sábado, 27 de outubro de 2018

a companhia das palavras à solidão

são palavras. serão sempre palavras...
inesgotáveis, insuficientes, desvalorizadas, sobrevalorizadas...

valem o que valem para o bem e para o mal mas serão sempre honestas. serão sempre reflexo do meu interior mais inóspito. serão sempre um achado inacabado de mim como um diamante em bruto. e nunca cessarão de sair do meu peito. saiem-me da boca p'ra fora, algumas, outras são tão difíceis de proferir como as lapas, na rebentação das ondas contra as rochas, descolarem. e ainda que fosse feita uma pesquisa minuciosa da gramática para melhor exemplificar a semântica da minha expressão arrisco que não há categoria ainda... ou se calhar até já há, sei lá! (nunca fui um exemplo a gramática e agora com a treta do novo acordo ortográfico que só o meu país aderiu fica difícil até saber escrever quanto mais falar.)

eu sempre fui boa companhia para mim. desde cedo que me habituei a estar só comigo. eu e as bonecas. eu, as bonecas e os ferros de engomar estragados que se transformavam em viaturas futuristas. eu e as caniças transformadas no meu imaginário em burros enquanto cantarolava a música do burrito. eu e eu. 
havia grandes conversas e não, não tive amigos imaginários; curiosamente, achava estranho imaginar alguém que ninguém visse além de mim. 
cresci. é fiquei uma jovem adulta chata, aborrecida. 
escrevo para gostar mais de mim, acho.

mas não gosto de estar sozinha.
já me disseram "é uma coisa que vem com a idade". acredito. também não sou nenhum velho do Restelo mas continuo a preferir a presença de estranhos na rua a estar em casa, sossegada - nunca foi um bom presságio ou tem de haver um motivo muito forte.
seja como for são palavras que aqui ficam, lidas sabe se lá por quem! escritas sabe se lá por quem! Com motivos tanta vez desconhecidos ainda que possam achar que sabem.
são palavras. serão sempre palavras...
inesgotáveis, insuficientes, desvalorizadas, sobrevalorizadas...

1 comentário:

  1. ninguém gosta de estar sozinho!

    mas só ficamos sós se não tivermos coragem de falar e logo aparece uma companhia para , sei lá, dois dedos de conversa tonta que ocupam um bocadinho de tempo, suficiente, para acabar com a solidão, mas pronto, quem sou eu, que passo os dias só

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