segunda-feira, 8 de outubro de 2018

chegada a casa

e se eu dissesse que te amo tanto que me assusta? 

e se eu confessasse que o cansaço me derrota às primeiras e enfio a cara na almofada só para abafar o som da queda livre das lágrimas? 

eu podia até dizer que te quero mais que a mim mesma e que já não me conheço nas pequenas coisas do dia a dia. 

que quando te grito não é para ti, é para mim mas provoco um círculo vicioso de grito meu e choro teu que só acalma, claro, quando te pego ao colo, te cheiro e me abraças e pronto!... já passou! 

faz hoje um ano que chegámos a casa da maternidade. estávamos agora no silêncio naquele que é para nós o maior conforto e o melhor canto que há no mundo, aquele que é nosso, o nosso lar. de repente, tornou-se, também, o mais assustador. 

por esta hora, há um ano, estava farta de chorar, apavorada com o tamanho da responsabilidade que é ter um recém-nascido em casa, desconfortável com a costura da cesariana, irritada com a maior expectativa que tive toda a gravidez, a ilusão de uma vida inteira, que se revelou ser o meu pior e maior obstáculo e levou-me muitas lágrimas, a amamentação! 
por esta altura sentia-me dividida até com a gata, que mal me recebeu. cheirou-me e afastou-se. cheirou o mais perto ou longe, nem sei, possível, esticada o mais que conseguia permitir-lhe perceber o que se passava naquele casulo que emanava um odor tão forte e uma temperatura tão alta a uma distância considerável segura. 
a gata fugia de mim, assanhada por dias, vi-lhe as pupilas dilatadas, o pêlo ouriçado, o corpo em alerta, os dentes afiados. estava zangada e fez questão de marcar a sua presença. 
por dias não entrou no nosso quarto e eu também não deixei; as primeiras investidas de aproximação foram de suspense; hoje é atraiçoada pela curiosidade mas não dá ainda o braço a torcer ou a pata! 

há um ano, tudo era demasiado. hoje ainda é também. demasiado assustador, demasiado cansativo, demasiado bom, demasiado avassalador, demasiado para a imensidão de inexperiência que há em mim. é devastador - o sentimento que se instala leva-nos a dúvidas, muitas, umas atrás das outras... um ano passou.

pouco mudou mas já nada é o que foi, nada está como estava. tudo passou, efectivamente. daqui a outro tanto tempo quanto este, que já lá vai, virá outra realidade constatar o óbvio. mas se te amo? se te quero mais que a mim mesma? se não sei uma data infinita de coisas? a resposta é sim! sim, amo. sim, quero. sim, não sei.

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