quinta-feira, 15 de julho de 2010

matrioskas

a casa da minha tia tinha sempre aquele cheiro tão familiar que mesmo que lá entrasse de olhos vendados saberia sempre que era a casa dela e do meu tio e da minha prima e mais tarde do meu primo também para deixar de ser do meu tio.
ele trabalhava pelo mundo fora. quando vinha dava um brilho à casa que não se via nos outros dias em que pesava a sua ausência prolongada por causa do trabalho. donde vinha, lembro-me, trazia sempre uma lembrança para a família. coisas dos outros paízes. lembro-me de me apanhar sozinha na sala e brincar com as bonecas russas que nunca me lembrava do nome, sei agora, pela google, chamam-se matrioskas. achava um piadão umas dentro de outras, dentro de outras, a mais pequena nem se distinguiam os olhos. eram ruivas. olhos muito grandes. boca pequena. e tinham um cheiro a madeira intenso... tudo aquilo me fascinava. depois a minha tia entrava dentro da sala e eu arrumava-as umas dentro das outras muito rápido não fosse ela não gostar que eu tivesse mexido sem autrorização. e a facilidade com que se encaixavam...!
a casa dela tinha outras coisas muito engraçadas. os desenhos com a prima de barcos desenhados e bolinhas de papel que saltavam das ondas do mar porque eram peixes grandes. fazíamos bolas maiores e mais pequenas e colávamos à folha cheia de rabiscos de cor. e os dedos também. à quinze anos a cola UHU não perdoava descuidos.
também me recordo das aves. aves raras e bonitas. mas as matrioskas... todas redondas, todas iguais. deliciavam-me. gostava de ir à rússia só para ter as minhas matrioskas porque aquelas nunca hei-de ter...

3 comentários:

  1. escreves-te muito bem este artigo. Adorei ler do principio ao fim. Talvez porque é familiar a todos : a tia, o tio, a prima e o primo; e a criança que brinca e, de novo, enquanto lemos, vemos de "mumento" a criança ali, ela e a Marioska.
    jinhos

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