sexta-feira, 19 de agosto de 2016

dedos mindinhos ao alto!!!

DEFINIÇÃO:
Do latim gaulÊs bercĭu «armação de madeira em forma de berço», pelo francÊs berceau «cama de criança»

curioso esta coisa do berço no sentido figurativo da palavra versus no sentido prático do dia a dia. é a roupa de marca grife; o tratamento sem a palavra você e sim senhora-dona-fulana-tal, o homem pelo apelido ou o menino/a menina; o cumprimento com um beijo umas vezes, dois noutras; as sogras que são tias, as tias que são só amigas da família e as tias da hierarquia genealógica... tem berço.
mas que raio?! querem ver que a maioria de nós nasceu como o menino jesus?! na manjedoura?! num fardo de palha? daí a acreditarmos na vaquinha e no burrinho é... um coice! se bem que com lambidelas de vaca poupava-se dinheiro no halibut e o burro é um animal quente, só para o caso da roupa não chegar já que eu ainda sou do tempo das fraldas de pano no rabinho, preso com alfinetes de ama e o dinheiro escasseava mais vezes que esbanjava se é que esbanjou alguma vez!
eu cresci com o cheiro da terra nas mãos, com a cor da terra no corpo, com o sabor da terra na boca, com a marca das levas nos joelhos e onde calhava, dependia de como me atirava ao chão para brincar com as pedras e os caniços. 
não soube, nunca, o que era caxemira e trocava a flanela pela chuva molha-parvos nas tardes de inverno, a apanhar carochas enquanto a mãe acendia a lareira e o pai andava de volta de qualquer coisa, que aquele ali, nunca pára a não ser para dormir; eu nem isso! que desde miúda sou sonâmbula!
mas sempre houve grandes guerras à "hora do comer" por causa do modo como os tratava. nunca consegui tratá-los por você ou na terceira pessoa do singular; tratava toda a gente assim: tios, vizinhos, avós, desconhecidos... os pais, não. nunca fez sentido nenhum para mim! pois se são as pessoas mais próximas da minha vida por que carga d'água hei-de eu tratá-los da mesma forma que trato todos os outros?!
um dia descobri que, segundo algumas directrizes, era uma pessoa mal educada, mal formada. oi?! desculpe!?
não se tratam as pessoas pelo nome. 
foi, de facto, uma falha gravíssima da minha parte. no meu ponto de vista, o sufixo dona envelhecia tanto aquela senhora que espalha juventude e alegria que ainda acrescentar senhora-dona... deus do céu! - parece que havia quem ficasse muito chocado com esta minha maneira de ser... pedi desculpas. engoli o sapo. e o que começou em tom de brincadeira transformou-se em regra. é estranho. não foi por mal. o mau feitio ainda não abomina a educação. mas senhora-dona-(...) credo!, é cá uma coisa!...
eu respeito ainda que estranhe esta distância que se impõe tão naturalmente... na verdade, eu sou só a Tânia. a Tânia, que aos nove anos, acreditava piamente que era descendente do primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques! porque eu sou Tânia Henriques! fazia todo o sentido! ainda hei-de investigar! who knows?!
era a loucura! passava a ter lições de etiqueta; pavonear-me com um molho de livros na cabeça para corrigir a postura; obedecer às regras rígidas do mise-en-place e, na onda, aprender os cânticos para a missa do galo. ter aulas de um português snob-chic e em pompa e circunstância pompoar, ai desculpem!, enaltecer, o apelido paterno, aquele que sucede ao da mãe e que assegura a continuidade da geração. falar devagar e de beiça arreganhada para mostrar a cramalheira mas nunca rir! sorrir de biquinho apenas. dress-code em black-tie ou informal elegante com os le coq sportif calçados e o símbolo do ralph lauren do lado do coração, lenço de seda ao pescoço ou os óculos de sol e o chapéu de abas largas? oh vida de gente gran-fina a quanto obrigas!
ah mas esperem lá! ganho um brasão de família, não é?!
e os disparates?! bem... com sorte são eliminados; na pior das hipóteses serão futuros skectches para stand up comedy!

très chic, hã?!


berços!...




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