quarta-feira, 7 de julho de 2010

tesouros de meninos entre caricas

" - ah!! encontrei um tesouro!"
" - encontraste?"
" - encontrei!! agora mesmo! aqui no chão entre caricas velhas, amareladas e... ferrugentas (dizia enquanto esfrengava os dedos para dissolver a cor acastanhada) ..."
" - o que é? mostra!! quero ver."
" - não. é segredo. é um tesouro. deve ser guardado!"
" - mas... se eu não o vir não saberei o que é e como podes tu ter a certeza que é um tesouro. por acaso já alguma tiveste um?"
" - humm... há que acreditar! eu sei que é. mas este é meu. não mostro a ninguém, não quero que ninguém fique com ele. este é meu."
" - mas... mas... mas..."
" - mas nada! este é meu! só meu. um dia talvez seja teu."
" - promessas..." (deixou soltar a dúvida e o beiço)

os meninos seguiram caminho calados. um com as mãos nos bolsos jubiloso da sua preciosidade guardada na mão dentro do bolso dos calções que lhe tapavam as canelas; o outro de beiço caído olhava para as margens do rio naquele fim de tarde particularmente diferente. de mãos nos bolsos e pés pontapeando as pedras toscas do caminho de chão.
viram de repente uma luz que passou por eles e a grande velocidade. entreolharam-se aparvalhados; sorriram. e desataram a correr.

"- o que será?"
" - não sei. nem faço idéia!"
" - vamos! corre mais depressa. quero que estejas comigo quando apanhar o meu tesouro!"

o amigo acelarou o passo, passou por ele e desafiou-o:

" -  então só isso?! anda despacha-te!! este é todo teu!!"

e piscou-lhe o olho no seu quê de malandrice!
correram a margem toda do rio que brilhava naqueles tons que o menino nunca tinha visto: o roxo, o dourado, o laranja, o verde-água, o azul... boiando à superfície como aqueles flores que ele não sabia o nome. chegaram a um monte de arbustes. tiveram que parar. vinha um logo atrás do outro e o choque foi praticamente inevitável. na distração e na euforia da correria acabaram por cair e rolar até à borda da água. os mosquitos levantaram voo assustados com tamanha algazarra mas as luzinhas estavam perto deles. uma pousou na pona arredondada do nariz do menino que não tinha tesouro nenhum. fascinado. sentia-se extasiado com tal coisa. nunca lhe tinha acontecido.

" - é uma fada?!" perguntou baixinho...
" - tão pequenina assim?... acho que não... mas eu nunca vi nenhuma antes..."

sussurou o outro não fosse o tom da voz assustar embora não tenha servido de muito por que logo naquele instante o menino não conteve as cócegas e espirrou com tamanha força que desataram a rir. não puderam conter tamanha risota.

" - voou."
" - oh... pois foi!
sabes uma coisa? esta sabes: eu não sei que tesouro é esse que tens guardado desde o ínico da tarde aí no teu bolso mas para mim, e isto tu não sabes, para mim isto é que é um tesouro!"

o outro não conteve as lágrimas. os olhos luzentes, amendoados, doces como o mel sorriram-lhe quando lhe mostrou as mãos e o forro do bolso:

" - então... mas não tens nada aí!..."
" - queres maior tesouro que a tua amizade?"

2 comentários:

  1. ...e os seus coraçõezinhos encheram-se de alegria que quase rebentavam...

    Taniah, este texto é muito bonito. Tem a simplicidade de uma criança e o sentir de quem sabe como foram as amizades de criança...verdadeiras e incondicionais... Quantas vezes lamentamos lhe termos perdido o jeito...

    Um beijo

    P.S.- O pequena história é muito bonita! Não se já tinha dito!

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  2. obrigada e ainda bem que gostaste.
    e concordo contigo plenamente quando dizes: "Quantas vezes lamentamos lhe termos perdido o jeito..."; quantas...

    beijo

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