«o que é isto?», pergunto à S. enquanto abro a porta encarnada e amolgada do cacifo, junto ao chão. «ah!!! (exclamo em surpresa, deliciada e espantada!) S!!, grito, estérica, S!! é uma carta de amor!!!!» tem uma letra mais bonita que a minha, pensei. quando ela me perguntou de quem era, no envelope estava escrito admirador anónimo mas... quando acabei de ler, havia uma janelinha improvisada com uma foto tipo-passe recortada lá dentro! «hã??!!! nããããããõooo!!! sério?! opah! é o teu primo!!!!», o escândalo, a tragédia, o horror!! tudo tão próprio da idade...
cheguei a casa, eufórica com aquilo tudo, e contei à minha mãe. e a minha rica mãesinha foi contar ao meu pai que, por sua vez, encarnou num bicho-papão-e-com-sete-cabeças e transformou aquele episódio tão casto num pandemónio! e foram tempos difíceis, um autêntico caos!
dali em diante qualquer assunto era um absoluto ficheiro secreto! as regras lá em casa regiam-se pela palavra de ordem do meu pai com a assinatura da minha mãe por baixo; sem um cupincha lá em casa para acudir em hora de aflição era a melhor coisa a fazer.
felizmente, uns anos mais tarde as coisas alteraram-se.
actualmente, somos grandes companheiras uma da outra! minha mãe sabe até na forma escrita de uma sms se estou bem ou não, como todas as mães, suponho, mas minha mãe, só a minha mãe, sabe coisas que mais ninguém sabe. é claro que, também há algo que não lhe conto ou lhe omito alguns pormenores, para a proteger, nada mais.
por hora somos amigas incondicionais, sem tempo marcado para nada!
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