sábado, 23 de abril de 2016

a dondoca do bairro

a senhora-dona-fulana-tal anda sempre tão bem vestida... um charme de pessoa. que classe! de chiffon sobre os ombros e a raposa enrolada ao pescoço, os louboutinis nos pés e os prada vistosos na cara contra os raios UV não vá o fond de teint ser um inútil às sardas e, em prole da não existência de linhas de expressão, ri para dentro, faz biquinho por simpatia.
o crista chinês, ao colo, fluffy, na placa luzente ao pescoço do animal, tem uma latida tão irritante quanto arrepiante são os olhos, esbugalhos, da criaturinha, coitado, não tem culpa!
imagem retirada daqui
a madame desce a calçada de nariz arrebitado, indiferente a tudo: uma menina poderá passar por ela, tropeçar e cair, não a afectará. o aleijado da guerra pedirá esmola na sua passagem, não a afectará. não compreende o mundo que a rodeia fora das pradas e dos armanis e do choffeur!
"maria! traga me o chá!"; "maria! leve o fluffy!" "maria...!!!" porque todas as empregadas domésticas são criadas de nome maria.
uma senhora, disse-me uma vez, que a amiga abominava o nome maria porque era nome de criada. bem... marias há muitas...  e excelentissimas então...  vejo aqui algum empate... ou não!
a senhora-dona-fulana-tal entra na loja nova lá do bairro, muito chic! - a loja, uma montra de requinte com as novidades da nova colecção ao rubro!! a menina do balcão, empregadita, deve pensar, não lhe diz bom dia, não lhe pede licença, não pronuncia "por favor", não se despede. uma vista de olhos breve e, à saída, o cachorro vem adornado com a etiqueta da renda do último grito da alta costura! 
em melhor tom e nível, que o merecido, a versão maria-lojista chama por sua excelência, da porta. "oh fashavor, madame, tem a receber o troco e a factura para o IRS!" 

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