segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

desenhar também é escrever...

ontem à tarde fui à cave! que confusão! caixas do lado esquerdo, caixas do lado direito, lá pelo meio encontra-se a tenda e os sacos de cama ansiosos que cheguem junho e depois... quem  sabe... julho! e depois... só deus dirá! ao fundo, por baixo da janela mitra, um metro-quadrado vazio! - que espanto! de um lado e do outro o armário de pano azul - típico de armações com letras que se encaixam umas nas outras, é só mesmo seguir à risca o folheto de instruções e voilá! um armário montado na perfeição!
consegui chegar ao armário! credo! uma cave tão pequena e parece que ali desabou o mundo! aliás, eu gosto de classificar a minha cave, neste momento, como a doce queda do carmo e da trindade - tivessem feito sabe-se lá o quê!! para não entrar já em stress... (já existem planos a serem engendrados na minha cabeça à revelia/escondidas do J.)
mas não nos dispersemos. fui verificar o que havia para o carnaval naquele armário que está ali só para as fardas e afins!
descobri uma saia grande e branca com rendas, um top com decote à barca, umas mamas de plástico, uma batina, uns óculos cujas luzes psicadélicas ainda funcionam - só a armação não sobreviveu às palhaçadas (quando se trata de defender a camisola que se veste não há muita gente como eu!) e um nariz à palhaço com luzes intermitentes também. as penas de um índio, o chapéu de palhaço, uma espingarda, um boné de marinheiro... afinal ainda existe qualquer coisa para a última hora; chicotes não mas algemas também se arranjam! descobri as rosas azuis que usei à uns seis ou sete anos na farda de marinheira e apenas um boião de tinta branca - as outras foram à vida... ah! e encontrei as pestanas excepcionais que o J. me tinha comprado. são qualquer coisa do outro mundo!!!!
no fundo do armário encontrei algo que não esperava. curioso... esta semana tinha-me lembrado daquilo e sem esperar... estava nas minhas mãos. aquela caixa de sapatos, não uma mas sim, exactamente aquela pacientemente forrada a papel de embrulho clássico, conciso, discreto. abri. ah! seis. um, dois, três, quatro, cinco, seis... perdi-me no tempo. de repente estava em 2002! e depois regressei ao futuro. novo dejá-vù e estou de volta a 2004, 2006... estranho!... (pensei) tinha a certeza de que tinha deixado um caderno incompleto... mas não está aqui... será que o terminei?! será que não? se não, onde estará? 
aos onze anos escrevia palavras soltas que rimassem fosse como fosse - o Camões sabia o que fazia e eu queria ser como ele! aos treze anos um amigo espicaçou-me a imaginação com a hipótese, de um dia, um dos livros que estavam em cima da secretária da repórter da TVI (ou SIC?!), no domingo à noite, sugeridos pelo senhor professor MRS - actual presidente da república - um deles, fosse uma sugestão de leitura sua! um livro meu, imagine-se! aos quinze anos achava que podia ser escritora! e quando conhecia O poeta as palavras eram demais para conter dentro de mim! qualquer canto de papel rasgado servia para tomar nota da frase que acabara de me ocorrer ou a margem de uma página de geometria descritiva ou a parte detrás da capa de um dos manuais... oh! houvesse papel que desse para levar comigo para casa, para o meu quarto, no bolso de trás das calças de ganga estava óptimo!
passaram-se treze anos. perdi a mão nas folhas A4 lisas. as linhas já não fluem. os corpos já não surgem. nem as lágrimas em grande plano ou qualquer outra coisa. 
porém... bem ou mal... foram precisos treze anos de nada para, de um momento para o outro, voltar a ter vontade de escrever, só porque sim. gostava de voltar a desenhar. adoro a cor. mas não está a ser tão natural quanto a fluência das letras... deveria escrever sobre isso? desenhar também é escrever...

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