quarta-feira, 3 de outubro de 2018

parabens!

levantei-me cedo. tomei banho. vesti uma roupita. 
saímos para tomar o pequeno almoço: uma arrufada com queijo e fiambre e um galão escuro. pusemo-nos a caminho e pouco passava das nove e meia quando dei entrada na maternidade. 

 faltou à médica um pingo de humanidade compensada pela atenção das enfermeiras e auxiliares! 

 agora é esperar. 
e esperei. 
esperei o dia todo. 
chegou a noite e continuei à tua espera entre "piscinas" e exercícios na bola de pilates nem ia olhando para o telemóvel para não ter de lidar com a curiosidade de mundo e meio (entre amigos e família não me deixaram espaço para criar qualquer tipo de ansiedade). lembro-me de sair um dia das aulas de preparação para o parto e comentar com as outras gestantes que não estava mesmo nada preocupada, viria quando quisesse e fosse a sua hora e no fundo eu sempre soube que estava para longe e que seria tal qual como foi, além disso eu tive de gerir a ansiedade de tanta gente que não tive tempo para dar espaço e voz à minha. 
na madrugada de terça-feira houve umas dores mas nada que não se conseguisse suportar. de manhã, quando a equipa médica fez a visita e o respectivo toque ainda estava tudo na mesma: zero de dilatação e eu descansada e fresca como uma alface... até à última! 

dez horas. 
o J. não tinha chegado ainda ao pé de mim e a decisão estava tomada: cesariana. 
foi assustador. por todas as razões. 
por que era uma cirurgia. por que ia ficar com uma cicatriz. 
por que sempre soube que iria ser assim desde o início. no corredor, na maca, vi finalmente o J. e por segundos quebrei o muro de certezas inabaláveis e os meus olhos encheram-se de água. disfarcei! - os adultos não choram. 
a parte que mais me incomodou foi a espera num espaço frio e feio, literalmente cinzento. 
aproximou-se de mim uma senhora já de idade avançada. viu-me. cumprimentou-me. perguntou-me se estava nervosa. (soube depois que era a médica anestesista. tem um nome invulgar e foi de uma meiguice incomum). 

entrei no bloco. tudo ainda mais frio, ainda mais cinzento. sente-se um aparato de material mas não se vê nada. há música de fundo mas não se distingue bem, pelo menos eu não distingui, estava demasiado focada na anestesia - para quem não queria levar epidural toma lá a raqui! e depois tu nasceste! 

aquele primeiro choro foi a certeza do começo da nossa aventura! choraste outra vez e quando te vi...: "é tão lindo!", disse quase sem voz e pensei que era a cara do pai chapada!  

apagaram-me. quando voltei a abrir os olhos só sentia frio e a voz não saía. o J. apareceu de rompante ao pé de mim. e eu só quis chorar! só queria aquele abraço, aquele conforto, aquele beijo. a viagem para o quarto parecia interminável mas pelo menos não havia lá mais ninguém. eu não queria ver ninguém. queria ser só eu e o meu bebé. chorar de medo de uma mudança tão radical na minha vida e maravilhar-me com isso ao mesmo tempo. 

"ele é tão bonito...
"um narizinho tão pequenino...
"moreno, olhos azulados...
"os dedos são compridos e fazem lembrar as mãos dos pianistas...
"ele é tão pequenino... a roupa sobra-lhe!

foi só o começo da descoberta de um mundo novo e assim será até ao fim dos meus dias. 

 parabéns patareco!

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