre amigos e família não me deixaram espaço para criar qualquer tipo de ansiedade). lembro-me de sair um dia das aulas de preparação para o parto e comentar com as outras gestantes que não estava mesmo nada preocupada, viria quando quisesse e fosse a sua hora e no fundo eu sempre soube que estava para longe e que seria tal qual como foi, além disso eu tive de gerir a ansiedade de tanta gente que não tive tempo para dar espaço e voz à minha. 
na madrugada de terça-feira houve umas dores mas nada que não se conseguisse suportar. de manhã, quando a equipa médica fez a visita e o respectivo toque ainda estava tudo na mesma: zero de dilatação e eu descansada e fresca como uma alface... até à última! 

dez horas. 
o J. não tinha chegado ainda ao pé de mim e a decisão estava tomada: cesariana. 
foi assustador. por todas as razões. 
por que era uma cirurgia. por que ia ficar com uma cicatriz. 
por que sempre soube que iria ser assim desde o início. no corredor, na maca, vi finalmente o J. e por segundos quebrei o muro de certezas inabaláveis e os meus olhos encheram-se de água. disfarcei! - os adultos não choram. 
a parte que mais me incomodou foi a espera num espaço frio e feio, literalmente cinzento. 
aproximou-se de mim uma senhora já de idade avançada. viu-me. cumprimentou-me. perguntou-me se estava nervosa. (soube depois que era a médica anestesista. tem um nome invulgar e foi de uma meiguice incomum). 

entrei no bloco. tudo ainda mais frio, ainda mais cinzento. sente-se um aparato de material mas não se vê nada. há música de fundo mas não se distingue bem, pelo menos eu não distingui, estava demasiado focada na anestesia - para quem não queria levar epidural toma lá a raqui! e depois tu nasceste! 

aquele primeiro choro foi a certeza do começo da nossa aventura! choraste outra vez e quando te vi...: "é tão lindo!", disse quase sem voz e pensei que era a cara do pai chapada!  

apagaram-me. quando voltei a abrir os olhos só sentia frio e a voz não saía. o J. apareceu de rompante ao pé de mim. e eu só quis chorar! só queria aquele abraço, aquele conforto, aquele beijo. a viagem para o quarto parecia interminável mas pelo menos não havia lá mais ninguém. eu não queria ver ninguém. queria ser só eu e o meu bebé. chorar de medo de uma mudança tão radical na minha vida e maravilhar-me com isso ao mesmo tempo. 

"ele é tão bonito...
"um narizinho tão pequenino...
"moreno, olhos azulados...
"os dedos são compridos e fazem lembrar as mãos dos pianistas...
"ele é tão pequenino... a roupa sobra-lhe!

foi só o começo da descoberta de um mundo novo e assim será até ao fim dos meus dias. 

 parabéns patareco!

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Creche

o meu bebé já foi para a creche. é inexplicável. se há dias em que, com ou sem bolacha, ele salta para o colo da auxiliar ou da educadora, há dias em que se agarra às roupas com tamanha gana que desconhecia que um bebé pudesse ter... no primeiro dia até correu bem. deixaram-nos entrar na sala; alcançámos-lhe um brinquedo e ficou entretido, a brincar; agora é uma dor para os dois... compenso o mais possível - acordo-o devagarinho para o surpreender com uma explosão de beijinhos repenicados (é ao ponto de ele se voltar para mim com a mesma gana); deixo-o beber o leitinho como gosta, tal como o pai, uma pinguinha de leite aqui, outra ali e entre brinquedos e muda de fralda e a vestimenta lá chega a hora de sair... ainda acorda de noite. ainda bebe o leitinho todo de madrugada e não me venham com teorias que "à noite é para dormir!" porque eu, mais que ninguém, quero muito dormir a noite toda e ninguém me disse em que fase deixamos de os acordar de três em três horas para os deixar ficar - que não nos deixam! o meu bebé já está na creche. e sinto uma ponta avassaladora de ciúme por que agora já não sou eu que lhe ensino as gracinhas. e quando imagino que os primeiros passos possam ser dados lá, onde não estou, é quase uma raiva que atropela os pensamentos. acho que ele já diz mãe há para mais de um mês mas ficamos sempre na dúvida se foi ou não o que ele disse... e ainda o mais estranho é que há outras pessoas com histórias do meu filho, ainda no outro dia disse-me a auxiliar: " - olhe mãe não se preocupe, ele passou muito bem o dia! é um menino que quer acompanhar com os grandes (crianças de dois anos), quer dar a comida aos outros bebés e não se deixa ficar! - ele estava a brincar com um camião e quando vieram para lhe tirar ele não deixou!" soltei uma gargalhada, divertida com a história e orgulhosa! é um doce de bebé, não tarda muito será criança, rapaz, jovem, homem adulto. por ora é só o meu bebé que já foi para a creche!

sábado, 8 de setembro de 2018

tchan-nan

saímos um domingo destes para um desses shoppings grandes atrás de um vestido tchan-nan para mim. curiosamente, as três primeiras lojas onde entrámos foi de puericultura e moda infantil. 

após morrer de amor por uma boina para o puto, dirijo-me ao balcão para pagar e questiono o funcionário pela existência de uma loja online da H&M. o funcionário não sabia. nem a colega a quem perguntou, nem uma segunda que passou por ali. ao que parece, eles tinham, e a berska, e a pull... (não percebi?? mas que raio de funcionários estes, não sabem uma coisa destas??!!) 

agradeci. 
saí da loja.


"por que é que estás na Zara kids a perguntar por uma loja virtual da H&M?!" questionou-me o J.


(fez-se um silêncio constrangedor quebrado violentamente por uma das minhas gargalhadas sonoras)

Oito, nove, dez... onze!!

o meu bebé já se põe de joelhos e de cócoras e quase anda só com o apoio de uma mão que a teimosia é maior que ele...
bolas... como o tempo passa... a semanas de fazer um ano tem sido a maior aventura da minha vida e, não tenho estado à altura... falta-me o dom da paciência inesgotável e o palpite passa a perna à experiência, que vem longe, dizem que é o instinto que chega aos poucos.
o curioso é parar no tempo para avaliar a sua passagem: no fim dos oito, já com nove meses surgiram os primeiros dentinhos (7.1 e dias depois o 8.1); aos nove pôs-de de pé e aguentava-se um, dois segundos e deixava-se cair - aprendia a pôr-se de pé, estar de pé e cair, aprendeu a gatinhar ainda que atabalhoadamente; aos dez já andava agarrado a tudo; e agora que já entrou nos onze faz-se anunciar um feitio de terrível doce criança. 
os onze trará muitas outras coisas concerteza e eu não estou à altura das expectativas que tinha para mim e que os outros têm também... as maiores vêm de setenta centímetros de gente em bicos de pés entre os brinquedos, o cabelo desalinhado, os olhos grandes, o sorriso genuíno. procuro ser a melhor mãe possível na esperança que o meu amor crescente preencha as lacunas que não sei contornar. na esperança de apaziguar os meus medos, na esperança de esquecer os meus erros, na esperança que nas memórias dele um dia ecoam as nossas gargalhadas e reflictam o brilho do nosso olhar a cada descoberta. por que a cada descoberta há uma troca de olhares entre nós... e um sorriso envergonhado... e um gesto insipiente... e uma curiosidade aguda e avassaladora capaz de esquecer as birras e os berros.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

chuvas de agosto

nas chuvas de agosto não sei medir o tamanho do desgosto causado pelo gelo que abala o calor do estio. é um nó que se instala, que se aperta a cada soprada violenta do vento, bandido!
bendito aquele que tira partido dos quatro elementos.
infeliz, o triste, que embora olhe p'ra o céu, não vê nada além das nuvens cinzentas que cobrem o céu azul e o sol, que já vai alto, e se recolhe em si mesmo procurando o conforto que não encontra noutros braços, por que não os tem... nem outros pés que lhe aqueçam a cama... nem lábios que o beijem para acalentar a alma. 
pobre do espírito que vagueia sem rumo, sem destino, alheio ao mundo, perdido no tempo, entregue à sua própria sorte, madrasta ou madrinha, e sozinho. 
faz-me lembrar, por vezes, as folhas arrancadas pelo vento e levadas sem ordem de travar a viagem...

as noites de verão já não são o eram nos meus tempos de garota, nem longas nem quentes nem eu já sou garota! também já não se vêem os pirilampos nas encostas de caniços a brilhar do cu e a minha casa ja não é aquela, moro onde sou feliz! porque só preciso de paredes que deixem ver para além do que a vista alcança, seja serra ou monte ou mar, e um tecto de estrelas para me sentir abençoada.

qualidade de vida sob a perspectiva do desemprego

"tia, já é outono?
"não sobrinha, porquê?
"então por que é que as folhas estão a cair?"

                                                  ***


não, não me dava a esta vida para o resto da minha vida. tenho muito para dar, para vender, para fazer, para falar! no entanto, há uma parte de mim que dava uma bela dondoca! nasci pobre. não há cá Luíses Vítores (Louis Vuitton) ou Carlas Marias (Chambel) p'ra mim. a malta conhece bem é as Lojas C (chinês e cigano).
ao fim de quase seis meses acumula-se agora uma sensação de aborrecimento e saturação pela monotonia e consecutivos nãos atrás de alguns foi-por-pouco. é tal e qual como a procura do primeiro emprego ainda que se tenham passado uma dúzia de anos em situação laboral contínua. 
porém, aparte disso tudo, descobri o que é qualidade de vida. agora tenho tempo para ir para o quintal jogar à bola com a minha sobrinha, ou correr atrás dela num "aqui te apanho, aqui te agarro, e venceste-me!"; faço longos passeios com o puto, umas vezes no carrinho, outras no pano; em todos eles, o miúdo quer é descobrir o mundo e eu quero dar-lhe a descobrir o mundo todo e fazer parte do mundo novo dele. agora posso ir ao parque, correr descalça com a minha menina, soltar o cabelo, cheirar as flores, desfazer as folhas secas com as mãos, observar as formigas, que não fazem mal nenhum!, e rirmos! posso ir à praia, cheirar o mar, molhar a pele e enfiar os pés na areia seca e quente do sol. posso sentar-me no chão com o meu filho e brincar com os brinquedos que decoram a minha sala em cor e energia - em cada um deles há um sorriso e um olhar atento e arregalado para a descoberta e saliva, muita saliva - a gata também é uma privilegiada, há tempo para mimá-la e para me mimar com o seu ronronar e o calor do seu corpo. há tempo para tudo e passa tudo muito depressa e é muito solitário, às vezes, também... está na hora de tomar o rumo, que apesar de tudo o que se quer é o bom de dois mundos! o dia já amanheceu, é outro dia para arregaçar as mangas, no intervalo da boa vida, o lado bom de quem está desempregada. procura-se vida activa! a felicidade custa tão pouco.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

menina do algodão doce

a velha espreita à janela.

o gato dorme na soleira da porta.

o sol esquenta o corpo do velho perdido no tempo.

e a menina passa a passo largo. sei lá para onde ou porquê! nem ela sabe...

as espigas de trigo arranham-lhe as pernas torneadas e desnudadas da saia plissada que a mãe lhe ofereceu nos anos; os olhos azuis-mar herdou-os do pai e são tão intensos que até os girassóis rodam ao seu encontro.
levantou vôo nas asas de um estorninho, abraçou-lhe o reflexo das estrelas nas penas cintilantes para depois beijá-las ao de leve como quem beija o Menino e deixou-se levitar até alcançar o algodão das nuvens que via lá de baixo. não são doces, pensou mas fechou os olhos e sorriu. amanhã a travessia poderá ser tortuosa; via, lá de cima, o roseiral cor grená e sentia-lhe o aroma a perfumar os cabelos curtos mas hoje... hoje estava nas nuvens e a ver estrelas.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

água das azeitonas

situações caricatas são comigo, não que sejam constantes mas são, no mínimo, top! uma semana destas fui às compras a um supermercado e, para companhia, requisitei a minha rica maesinha, e, lá fomos os três: eu, ela e o patareco! 

entrámos no supermercado, demos duas voltas p'ra trás e p'ra frente e ao chegar à caixa, atacou-me aquele cheiro característico de "se não fez está p'ra fazer na certa!" 
saímos do supermercado em direcção ao carro. compras arrumadas, sabe Deus como, e íamos a outro supermercado quando reparámos, as duas, que o menino estava molhado.


eu: "humm que estranho..."
mãe/avó: "será xixi?
eu: "não... (fum-fum) não cheira a xixi... (fum-fum) parece que... (fum-fum) cheira a ... água das azeitonas... ?? ... será que o carro das compras estava molhado e não reparámos?!"


e eis a declaração oficial assim que lhe abri as molas das jardineiras entre as pernas: ca-ga-da! não não... uma senhora cagada e rala! um pivete que deus m'a livre! toca de trocar a fralda da criança... e a roupa! em menos de nada era todo um arnesal de tralha e dedos em forma de pinças com toalhitas dodots, umas atrás das outras, o nariz em suspensão de ar e a criança a revirar-se de tal ordem que por pouco nem a forra do carrinho escaparia! em pleno estacionamento, junto ao porta bagagem do carro atulhado em compras para o mês...
"ufa!!! já está!" - constei triunfante com a roupa suja dentro de um saco bem fechado, a fralda cagada no lixo, a criança ao colo da avó e eu esgotada com aquela odisseia!! 
já no outro supermercado, encontrámos a M. que se derrete em gu-gus e da-das cada vez que o vê e mais umas cócegas e "ai tão bonito, o meu menino..." é interrompida pela minha mãe com a seguinte frase: "bonito estava ele antes ainda nem há meia hora!"

água das azeitonas... oh meu Deus!!!

sexta-feira, 20 de julho de 2018

verdades (...)

eis uma nova velha verdade, agora assumida, de várias histórias dignas de enredos de uma novela: "o maior cego é aquele que não quer ver". e, assumida a verdade, surge um sentimento controverso, resignado, avesso, malcriado.
somos meio reis e meio bobos nesta corte. pomos e dispomos como bem nos dá na real gana, achamos nós!, que, ao fim e ao cabo, feitas as contas, andamos à mercê de alguma coisa que nem marionetes. 
a iminência da guilhotina é tão real quanto o brilho da sua lâmina - é um risco sério de vida! 
e no entanto, nesta teatralidade com que pactoamos, o público não se torna mais exigente nem os actores se esforçam para coisa alguma nem nada, nada, nada... não há sequer uma voz-off que socorre ou que alerta para o estado de caos, para onde caminhamos.

andamos iludidos, deslumbrados, cegos.
em boa verdade se pode dizer até que nem consciência há do estado d'alma da gente! e nisto, corre o tempo atrás daquilo que podia ser teu e não é.

quinta-feira, 19 de julho de 2018

leprechaun, leprechaun, onde andas tu?

o lago só tem encanto pelos nenúfares que ali desabrocha; d'outra forma é um poço de água choca.
assim se vê como são as pessoas que nos rodeiam, que nos cercam, que nos sufocam, que nos invejam.

a alegria que a chuva traz é a ilusão do alcance ao fim do arco-íris e não sei se somos todos uma cambada de estúpidos por acreditar em tal possibilidade, se somos uns eternos parvos nesta algazarra ou se entrámos em banca-rota e neste vale-tudo as moedas de ouro que precisamos para entregar ao barqueiro valem nada.

o charco só deixa ver os girinos nadarem entre as ervas enquanto não pegas numa caniça e alcanças o lodo. até tem o seu encanto não fosse o fedor que pensas que sentes por que reconheces a imagem à tua frente.
a sociedade anda assim: muito apregoa ao respeito; muito saúda os bons e velhos costumes do tempo dos meus avós; muito se marimba para a moral e a honra. 
"o hábito faz o monge" e de tempos a tempos para que não
provassem do próprio veneno haviam todos se transformar em carmelitas, dizem que o silêncio é d'ouro. 
ainda não capturei o meu leprechaun, que não posso dizer eu?

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Estrela Polar

se ao menos as lágrimas lavassem a alma...
se ao menos fossem como a chuva de enxurrada...
se ao menos movessem montanhas...
se ao menos, os gritos mudos, fossem os uivos surdos do vento em noites tão calmas como as que antecedem as tempestades no mar...
se ao menos fossem firmes como os pés de galo, no molhe.
se ao menos fossem livres como o catavento no cimo da capela...
se ao menos fossem dia após a noite, que tardou...
se ao menos fossem vida após a morte...
se ao menos fizessem florescer uma flor num prado de erva daninha....

... fosse eu confidente do poeta, que apanha as pedras que estão no seu caminho, com o único sonho de construir um castelo, que faria eu, lá de cima das ameias, com um punhado de flores e os cabelos soltos ao vento?

vento, VAN GOGH

esperava encontrar-me na Estrela Polar!

terça-feira, 17 de julho de 2018

passa a palavra

eis o momento que a vida muda.
TIC...
TAC.

mudou. 

pessoas morreram. pessoas nasceram. pessoas passam por nós sem dar conta de nada.


TIC...

"agora não tenho tempo." 
"estou com pressa." 
"estou atrasada!
"agora não dá."


era o quê mesmo?? quem?? disse o quê? o que é que queria? ah! eras tu... era eu.

TAC!

passou. 
passou o tempo. passaram as pessoas. é um pouco como o título daquele filme... o "E tudo o vento levou", e agora vem outro tempo.
tudo passa.

passava por mim, que agora vamos lado a lado! passar agora só a palavra!

sábado, 14 de julho de 2018

já abriu a época balnear!

deixei anunciado à hora de almoço o ultimato: ao fim do dia vamos todos à praia!! 
praia da GAMBOA, PENICHE, PORTUGAL

a tarde não passou a correr e nos intervalos dos meus apontamentos ia pensando como seria o gesto para "praia". a E. adivinhou os  meus pensamentos entretanto!! (risos) e publicou. vesti o fato de banho - este ano venceu o biquíni para esconder a miséria que o paleo ainda não eliminou - e lá fomos (o pai cansado da birra do patareco, o patareco birrento e a mãe em pulgas para levá-lo, oficialmente, à praia com direito à areia e à água do mar, a toalha de praia e a calções de banho!!) não sei quem foi mais criança! acho até que o único adulto era o pai entre o chapinhar das mãos pequeninas e o espanto da imensidão da água que não termina nunca do menino e o riso rasgado da mãe, que ia registando com fotografias e vídeos cada gesto e a desejar profundamente que a memória não perca o sentimento inexplicável que abala o meu coração. 
não se sabe o que é isto da maternidade sem experimentar e, é mesmo verdade, não há palavras que cheguem para descrever e, também, sejamos sensatos uma vez que seja, somos todas diferentes. 
o melhor disto tudo para mim é voltar a ser criança. ser adulto é uma seca! e na maioria das vezes além de solitário acarreta um peso obsoleto de responsabilidades que parecem intermináveis. ser criança é ser feliz, é ser, é sentir, é viver. puder usufruir de uma nova infância de e com alguém que é tão meu, é a peça complementar que faltava em mim.

não estranhou a areia. não estranhou o mar. parecia ele que toda a vida tinha estado ali, que pertencia ali, que era dali.
 chegámos à toalha, trocámos a roupa ao menino e não resisti! fui ao mergulho! ao meu primeiro mergulho do ano, aquele que parece que lava até a alma!
São Pedro, amigo, esquece lá a chuva, anda!

segunda-feira, 9 de julho de 2018

mares incertos

a verdade não é absoluta, não é única, não é completa.

a verdade não completa, não satisfaz, não supera.

por isso se procura tanto a felicidade dos contos de fadas, o "felizes para sempre" agora e aqui.

e por isso a realidade é tão frustrante, tão contra-sentimento, raras vezes, contra-senso.

raras vezes as lágrimas abafam as gargalhadas na almofada - a percepção que se escolhe é o único livre-arbítrio, que Deus ou alguém ou algo (sei lá eu, não percebo nada do assunto!), que tenho nas mãos.

as minhas mãos são concretas, são palpáveis, mestras do toque, do sentir. isto eu sei. não sei. sinto.

curioso... aquilo que sinto - seja o que for, bom ou mau ou assim-assim - é exactamente o que me atrai. é atracção é o quê? não é real. é falso?! por que é que tem de ser falso? só porque não vejo?? "feliz aquele que crê sem ver". e eu nem sou religiosa. crente sim. e eu creio naquilo que sinto.

e afinal, a verdade é o quê? 
Watercolor/ink/ Museum
ana agostinho

está na verdade o porto-seguro daqueles que não querem ver num mar revolto de sentimentos incertos. eu escolho o mar sem saber nada, sem saber nadar; a verdade estará sempre lá e eu sei sentir. sei? sinto.

sexta-feira, 29 de junho de 2018

sistema de alerta

cá em casa somos adeptos do co-sleeping que é como quem diz em língua de Camões, dormirmos todos juntos, na mesma cama, pais e bebé. de vez em quando, há um nariz molhado com grandes bigodes que reclama o seu lugar e percebi então, que devia era ter uma cama King size. uma das considerações mais relevantes no co-sleeping para segurança do bebé é, ao contrário do que eu pensava, não dormir no meio dos pais; primeiro porque é a mãe quem tem um sistema de alerta instalado no cérebro - hormonas, dizem por aí - que evita que ela caia em sono profundo e, por conseguinte, caia em cima da criança - o pai não tem nada disso - e depois para não ficar no meio de dois corpos adultos que podem realmente magoar um bebé. 
no entanto, de vez em quando, não faço caso das regras e ponho o patareco no meio dos dois, ainda que o mais chegado a mim possível, comigo na beirinha da cama. 
acordei a meio da noite. não o senti perto dos meus braços e deu um salto na cama. ah!, está aqui, um pouco mais abaixo, junto ao meu ventre. tento agarrá-lo, não consigo. uma vez, duas, três e acabo por acordar o J.


" - o que é que estás a fazer?!
" - hum?! ... 'tou a tentar agarrar no menino, não consigo.
" - hã?!
" - o menino! não consigo agarrá-lo!
" - o quê?!
" - opa dorme! deixa-me estar!" e continuava a insistir a tentar agarrar a criança pelas costelas mas dormia tão profundamente que eu não tinha posição para pegar-lhe ao colo. 
o J. ligou o telemóvel para ver as horas. três ou quatro da manhã e eis que vejo o miúdo a dormir, descansado na cama de grades, mesmo ali ao lado, e eu de joelhos, em cima da cama, agarrada ao grosso da perna do pai da criança!!!

sexta-feira, 22 de junho de 2018

de janeiro a janeiro

é remota a sensação do sol do estio, a queimar a pele.
é remota a lembrança do sabor salino, da imensidão do mar.
artista ANAAGOSTINHO

vivos são os arrepios e a pele de galinha; as maçãs do rosto vermelhas, do frio do inverno.

de janeiro a janeiro decorre um ano cheio de sóis, chuvas e nevoeiros.

são recentes, ainda, os murmúrios trovantes que trazem as chuvas de enxurrada, que revoltam as lamas.

longe vai a lembrança da aragem macia ao pôr-do-sol.
acompanha-me a presença fria dos nasceres-do-sol, atrás dos prédios, pela janela da varanda do apartamento.

amanhã a menina levanta-se da cama de algodão, dos dentes-de-leão, guardado no coração.
uma flor no cabelo, um coque na cabeça.
segura um morango entre os lábios e dá um beliscão nas bochechas.
sorriso maroto, de menina traquina, seca as lágrimas que a lua beijou e não secaram na almofada, e segue o seu caminho de pedrinhas até à praia.


paciência e consistência

"Tenta manter-te nos 4. Se fizeres esporadicamente um ou outro não há crise, desde que mantenhas a consistência nos principais." E.F. coaching de babysigns


possas pah! 
cá em casa a conversa é de enfiada com o patareco quando, finalmente, ele me vence pelo cansaço e o pó vai-se acumulando a par com o volume de roupa para passar a ferro.
aqui a pata da mãe vibra com a imensidão do mundo babysigns que começou a descobrir. o recomendado é iniciar com quatro ou cinco gestos no entanto... eu quero tanto, tanto, tanto gesticular enquanto converso com ele!! é que ele fica muito atento a ver-me com as mãos de um lado para o outro e depois ri-se! (isto quando resolve olhar para mim por que na maior parte das situações ele não liga patavina!) 
está ali nos bê-à-bás dele; faz uma pausa; olha p'ra mim; ri-se e eu adorava tanto perceber o que está a dizer assim como ele, certamente, gostava de me entender...
já iniciámos uns cinco gestos: comer, acabou, sono, pai e mamã (mamã porque eu sou uma lamechas!) e há tantos, tantos mais!!


parece que as palavras de ordem são: paciência e consistência!

paciência e consistência
paciência e consistência
paciência e consistência
paciência e consistência
....

e brincadeira!! muita brincadeira!!!

sexta-feira, 15 de junho de 2018

Monólogo entre fraldas

monólogo.
parece que és parva!!! preparada??? para quê?!

fala-se tanto em preparação para o parto mas ficas realmente preparada?! se calhar na parte da respiração, sim, ficas, é tudo uma questão de estado de espírito calmo e sereno e a coisa corre bem mas... e o resto? 
o relógio biológico dispara e fala-se de uma forma muito florida da maternidade e pensas que darás conta do recado...


duzentos e cinquenta dias depois concluis que estás... disposta.
disposta a perder noites de sono apesar da resmunguice (a tua). 

disposta à prisão da mama.
disposta às fraldas cagadas, transbordadas até ao pescoço!
disposta a ter conversas interrompidas. disposta a maquilhagens nem começadas quanto mais deixadas a meio. 
disposta a coques em substituição do penteado pipi e dos saltos-altos pelas sabrinas.
disposta a jejum imposto em prol de um colo.

e depois...


conformada.

conformada com o caos de roupa espalhada, amarrotada, por estender, por lavar... abençoada maria-da-loiça automática!

conformada com o pó que se acumula em todo o lado menos nos brinquedos espalhados pelo chão - e a criança só tem oito meses!! 
conformada com o cansaço e com a insónia e com a interrupção do sono.
conformada com a inexistência das saídas à noite - as minis foram substituídas por biberons de três em três horas para o patareco, água para nós, quando calha!


não estás preparada para as cólicas do bebé.

não estás preparada para o choro que parece interminável.
não estás preparada para o fôlego engolido a meio do choro.
não estás preparada para a cicatrização da cesariana ou outra.


disposta, nunca preparada. 


mas feliz apesar das contrariedades próprias da aventura que tomou conta da minha vida. se fazia tudo de novo? sim! o centro do mundo gira em torno de um umbigo de quem tem meio palmo de altura, pelo menos o centro do meu mundo!