sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Algarve, saudades que não deixas.

chegam os primeiros dias de calor a sério e  as primeiras idas à praia e, inevitavelmente, recordo-me sempre de umas férias passadas em Portimão, Algarve, com os tios e primos. 
eu não devia ter mais que onze anos. a prima M. não devia ter mais que os treze; temos pouca diferença de idades. o primo D., era tão pequenino ainda, ainda usava chucha. era um menino lindo... quase sempre de caracóis loiros e desalinhados; uns grandes olhos azuis...
logo no segundo dia apareceu-lhe, à prima, a bendita ou a maldita, nestas idades, é sempre uma inconveniente, a menstruação. como é que fazemos, como é que não fazemos?! lá fomos as duas ao mini-mercado, junto do hotel. neste corredor não, neste corredor também não... encontrámos; meio envergonhadas lá pegámos na embalagem dos tampões e fomos até à caixa; pagámos e saímos a correr - até parece que se tratava de um furto!
era a primeira vez que a M. ia usar aquilo e eu nem a podia ajudar que aquilo ainda não me tinha vindo.
na manhã seguinte, os tios saíram, foram não sei para onde. ficámos os três em casa. a M. enfiou-se na casa de banho; o D. dormia na sala; eu fiquei responsável pelo guisado; eu! que nem sabia cozer batatas!!
estava tudo a correr bem até que... TÂNIA! TÂNIAAA!!!! perdi os chinelos e fui a correr à porta da casa de banho. VAI CHAMAR ALGUÉM! alguém!?! QUEM?!! não conheço ninguém! mas o que é que se passa? NÃO CONSIGO TIRAR ISTO!!! 
o apartamento era no décimo andar e eu saí disparada escadas abaixo, não que não houvesse elevador mas se por um lado esperá-lo era uma eternidade por outro tinha esperança de encontrar uma empregada de limpeza que me pudesse ajudar.
dez andares. eu desci dez andares. NADA! NINGUÉM! não vi vivalma! 
recepção do hotel: NINGUÉM! MAS QUE HOTREL NÃO TEM NINGUÉM NA RECEPÇÃO!!????
OK! (decisão de última hora) vou ao minimercado, a senhora há-de puder ajudar...
entrei de rompante na loja e respirei de alívio quando vi que era a mesma cara. abeirei-me dela, tentando falar o mais baixo mas audível possível:

olá... bom dia... lembra-se de mim? estive cá ontem com a minha prima, alta, morena, de óculos... comprámos uma caixa de tampões...
ah sim! e então?
preciso da sua ajuda. é que ela está aflita na casa de banho porque não consegue tirar aquilo...

momento crítico de toda a minha vida. imaginem o cenário: Algarve. plena época balnear. um calor descomunal àquela hora (meio-dia e meia hora). sozinha. vermelha que nem um tomate mais da vergonha que do calor e a senhora resolve carregar num botão a que se seguiu um som de altifalante e... o momento - o microfone! (WTF?!) - chamou o senhor-não-sei-das-quantas e disse: eu vou ali com esta menina porque a prima está com um problema com o tampão!
desculpe?! o que é que disse?! o que é que acabou de fazer!? isto aconteceu mesmo!? um minimercado inteiro acabou de saber de TUDO!!!! que vergonha...
corremos até ao hotel e subimos pelas escadas até ao décimo andar. 
é aqui! e então, estava a prima, com a cabeça a espreitar para o corredor, aos gritos por mim. quando lhe respondi, ela diz-me: já não é preciso.
O QUÊ?! EU PASSEI A MAIOR VERGONHA DA MINHA VIDA!!!!!!, (pensei).
a senhora voltou ao trabalho no minimercado. o primo D. acordou. o guisado queimou. os tios chegaram. ela não foi mais para a piscina. eu não voltei a entrar no minimercado o resto da semana e após muitos anos quando aquilo apareceu não me atrevi a experimentar não fosse a ementa sair pior que o soneto, tal o trauma com que fiquei! se calhar o problema era serem com o aplicador; ainda hoje não atino com aquilo!!!

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