quinta-feira, 30 de setembro de 2010

a cavalo dos sonhos


foto de rodrigo loureiro

no galope do cavalo bate o meu peito, de sentimento hasteado, ao sabor do vento. entre portas e travessas oiço um cuchicho; nos vales dessas montanhas verdejantes escuto um eco do grito do Ipiranga, vindo do outro lado do oceano. puxei o elástico que me segurava o poney-tale e  soltei as pontas loiras do meu cabelo fino, fazendo o gosto à aragem selvagem desse mundo desconhecido. fechei os olhos... e adormeci no algodão dos meus lençóis perfumados a laranja e lima-limão.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

maçã do amor

Cheguei a casa farta do mundo. liguei a tv. sentei-me no sofá. parece que o mundo anda sempre do avesso!... sempre as notícias do costume - as guerras partidárias (que perda de tempo!), as finanças defraudadas do mundo, a fome aos gritos na voz da cáritas, o ar desconfiado de quem vai na rua. levantei-me; fui aquecer o meu jantar e jantei, sozinha, uma vez mais - como detesto estar sozinha nas refeições principais!!... mais guerras partidárias  e finanças defraudadas do mundo, a fome aos gritos na voz da cáritas, o ar desconfiado de quem vai na rua. arrumada a cozinha, olhei para a miséria das minhas unhas, sempre lascadas, frágeis e sem graça nenhuma!, decidi arranjá-las. gosto daquele verniz dela. pedi-lhe que mo comprasse e ela, querida como sempre, assim o fez. limpei vestígios antigos de verniz, limei-as uma a uma e... uma pincelada, outra pincelada... unha a unha a mão foi ganhando cor. não uma cor qualquer. aquela era a cor do amor, da mulher que sabe o que quer e como quer e como há-de ter. olhei para a televisão e desatei a fazer zapping furiosamente na esperança que aparecesse algo em segundos que me captasse a atenção sem me enfadar dali a nada - tenho dias de extrema exigência - é impressionante! nada! só guerras partidárias (que perda de tempo!), as finanças defraudadas do mundo, a fome aos gritos na voz da cáritas, o ar desconfiado de quem vai na rua. aaaarrrr!!! olhei para as minhas unhas. um bocadinho borradas mas nada sem correcção de picuinhas. segunda demão. novo zapping! e... de novo as guerras partidárias (que perda de tempo!), as finanças defraudadas do mundo, a fome aos gritos na voz da cáritas, o ar desconfiado de quem vai na rua. novelas. séries. optei pela private clinic, 2ªtemporada na rtp2 e depois... zapping! e... novelas. vi apenas uma. e fui buscar a acetona e uns palitos para conseguir melhorar o aspecto das minhas unhas lindas de morrer com este vermelho da risqué, maçã do amor. fui tomar um banho. um banho quente e demorado. fiz uma breve esfoliação na cara e embrulhei-me na toalha. o meu afilhado vai fazer anos. o meu namorado também. os dois no mesmo dia. escolhi o vestido verde, da ana sousa que comprei agora em saldos e que me cai que nem uma luva... sapatos? hummm... não tenho sapatos... mais um prolema a resolver. maquilhagem? simples, nada de grandes exageros, não quero rouges nem bases-plástico na minha pele. lápis, rimel e baton de cor quase neutra e estou pronta. cabelo? humm... simples ou apanhado? tenho de ir pensando. há coisas que as mulheres têm de ir pensando com relativa paciência e de forma diária - como as maçãs amadurecem dia-a-dia... ai as maçãs, as maçãs...

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

pin-up

ah!... as pin-up! tenho uma verdadeira adoração por elas. são aquilo que as mulheres nos dias de hoje já não sabem ser, não têm nada do que estas mostram e simbolizam. 
as raízes vêm da bela Paris - aonde espero ir um dia destes - aquando da arte noveau com ALPHONSO MUCHA e JULES CHERET (que, confesso, desconheço a obra) mas MUCHA e as suas meninas de cabelos ao vento apaixonam-me desde sempre. segundo conta a história a arte dos posteres desenvolveu-se em escola ensinando e ajudando artistas por vinte anos mais. não foi um processo fácil de inserção na sociedade visto haver regras de conduta bem superiores às dos dias de hoje mas a pouco e pouco as musas acompanharam também as caixinhas de bombons das senhoras além das embalagens de cigarros dos monsieurs.
perguntam, talvez, o que me desperta tanto interesse numas ilustrações. é simples. são sensuais. são bonitas. são inocentes. três palavras são suficientes para distinguir as pin-up de outro qualquer tipo de ilustração ou figurino.
simplicidade. sensualidade. beleza.
aparecem sempre de grandes sorrisos. vestidos esvoaçantes. poses banais. sempre de saltos altos independente da roupa, momentos quase únicos.
no entanto, a pin-up não é uma mulher, de todo, real; é fruto de fantasias e não aquela que julgamos uma típica dona de casa (embora eu ache isso muito mais interessante). depois há um outro lado donde parte a curiosidade embora essa tenha sido exterminada com o aparecimento da playboy - não tenho nada contra mas é verdade - a sexualidade das pin-up nunca está explícita, é sugerida enquanto a nossa revista actual não dá a entender nada pois está tudo muito claro.
com a entrada do século XX e HOLLYWOOD em expansão houve um grande avanço desde a atitude das meninas retratadas quanto dos artistas e produtores. a partir desta altura surgiram as pin-up de carne e osso em nomes como BETTY  PAGE e NORMA JEAN(MARILYN MONROE). aparte disto foram também um grande entusiasmo e ajuda aos soldados norte-americanos quando partiram para a segunda guerra mundial; algumas delas aparecendo pela primeira vez nas revistas masculinas com os seus pelos pubianos à vista. cada época tem uma imagem pin-up ícone e assim se nota a evolução dos tempos e da imagem da mulher na sociedade masculina.
sou menina atrevida. e confesso-me, sinto-me uma pin-up em determinadas alturas: frente ao espelho, quando troco de roupa, quando vou na rua.
está na natureza das mulheres de outros tempos que a minha mãe passou para mim e tenciono passar um dia para a minha filha... o olhar. o andar. o sentir.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

linhas

é uma linha fina,
       fina como a tua pele.
a neblina no horizonte.
   fria e delícia. delícia em mel
ao toque dos meus lábios.

fecho os olhos e escuto
    a tua voz em mormúrio
sinto o cheiro lampeiro
         que se alastra em nosso redor
só quando te toco,
te vejo melhor, te sinto melhor,
               te amo melhor.

porque te amo um amor estranho
      um amor de que nunca ouvi falar
            que me suscita a curiosidade
         e em verdade, eu confesso-me...
              sinto-te
nas minhas entranhas!

a neblina cerrou.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

primeiro dia de aulas

era mais uma tarde de sol. uma tarde como muitas outras. ouvi a carrinha. o pai tinha chegado. corri para o portão. a mãe veio logo atrás. não me lembro o que tínhamos vestido para além das habituais calças de fazenda do pai. e da carrinha cor-da-pele, dos banquinhos atrás para mim onde eu gostava tanto de ir. "a tânia 'tá na altura de entrar na escola. já me fui informar." eu? na escola? outras crianças como eu? senti uma felicidade que ainda não hoje não sei descrever. foi um misto de inocência e curiosidade, julgo. imagino que não tivesse dormido sossegada e calmamente como era hábito da excitação. lembro-me do meu primeiro dia de aulas. uma professora velha. gorda. de óculos entre a ponta do nariz e a face enrugada da testa. olhos castanhos. cabelo arranjado em permanente. grisalho ou seria castanho? ainda hoje a vejo, há imagens actuais que se misturam nas minhas memórias. mas lembro-me que era costume meses depois ela usar uma saia até meio da canela num tom amarelado e axadrezado. eu gostava daquela professora. fazia-lhe desenhos em casa e leva-lhes. um desses desenhos não sei que o que rabisquei no papel por que a minha memória destaca o dia. um dia de chuva daqueles, um autêntico dia de inverno. céu nublado. frio por todo o lado. a chuva ouvia-se a cair no alpendre. ah o alpendre um misto de cheiros. o cheiro da terra molhada da chuva fria. a chuva que cheirava a terra. ervas nos canteiros junto dos muros cheios de recortes, brancos e gastos do tempo. a minha mãe andou naquela escola primária. e o alpendre no meu tempo cheirava a marmelada. a fiambre. a vianinhas. a tulicreme. e era barulhento. brincava-se à cabra-cega. corria-se ali. o piso, velho e gasto do tempo, era escorregadio e num manto de humidade outonal era um acepipe para as nódoas infantis. em dias de sol brincávamos à apanhada, nos baloncés, como eu lhes chamava, e saltávamos uns ferros que eu nunca percebi a sua verdadeira finalidade mas dava para fazer verdadeiras cambalhotas ali. havia muita areia - não é como hoje, que inventaram aquele piso antideslizante onde não se apanham pulgas nem palmadas no rabo por os pés terem mais areia dentro dos sapatos que o espaço ocupado pelas meias, onde não podemos inventar castelos de areia e quando caímos dói menos que agora. ainda hoje se mantêm firmes as nespereiras. que doces... e grandes! sempre fui a mais pequena. a primeira vez que me medi tinha pouco mais de um metro, um metro e vinte e nove centímetros, devia andar na casa dos oito anos. era e sempre fui a mais pequena. coisa estranha achava eu quando no meu último ou penúltimo ano da escola primária, entraram naquele ano uns quatro irmãos e a mais velha deles todos era enorme. era tão alta que chegada ao topo do quadro preto cheio do pó branco, do giz. ela era maior que a professora e aquilo para mim era uma coisa estranha. no meu entendimento nenhum aluno devia ser maior que a professora. mas enfim! ela era...
cada ano foi uma aventura por si só. quando passei para a escola básica o primeiro dia foi mesmo a estreia. uma escola grande. tantas portas. e não acertava com nenhuma. umas fechadas. muitas janelas. e nada de encontrar uma porta aberta. depois quando encontrei uma foi a custo que a contínua me deixou entrar por que, segundo ela, aquele era acesso reservado a professores mas depois de explicar que já tinha tocado e eu estava perdida e nem sequer sabia aonde era a sala lá me deixou finalmente passar da porta. depois tinha de encontrar a sala. e ninguém sabia aonde era a sala EVT1, como é que era possível?! lá a descobri, mesmo ao lado da porta da casa de banho das meninas. o professor foi um bacano - deixou entrar sem marcar falta. ainda hoje o vejo. e cumprimentamo-nos. lembro-me de todos os professores que tive, falham-me os nomes de alguns. todos se lembram de mim.
um ano depois de ter acabado o secundário foi o pior ano de sempre. terminados os estudos nunca mais tive nas mãos o cheiro dos livros novos, a excitação a bater forte no coração, as dúvidas do que comprar ou não. horários loucos para cumprir. e fiquei à janela a ver o início das aulas começar sem mim...

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

pessoas sérias são uma seca, como dizem os jovens hoje em dia

as habituais reacções pouco esperadas.
ora não há nada tão constrangedor quanto uma colonoscopia. e a preparação é horrível.
deite-se para a sua esquerda. qual é a esquerda, qual é a direita...?  deve ser da fome. risos. histórias habituais que se ouve durante o processo de um exame: o fulano reagiu mal; a criatura não deixou fazer nada. uma miséria. enfim! homens! terminam assim com esta exclamação convicta as enfermeiras/auxiliares, no gabinete, à minha frente. olham para mim. estou a rir daquela situação inusitada e digo-lhes que estão à-vontade para partilhar experiências boas também. o médico entra na sala. é novo. na casa dos trinta aninhos. tem um ar simpático. olhos castanhos. barba curta. cabelo curto também. é magro. e jeitoso. pergunta quem está de serviço. só mulheres. ri-se e diz que não sabe o que faça à sua vida que anda sempre rodeado de mulheres - três em casa mais todas as outras no hospital. ninguém trata melhor que as mulheres senhor doutor! o doutor diverte-se e seguimos o procedimento habitual - nome. qual é a vez do exame. primeira, senhor doutor. humm... isto não custa nada. vou fazer duas maldades. e fez. fez-se o exame e em vez de ter dores, segundo percebi pela insistência da questão, tive umas repentinas cócegas. marotas ãh?! logo ali. aquilo caiu em graça e foi difiícil seguir o exame. depois doeu. e tive que respirar fundo. de certeza que não dói nada? só um bocadinho mas nada que não se aguente. eu sou uma menina valente senhor doutor! risos. muitos risos. e devo ter corado por que senti um leve calor na face quando caí em mim segundos depois. por acaso é coisa que não percebo o porquê de ter este género de reacções. seria de esperar respostas mais do tipo afirmativo/negativo e sem acrescentos. mas não a menina taniah tem mesmo a mania de se armar em engraçada. enfim! se alguém quiser opinar a esta minha dúvida esteja à-vontade mas como hoje em dia os jovens falam aquela linguagem que ninguém entende, no meu tempo de escola dir-se-ia algo como "as pessoas sérias são uma seca!"



p.s.: está tudo bem, já agora.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

momentos a sós

detesto momentos a sós comigo mesma. é das coisas mais aborrecidas que posso fazer. não me apetece falar sozinha - nunca me entendi muito bem comigo mesma. acho até que me considero uma chata! gosto de falar com outras pessoas. agora... eu comigo?! é um bocado estranho. diálogos (ou serão monólogos?) bem, seja lá o que for, é uma espécie de conversa pouco certa de razão. ora há mútuo-acordo entre ambas ora instala-se a dúvida! ora tudo parte de um princípio céptico ora tudo é um poço de dogmatismos incontornáveis, certezas inabaláveis. questões encerradas! enfim! mulheres dirão! talvez! ah e tal... qual é o signo mesmo? carneiro. ah pois... pois é... e tal e coiso.

fome é de três dias!

Portugal é país de tradições. de mitos e histórias. de ditados e provérbios. "fome é de três dias" e ah! eu gostava de saber quem é que inventou uma coisa destas! e quando e porquê. amanhã vou fazer uma colonoscopia. a preparação está a custar um bocadinho. não posso comer nada a não ser os caldos knorr, o caldo da canja ou gelatinas; café, chás, águas e sumos bastante diluídos.
"a mulher quer-se como a sardinha - pequenina e redondinha!" e eu faço jus à dita. gosto da bela comida portuguesa - os cozidos, as caldeiradas, as jardineiras... e agora ando por aqui a definhar com fome entre as gelatinas de laranja, de pêssego, ou de ananás, de morango... e ice tea e abatanados ao pequeno-almoço. chás depois de jantar... sumos no lanche... até amanhã às quinze horas! castigo!!!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

porque sim e pronto!

ora... aqui vai mais uma situação descabida da taniah!!
ontem fui ao arena shopping. estacionei o carro no piso do costume - nem sei por que teimo em estacionar sempre no mesmo piso e não vou alternando... acho que me perco. entrei na parte das passadeiras rolantes, do lado da loja dos animais. espreitei para ver qual era o canino que lá se encontrava; era um bichon não sei das quantas e pensei cá comigo como a raça era infeliz... um nome daqueles em certas bocas e lá se vai a dignidade, mesmo canina que seja. bem segui o meu caminho pensando nos coelhos fofinhos que lá continuam uns após outros e como eu gostava de ter um mas o meu querido namorado - santa paciência - desde o dia que me respondeu com grande seriedade que "coelhos só no tacho!" ao que nem respondi tal foi o estado de parva em que fiquei. mais vale não arriscar. bem aquilo passou. mas eu continuo a gostar dos coelhinhos que vejo à venda na loja dos animais.


lá segui viagem rumo à multiópticas e depois à zippy e depois à sport zone e depois logo se via. só que... a meio caminho dei de caras com a publicidade do novo relógio da swatch e não resisti, entrei na boutique dos relógios e espreitei o preço. o costume. os olhos da menina taniah nunca são muito modestos - por isso é que nunca peço prendas quer sejam de natal ou de aniversário.
"- se precisar de ajuda diga." (o atendimento ao público devia mudar um bocadinho; em cada loja que entremos seja do que for a intercepção das lojistas é sempre igual!)
"- ah... obrigada... estava a ver o novo relógio da swatch..."
"- quer experimentar?"
"- olhe já agora... assim se não me ficar bem tiro-o já da minha idéia."

modéstia aparte até acho que me fica muito bem aquele em tom de roxo. agradeci à saída e rumei ao meu destino.
dei as voltas todas que queria e mais alguma.
no regresso entrei na loja dos animais. percorri o corredor e jamais imaginei a quantidade de bonecos que se vende para todo o tipo de companheiros de duas e quatro patas e sei lá!
"- boa noite! o que eu devo saber antes de comprar um esquilo?"
talvez a pergunta seja descabida mas é importante sabermos que tipo de animal pomos dentro de casa. ora fiquei a saber que têm uma duração de vida entre os três e os cincos anos. são muito gulosos. comem sementes de girassol, nozes, avelã (mas isso eu já sabia pelo anúncio dos cereais clusters) e peças de fruta. nao há, no mercado, vacinas para esquilos. são velozes. se fugirem basta uma marmita mais deliciosa para os capturar. mordem como o raio só nos safamos com uma luva de borracha e mesmo assim... e - isto chocou-me - não podem viver juntos. perguntei se macho com macho ou femêa com femêa e o senhor, muito prestável, respondeu que nem o casal deve a não ser que seja altura do cio porque se matam uns aos outros. fiquei chocada. então um animal tão fofo, tão divertido, é um assassino?! soube da experiência de um cliente que tinha arriscado a juntar o macho com a femêa e até certa data estava tudo a correr lindamente. mas numa manhã como qualquer outra foi dar com o macho ao lado do corpo da companheira sem cabeça. o macho comeu-lhe a cabeça!!!! como é que é possível?! e pensar que considerei ridículo um anúncio da MTV do esquilo, que pelos vistos é um hamster... bem... que mais hei-de dizer? os porquês têm a sua idade por algum motivo.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

carta aberta aos meus amigos das horas difíceis

fui ao encontro da minha gaveta da mesinha de cabeceira uma noite destas. abri-a. revistei papéis e papelinhos que tenho por ali espalhados - a desarrumação do costume - encontrei. aquela sebenta de capa negra, tamanho A5. "ora deixa cá ver à quanto tempo não te escrevo aqui..." março. era a última data assinalada. e ainda por cima nem era grande coisa as letras que atirei naquelas linhas azuis claras ou serão cinzentas?! aquele poema mais parece um amontoado de riscos a que aprendemos na escola ser o abc da nossa educação. a escrita. caligrafia. txiii....!!!! também não tinha sido o dia mais inspirador. o tema. mal estruturado. uma  miséria, em suma. mas há muito tempo que não me dedico à minha poesia, companheira à largos dez anos... "não sei o que escrever...", pensei. folheei página a página no sentido contrário do tempo. bem... isto foi escrito por causa daquela paixão fogosa. este por causa daquele desgosto fortíssimo de amor, que pensei que a minha vida tinha acabado ali. estes... humm... bem estes são demasiado específicos para requererem uma explicação.
na verdade, desde que me tornei bloguista, o meu caderninho, fiel, companheiro, presente. tem estado esquecido na gaveta da minha mesinha de cabeceira... tenho saudades de escrever daquela forma mas não sai nada... enfim! esperar que o tempo traga alguma coisa que desponte a minha inspiração.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

coisas do tempo que o tempo tem

uma mísera área fria. cinzenta. desprovida de qualquer panfleto indicativo, informativo, colorido. a porta dava acesso a umas escadas para o piso inferior. não me lembro do piso em que estava. depois havia outra porta. daquelas grandes que se empurram. tudo linhas rectas. desprovidas de curvas, de harmonia. cores baças. estava naquela sala de espera devia ter os meus oito anos. não percebia bem o quê só que algo não estava bem. aos oito anos tratam-nos com oito anos, não nos explicam as coisas como seria suposto. a minha mãe adorava fazer-me tranças com o cabelo molhado na noite anterior para que de manhã ficasse com efeitos no cabelo comprido de menina. gostava de me vestir com vestidos. e eu nunca me importei. naquele dia (não me recordo se era manhã ou de tarde, estive lá tantas vezes durante tantos meses) fiquei breves minutos sozinha que me pareceram uma verdadeira eternidade. inclinei o meu corpo até aos joelhos. levei as mãos à cara. chorei.

ali estava uma criança sozinha a chorar.

a mãe entrou naquele instante e senti-me envergonhada. não queria que se importassem comigo naquele momento. queria a minha mana. a mãe perguntou-me o porquê das lágrimas.
"- não quero que a mana morra!", disse em voz trémula. a mãe mal soube responder tal era o nó na garganta e o aperto no coração. acalmou-me. não me recordo do que ela disse mas enxuguei as minhas lágrimas de menina.

lembro-me de numa tarde de inverno, chuvosa ter puxado por ela para brincarmos as duas à chuva. ela constipou-se de tal ordem que fiquei de castigo. achei que tinha cometido uma crueldade do tamanho do mundo. que ela adoecera por minha culpa. lembrei-me disto naquele segundo seguinte quando voltei a estar a sós naquela área que cheirava a hospital. sabia que o estado dela não tinha sido eu a provocá-lo mas os remorsos de criança despertaram naquele momento.
meses depois a minha mana a quem tinha dado o nome, de quem tinha dito que se fosse um rapaz que dava à vizinha, que nascera no meu aniversário com uma hora e um quilograma de diferenças, meses depois... falecera.
nunca mais nada voltara a ser como dantes. nunca mais houve roupas iguais para as duas apesar da mão cheia de anos que nos separava, nunca mais houve coelhos de páscoa feitos na escola com amêndoas lá dentro nem disputas por tudo e por nada nem o tratamento.

a questão é: como é que uma criança de oito anos tem a percepção de algo tão ruim estar à sua volta? e como é que lida com isso no presente e no futuro?

dizem que o tempo cura tudo e com o tempo tudo passa. não cura coisíssima nenhuma. não passa nada. para mim as feridas do coração são como as nódoas difíceis de tirar: o pano amarelece, cheira a bafio, desfaz-se e a nódoa permanece lá cada vez mais escura...

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

dentistas? aaaaaaaaahhhhhh

a culpa é dos media! e dos cartonistas! e das avozinhas!!!

fazem estas imagens assim que aterrorizam o imaginário das criancinhas!!! lágrimas que saiem disparadas dos olhos do paciente, pés fincados no peito do desgraçado, um ar esgazeado de quem grita até ficar sem voz, mãos roxas do aperto seguro do dr., uma cadeira nada ergonónica e um ar maquiavélico que mete dó!

depois há as avozinhas! nunca mais me esqueço daquele diz em que uma avozinha, de ar simpático, era um porte de pesadelos ambulante!!! trouxe a netinha, pela primeira vez - que erro de principiante. nunca, mas nunca se deve trazer uma criança pela primeira vez ao dentista para arrancar um dente nem que seja o da frente - para a extracção de um dente decidiu, ou seja, de leite. a menina sentou-se, ligámos a tv no canal do panda, aumentei o volume, explicámos o que se ia passar e naquele preciso momento em que já tinhamos ultrapassado a agulha, a anestesia... entra a velhota em acção contando a dramática experiencia da sua vida, no gabinete ao lado, "ai menina doeu-me tanto ete desgraçado deste dente!!! olhe menina o médico queria arrancar e nem era capaz!!! era só sangue e o dente não saía nem por nada!!!...." fiquei  parva com aquela cena mas lá ia dizendo que não valia a pena recordar-se de tais incidentes, que os tempos agora eram outros!
felizmente a menina deixou fazer o tratamento.

depois inventam os media, os cartonistas e outros que mais queiram vir inventam destas. de sorrisos abertos, beeeeemmm abertos, um abiente de perfeita harmonia entre dentista e paciente... recorrendo ao humor de uma forma bem mais hilariante de maneira que ficamos todos de boca aberta na mesma mas com um espírito parvo!

vão ao dentista! não é nada do outro mundo!
não estamos na índia ou na china, relaxem...

bengala do avô manel

impressiona-me coisas tão simples como os objectos do uso diário são capacitados para nos remeterem a um déjà-vu repentino e inesperado. outro dia falei-vos das matrioskas. não vos contei que comprei umas para mim. um conjunto de cinco elementos, de linhas simples, as cores tradicionais. na verdade, o meu namorado ofereceu-mas e... agora que falo nisto imagino-os juntos, ele e o meu tio, a fumar o seu cigarrinho, à entrada daquela garagem onde brinquei tantas tardes de sábado e adivinhava lá pernoitar. oiço, ao longe, o som das araras enormes, sempre me pareceram aves enormes, e o sol a descer no horizonte, atrás de uma serração antiga, e todos nós ali como se nada, nunca, tivesse mudado.
comprei-as na feira de artesanato internacional que decorreu nos últimos dias de agosto em peniche. é já a segunda vez que lá vou, e este ano tive a proeza de lá ir umas quatro vezes, e comprar. e regatear, também. sou muito regateira, regateio tudo. o ano passado deixei-as ir mas este ano, não. não podia dar-me a esse luxo. sentia um apelo no coração cada vez que as via... mas eram todas tão giras e eram tantas... só as comprei no último dia, na última hora que tinha oportunidade para tal.
todavia, nos dias antes, fui namorando outros objectos como aquelas cadeiras trabalhadas à mão pelos africanos que as elaboram com motivos naturalistas ou animalescos. comprei duas por cento e quinze euros. foi um bom negócio. o vendedor queria setenta euros cada uma. depois, mais à frente, completamente imprevisível dei de caras com umas bengalas. e as bengalas recordaram-me o avô paterno. sempre o conheci velho e tinha o mesmo nome que muitos outros velhos daquele época - manel - e era para mim o avô manel até por que era o único que tinha, o materno morrera de enfarte era eu pequenina, mal me lembro dele. mas o avô manel simbolizava para mim a experiência, a vida. os anos árduos da lavoura talhara-lhe as mãos robustas, os anos da vida tingiram-lhe os escassos fios de cabelo, e aquele olhar azul envelhecido tinha uma ternura que nunca mais vi em ninguém. sempre o conheci velho, sempre velho e sempre acompanhado da sua bengala típica de muitos outros. não sei que madeira era aquela, recordo-me que tinha dois tons, amarelo e preto, o toque era muito suave, talvez tivesse sido envernizada... claro que, estas bengalas com que me deparei na feira, em nada eram familiares à do meu avô manel mas foi o facto destes objectos ainda existirem em formas tão toscas que me recuou no tempo quando parei no meio do caminho para as observar. o meu avô já morreu já faz se calhar uma década e não sei o que foi feito da sua bengala...