quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

pessoas... donde as conhecemos?

as pessoas conhecem-nos através do quê? do local de trabalho? de sorriso simpático? do nome? da família?

aí à coisa de uns cinco anos, talvez, fui passar o revéillon com uma amiga e um grupo de rapazes com quem saía regularmente naqueles tempos. no dia 01 janeiro convidaram-me a lá ir almoçar e não esperei a recepção do avô dessa minha amiga de longa data. "olha uma marçalinazinha!" por todo o lado há pessoas alcunhadas, outras dão-se pelo nome da família. a parte do meu avô paterno era marcelino, a da avó belizária. tenho uma prima que é tal e qual o feitiosinho dessa avó, deus tenha a sua alma em descanso. eu não tenho traços do avô. tenho os olhos azuis da avó. e acho que uma costela de mau feitio também. o meu pai, segundo as histórias, parece-se muito com ela. e com o avô dele, meu bisavô, que eu não conheci. a minha avó era uma fraca figura, sempre vestida à velha, com roupas que tinham tantos anos quanto ela, de cabelo fino, branco, seco, e apanhado em pitó. a recordação mais fincada que tenho dela são as garrafas do tintol escondidas na arca frigorífica, debaixo de umas sacas de rede e outras de ráfia. o portão vermelho era a casa do manel. era sempre o manel para mim. o homem velho, que já o conheci velho. gordo. de bengala na mão, sorriso enternecedor. a minha avó deve ter sido uma pessoa arisca, tinha muito cara disso! ao sótão, pelas escadas que só pude subir uma vez, as escadas caiadas, largas, robustas, polidas do vento e da chuva. sujas do mau tempo, do pó primaveril, as teias de aranhas no meio das pétalas das flores em vasos, sujos da terra fértil que as alimentava. o sótão era escuro e havia roupas ainda mais velhas que ela. é só do que me lembro, nunca mais lá fui, nunca mais lá irei. um dia aquilo é vendido. deitado abaixo e nunca lá descobri tesouros. o avô era uma paz de alma. não o era em novo segundo o meu pai, que ele morria de ciúmes da velha mas quando foi para a velhice não perdoava as meninas auxiliares do lar. olho-me ao espelho e vejo um rosto redondo. um olhão azul, tenho os olhos grandes, sempre tive, engraçado, eu pensava, em tempos de artes, que era eu que não dava conta do recado e traçava mal as linhas do meu rosto. mas hoje, de facto, deparo-me com isto: eu tenho mesmo os olhos grandes. não são demasiado. mas são olhos grandes. bem.. eu cá segredo convosco que tenho uma costela afinada. e um coração d'oiro como a minha mãe. da minha mãe, tenho o grupo sanguíneo. e desconfio que umas costelas desconhecidas. depois no dia-a-dia... conhecem-me do meu local de trabalho, sou a menina que trabalha no dentista ou no restaurante (à meia dúzia de anos que deixei de ser a filha de fulano). outros conhecem-me dos sítios do costume. sou uma pessoa de hábitos e costumes muito fortes. só gosto daquele café, daquela livraria daquele shopping, daquela sapataria, daquele bancário naquela surcusal, daquela ourivesaria, daquela perfumaria... e por aí adiante. não gosto de caras novas. não gosto de mudanças. gosto das coisas habituais. conhecem-me pelo sorriso, ou melhor, pela gargalhada. pelas idéias mais loucas - que piada tem uma idéia simples senão a complicarmos um pouco?! conhecem-me pela forma como me visto. e muitos sabem que eu não gosto de cabeleireiras. que adoro livros. mais do que gosto de roupa e saltos altos. que tenho um blogue sem alguma vez me terem visto sequer. que gosto de pagode. e pelo tamanho, sim também conta, no meu caso, que tenho um modesto metro e meio. há quem me tome pela pinta sem alguma vez me ter cruzado com aquela pessoa. a minha mãe sabe sempre quando fiz alguma asneira ou quando vou dizer um disparate. o meu pai não me conhece como pessoa. tenho professores que ainda hoje me falam muito bem e colegas que viram a cara vá-se lá saber o porquê. acredito na influência dos nomes que escolhem quando ainda somos bebés. não acredito nos signos das revistas mas acredito na ciência. eu conheço pessoas de todos os lados e depois quando os vejo onde não os conheci não os reconheço e fico muito embaraçada e pergunto pela família e tal e tal e sigo caminho até me fazer um flash na memória. e vocês? conhecem-me pelo quê?!

5 comentários:

  1. Simplesmente fantástico!
    Chueguei a ir ao sótão.. descobri lá uma mota BMW/triciclo com que brincava quando era miudo e que pensava que tinha desaparecido.
    Era branca, tinha um grande autocolante azul a imitar os faróis da mota, tinha escrito bem grande - como família importante que éramos, tinham que me habituar desde cedo a grandes lucos- BMW. E eu gostava dela.. quando a descobri já não lhe cabia em cima... brincava ao power rangers... a subir e a descer aquelas escadas para o sótão. lembro-me do poço e de ficar muito impressionado quando o meu pai me explicou que já tinha estado um homem dentro do poço, para limpá-lo, o que na altura fez-me imensa confusão. Quando somos mais pequenos há imensas coisas que nos fazem confusão por não as percebermos. Tem graça.
    Quanto a ti, és a prima do Miguel Henriques, um gajo fantástico, que dizem que sai ao avô, que é capaz de comer uma panela de comida sozinho, que implora pelo perú mesmo quando já ninguem tem fome, que gosta de festas e tambem tem um blog. Tenho também uma irmã blizária. Blizária é giro =P

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  2. todas as coisas são o que são pelo nome...

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  3. primo... não me lembro dessa BMW mas lembro-me bem daquele poço - nunca vi nenhum tão fundo quanto aquele. e sim, és um gajo fantástico!

    márcio. isso é o resumo do meu texto! xD

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  4. lol tá muito fixe...acho que tens excelentes qualidades sociais as quais prevalecem na tua escrita: - o interesse.
    Ao contrário, do que tu julgas, eu considero a minha escrita desinteressante, considero muito secante, o mesmo dizem quando falo - prolongo uma explicação, não abrevio o suficiente - enfim, o silencio ainda fala para mim e abre-me os olhos interiores para que eu lhe ligue, mas não lhe ligo ainda. Não quero, sabes.
    Penso, que, se enriqueceres a tua escrita, com uma melhor qualidade ( crítica que serve para mim como calculas ) , lendo mais, compreendendo melhor a técnica - ficas com uma excelente qualidade literária .
    Mário de Carvalho , lê. Vais gostar. Clave sol , revista Vidas , que vem com o Correio aos Sábados, lê. A visão, novos livros por dois euros e meio, barato, fácil, simples, e exclente qaulidade. JL, jornal de letras - vem agora uma reedição de livros
    - ( para mim e para ti ) a literatura, implica desistir do mundo para o achar.
    ah, Miguel Esteves Cardoso, Lobo Antunes, a sério miga, exprimenta.
    jinhos :)))
    e vai respondendo aos coment´s
    é importante.
    jinhos

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  5. também já puvi dizer que o Miguel é um gajo muita fixe :)

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