quinta-feira, 23 de agosto de 2018

qualidade de vida sob a perspectiva do desemprego

"tia, já é outono?
"não sobrinha, porquê?
"então por que é que as folhas estão a cair?"

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não, não me dava a esta vida para o resto da minha vida. tenho muito para dar, para vender, para fazer, para falar! no entanto, há uma parte de mim que dava uma bela dondoca! nasci pobre. não há cá Luíses Vítores (Louis Vuitton) ou Carlas Marias (Chambel) p'ra mim. a malta conhece bem é as Lojas C (chinês e cigano).
ao fim de quase seis meses acumula-se agora uma sensação de aborrecimento e saturação pela monotonia e consecutivos nãos atrás de alguns foi-por-pouco. é tal e qual como a procura do primeiro emprego ainda que se tenham passado uma dúzia de anos em situação laboral contínua. 
porém, aparte disso tudo, descobri o que é qualidade de vida. agora tenho tempo para ir para o quintal jogar à bola com a minha sobrinha, ou correr atrás dela num "aqui te apanho, aqui te agarro, e venceste-me!"; faço longos passeios com o puto, umas vezes no carrinho, outras no pano; em todos eles, o miúdo quer é descobrir o mundo e eu quero dar-lhe a descobrir o mundo todo e fazer parte do mundo novo dele. agora posso ir ao parque, correr descalça com a minha menina, soltar o cabelo, cheirar as flores, desfazer as folhas secas com as mãos, observar as formigas, que não fazem mal nenhum!, e rirmos! posso ir à praia, cheirar o mar, molhar a pele e enfiar os pés na areia seca e quente do sol. posso sentar-me no chão com o meu filho e brincar com os brinquedos que decoram a minha sala em cor e energia - em cada um deles há um sorriso e um olhar atento e arregalado para a descoberta e saliva, muita saliva - a gata também é uma privilegiada, há tempo para mimá-la e para me mimar com o seu ronronar e o calor do seu corpo. há tempo para tudo e passa tudo muito depressa e é muito solitário, às vezes, também... está na hora de tomar o rumo, que apesar de tudo o que se quer é o bom de dois mundos! o dia já amanheceu, é outro dia para arregaçar as mangas, no intervalo da boa vida, o lado bom de quem está desempregada. procura-se vida activa! a felicidade custa tão pouco.

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