quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

a felina

procuro o refúgio na brusquidão do mar.
quando o vento varre tudo na sua passagem, abro os braços, lanço-me em desafio...
por um fio não deixo cair a lágrima suspensa nas pestanas trémulas.
abro as goelas em gritos mudos no abismo porque não há eco que devolva amor. o eco propaga. e o que sai de mim, às vezes, parece mais uma praga que uma palavra bonita, sagrada.
na rebentação forte do mar, nas investidas constantes na arriba, arrepia-me o fascínio da destruição de uma massa tão poderosa, desfeita em milhares de milhões de micro partículas que me ensopam a sweat sem que eu dê conta, acalmam a rebeldia dos últimos fios de cabelo a crescer, contra um rochedo, imóvel. encontro-me por instantes para logo me perder em pensamentos turvos, sem nexo, sem história, são flashes soltos que não encaixam em lado nenhum.
Ziva, a felina
a noite chama por mim.
deito-me, finalmente. puxo a roupa para cima e em posição fetal fico à espera que o meu corpo aqueça e, por fim, adormeça; se renda, a algum descanso merecido quando então, oiço o som familiar das patinhas da felina cá de casa, dona do sítio, dona de mim!
nem se ouve o salto para cima da colcha... só me apercebo dela a aninhar-se em mim, de focinho húmido contra a minha cara, a ronronar com tanta intensidade junto do meu ouvido, que consigo sentir todo o meu corpo ser atravessado naquela vibração...
o refúgio encontrou-me. 

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