sexta-feira, 20 de julho de 2018

verdades (...)

eis uma nova velha verdade, agora assumida, de várias histórias dignas de enredos de uma novela: "o maior cego é aquele que não quer ver". e, assumida a verdade, surge um sentimento controverso, resignado, avesso, malcriado.
somos meio reis e meio bobos nesta corte. pomos e dispomos como bem nos dá na real gana, achamos nós!, que, ao fim e ao cabo, feitas as contas, andamos à mercê de alguma coisa que nem marionetes. 
a iminência da guilhotina é tão real quanto o brilho da sua lâmina - é um risco sério de vida! 
e no entanto, nesta teatralidade com que pactoamos, o público não se torna mais exigente nem os actores se esforçam para coisa alguma nem nada, nada, nada... não há sequer uma voz-off que socorre ou que alerta para o estado de caos, para onde caminhamos.

andamos iludidos, deslumbrados, cegos.
em boa verdade se pode dizer até que nem consciência há do estado d'alma da gente! e nisto, corre o tempo atrás daquilo que podia ser teu e não é.

quinta-feira, 19 de julho de 2018

leprechaun, leprechaun, onde andas tu?

o lago só tem encanto pelos nenúfares que ali desabrocha; d'outra forma é um poço de água choca.
assim se vê como são as pessoas que nos rodeiam, que nos cercam, que nos sufocam, que nos invejam.

a alegria que a chuva traz é a ilusão do alcance ao fim do arco-íris e não sei se somos todos uma cambada de estúpidos por acreditar em tal possibilidade, se somos uns eternos parvos nesta algazarra ou se entrámos em banca-rota e neste vale-tudo as moedas de ouro que precisamos para entregar ao barqueiro valem nada.

o charco só deixa ver os girinos nadarem entre as ervas enquanto não pegas numa caniça e alcanças o lodo. até tem o seu encanto não fosse o fedor que pensas que sentes por que reconheces a imagem à tua frente.
a sociedade anda assim: muito apregoa ao respeito; muito saúda os bons e velhos costumes do tempo dos meus avós; muito se marimba para a moral e a honra. 
"o hábito faz o monge" e de tempos a tempos para que não
provassem do próprio veneno haviam todos se transformar em carmelitas, dizem que o silêncio é d'ouro. 
ainda não capturei o meu leprechaun, que não posso dizer eu?

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Estrela Polar

se ao menos as lágrimas lavassem a alma...
se ao menos fossem como a chuva de enxurrada...
se ao menos movessem montanhas...
se ao menos, os gritos mudos, fossem os uivos surdos do vento em noites tão calmas como as que antecedem as tempestades no mar...
se ao menos fossem firmes como os pés de galo, no molhe.
se ao menos fossem livres como o catavento no cimo da capela...
se ao menos fossem dia após a noite, que tardou...
se ao menos fossem vida após a morte...
se ao menos fizessem florescer uma flor num prado de erva daninha....

... fosse eu confidente do poeta, que apanha as pedras que estão no seu caminho, com o único sonho de construir um castelo, que faria eu, lá de cima das ameias, com um punhado de flores e os cabelos soltos ao vento?

vento, VAN GOGH

esperava encontrar-me na Estrela Polar!

terça-feira, 17 de julho de 2018

passa a palavra

eis o momento que a vida muda.
TIC...
TAC.

mudou. 

pessoas morreram. pessoas nasceram. pessoas passam por nós sem dar conta de nada.


TIC...

"agora não tenho tempo." 
"estou com pressa." 
"estou atrasada!
"agora não dá."


era o quê mesmo?? quem?? disse o quê? o que é que queria? ah! eras tu... era eu.

TAC!

passou. 
passou o tempo. passaram as pessoas. é um pouco como o título daquele filme... o "E tudo o vento levou", e agora vem outro tempo.
tudo passa.

passava por mim, que agora vamos lado a lado! passar agora só a palavra!

sábado, 14 de julho de 2018

já abriu a época balnear!

deixei anunciado à hora de almoço o ultimato: ao fim do dia vamos todos à praia!! 
praia da GAMBOA, PENICHE, PORTUGAL

a tarde não passou a correr e nos intervalos dos meus apontamentos ia pensando como seria o gesto para "praia". a E. adivinhou os  meus pensamentos entretanto!! (risos) e publicou. vesti o fato de banho - este ano venceu o biquíni para esconder a miséria que o paleo ainda não eliminou - e lá fomos (o pai cansado da birra do patareco, o patareco birrento e a mãe em pulgas para levá-lo, oficialmente, à praia com direito à areia e à água do mar, a toalha de praia e a calções de banho!!) não sei quem foi mais criança! acho até que o único adulto era o pai entre o chapinhar das mãos pequeninas e o espanto da imensidão da água que não termina nunca do menino e o riso rasgado da mãe, que ia registando com fotografias e vídeos cada gesto e a desejar profundamente que a memória não perca o sentimento inexplicável que abala o meu coração. 
não se sabe o que é isto da maternidade sem experimentar e, é mesmo verdade, não há palavras que cheguem para descrever e, também, sejamos sensatos uma vez que seja, somos todas diferentes. 
o melhor disto tudo para mim é voltar a ser criança. ser adulto é uma seca! e na maioria das vezes além de solitário acarreta um peso obsoleto de responsabilidades que parecem intermináveis. ser criança é ser feliz, é ser, é sentir, é viver. puder usufruir de uma nova infância de e com alguém que é tão meu, é a peça complementar que faltava em mim.

não estranhou a areia. não estranhou o mar. parecia ele que toda a vida tinha estado ali, que pertencia ali, que era dali.
 chegámos à toalha, trocámos a roupa ao menino e não resisti! fui ao mergulho! ao meu primeiro mergulho do ano, aquele que parece que lava até a alma!
São Pedro, amigo, esquece lá a chuva, anda!

segunda-feira, 9 de julho de 2018

mares incertos

a verdade não é absoluta, não é única, não é completa.

a verdade não completa, não satisfaz, não supera.

por isso se procura tanto a felicidade dos contos de fadas, o "felizes para sempre" agora e aqui.

e por isso a realidade é tão frustrante, tão contra-sentimento, raras vezes, contra-senso.

raras vezes as lágrimas abafam as gargalhadas na almofada - a percepção que se escolhe é o único livre-arbítrio, que Deus ou alguém ou algo (sei lá eu, não percebo nada do assunto!), que tenho nas mãos.

as minhas mãos são concretas, são palpáveis, mestras do toque, do sentir. isto eu sei. não sei. sinto.

curioso... aquilo que sinto - seja o que for, bom ou mau ou assim-assim - é exactamente o que me atrai. é atracção é o quê? não é real. é falso?! por que é que tem de ser falso? só porque não vejo?? "feliz aquele que crê sem ver". e eu nem sou religiosa. crente sim. e eu creio naquilo que sinto.

e afinal, a verdade é o quê? 
Watercolor/ink/ Museum
ana agostinho

está na verdade o porto-seguro daqueles que não querem ver num mar revolto de sentimentos incertos. eu escolho o mar sem saber nada, sem saber nadar; a verdade estará sempre lá e eu sei sentir. sei? sinto.