quinta-feira, 29 de março de 2018

mais vale cair em graça que ser engraçado

ah! ser mãe é uma coisa muito engraçada que às vezes não tem graça nenhuma e nem há mal nenhum nisso também.

sempre que o assunto era fraldas, já dizia a minha mãe "ai, se ele for como tu... assim que sentias o cu limpo... era fralda cagada na certa!", eu ria-me!
depois, quando o assunto era sobre a sopa, "ah se ele for como tu... tinha de te enganar com a fruta na ponta da colher para te dar de comer!", e eu ia rindo daquelas histórias.
e se o tema fossem os dentes... txiiii! tragédia grega certinha! era vómitos, era diarreia, era choro de baba e ranho...
outras vezes o assunto era o sono (eu só troquei as noites pelos dias) " blá, blá, blá... três meses... blá, blá, blá...", essa eu temia!


a experiência actual é...


ponto número um: consegue fazer umas caganitas numa fralda; fralda mudada... e sai um cagalhão! já aconteceu ao contrário também. não percebo porque é que não chegou tudo junto, se veio tudo do mesmo sítio!


ponto número dois: a sopa tem dias, ora devora-a como se não houvesse amanhã, ora é preciso reconhecer que o estratagema da avó é eficaz! Por enquanto o crítico tem sido o brrrrrr!! que alguém (o pai) lembra ou os espirros a par à saída da colher de uma boca cheia de sopa!

ponto número três: dentes ainda nem vê-los. sim... a criança baba-se imenso. sim... mete tanto as mãos na boca! 

a criança descobre o mundo com as mãos e a boca! acontece, esporadicamente, nascerem bebés já com dentes e, pode acontecer, nascerem dentes aos bebés mais cedo mas não é nada disso!
quanto às vacinas tem corrido melhor do que esperava vamos a ver se não é uma coisa que se agrava com a idade!


ponto número quatro: o sono... ninguém entende! quando ele tinha um mês e os opinantes a termo certo defendiam a proibição de acordar o bebé, à noite, de três em três horas (que é uma autêntica irresponsabilidade porque nem é um bebé, é um recém-nascido até aos vinte e cinco dias de vida e não se trata de fome mas sim do risco de uma hipoglicemia), agora ninguém tem resposta para o piiquên (aparte: lê-se com acentuação no i e carrega-se no e mas a meia boca porque o n é mudo - é assim que se fala penichêr (tradução:  penicheiro) portanto, como eu ia a dizer, agora ninguém lhe diz, ao piiquên, para dormir a noite toda, que já é um quase rapazeco e que os pais agradecem dormir! claro que rapazeco só o será quando começar a andar mas se ele sair à mãe há-de andar a arrojar o cu pelo chão e gatinhar, que é tão giro, nada!
foto tirada da net
olha... posso sempre pensar em fazer como os americanos que pegaram numa paródia japonesa e elevaram a coisa ao mais alto nível: babygrow-mopa. qual algodão, qual quê!!!

sexta-feira, 23 de março de 2018

março

sombra. 

uma sombra é, nada mais, nada menos, que a ausência de luz.

das coisas que mais prazer me dá é acordar com os raios de sol a espreitar pelos buracos pequeninos dos estores. é um acordar suave. 

estas palavras são um desabafo. são as palavras que não tiveram voz. e por isso começam a querer tirar a minha e sufocam-me! 
de tudo tiramos uma lição. eu aprendi algo. aprendi a conhecer-me.

mas entretanto acabaram-se as sombras. e o sol do meio-dia vai rompendo as nuvens cinzentas e frias deste mês de março.

as frases não fazem sentido. são meio que atiradas para aqui. alguém há-de juntá-las e dar-lhes algum sentido, uma linha de pensamento coerente.

março termina não tarda ainda que o fuso horário aumente este fim de semana...


sexta-feira, 9 de março de 2018

bestas procuram-se

ilustracção de NABHAN ABDULLATIF
engolir o choro é das coisas mais difíceis que há no mundo para mim. seja por orgulho, amor próprio, ou por que o local ou a hora não são os apropriados e já somos crescidinhas - gente adulta não chora! não me lembro, em miúda, de ver um adulto que fosse, chorar. serei eu fraca? não saberei lidar com as adversidades da vida como gente grande? o meu metro e meio não pode ser desculpa para tudo e os trinta já cá estão! 

e no entanto, cá estou eu, uma mulher feita, dona e senhora do meu nariz, esposa e mãe com o choro sentido de uma criança, preso no peito.
às escondidas, as lágrimas que caiem não lavam nem a cara nem a alma nem o coração fica mais leve, nem a razão mais serena. 

...


fui interrompida pelos bigodes ronronantes da bichana; já outras vezes ela me enxugou as lágrimas, me acalmou a alma. hoje, quando olho para o lado, estão uns grandes olhos azuis muito abertos, muito fixos que me devolvem o sorriso no rosto.

eu podia enfiar a cara na almofada até que ela, a almofada, entendesse a dor da ingratidão mas assim como não chegam todas as palavras do dicionário para descrevê-la também de nada adianta vomitar as vísceras, chorar baba e ranho, perder o sono... porque há pessoas assim no mundo que quando olham para ti vêm o teu custo, não o teu valor e num micro segundo tu passas de bestial a besta.

doze minutos

a primeira vez que ali entrei o cheiro era tão característico e tão familiar quanto uns catorze anos antes quando tirei o primeiro dente. vestia uma saia sarja e uma blusa de alças, cor caqui. não percebia patavina daquilo.

a C., de sorriso simpático, explicou-me todo o processo e deixou-me dicas que me permitiriam exercer as minhas funções com uma perna às costas. era alta, morena, já não recordo bem a sua feição mas lembro-me que os seus olhos eram castanho escuros assim como o cabelo que lhe caía dos ombros.

foi me explicado o básico; tudo o resto viria com o tempo.

passaram-se os primeiros meses e embora, tal profissão nunca me tivesse passado pela cabeça, a verdade é que, eu até gostava daquilo. e passaram-se outros tantos meses... o cheiro... entranhou-se, eu acho, sei lá... com o passar dos anos deixei de o sentir; pena! até lhe achava uma certa piada. nunca me causou horrores; nunca tive horrores de batas brancas com a excepção das vacinas mas quem é que gosta de agulhas, não é?

a primeira vez que ali entrei, ele era senhor para os seus trinta anos, a luz da cadeira denunciava-lhe uma calvície que se anteciparia à idade; tinha uns óculos redondos, armação de metal; sem barba, pêra curta; simpático, também.

na recepção, uma velhota com ar típico de avosinha - trinta quilos a mais, cabelo grisalho e meio encaracolado, óculos na ponta do nariz, pele macia da velhice com penungem na cara. fazia renda, levava bolinhos para o lanche, rezava muito e conversava com as amigas, ali mesmo, na recepção... entre conflitos de gerações e mal entendidos pelo meio lá se foram passando os anos. 
depois foi-se embora. quase nunca a vi depois disso.


apareceu uma nova cara. outros conflitos surgiram; estou convicta de que desnecessários e nenhuma de nós teve culpa mas os ventos que sobem aquelas escadas poucas vezes trouxeram bons augúrios; espero que já tenham mudado ou que assim venha a ser.

passaram-se doze anos...

... e doze minutos depois...

... a vida tomou um rumo completamente diferente. outros cheiros virão, outras caras, outros conflitos.