quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

pelo menos há sol

levanto-me atordoada... estava a dormir?! mas eu estava a dormir?
mas era tão real... o toque, o ambiente... ainda que sinistro... tudo tão estranho, tão escuro, sem nexo, sem local, sem ninguém conhecido...
volto a deitar-me, ouvindo o vento lá fora zangado que assobia à minha janela, faço de conta que não o oiço e caio no sono novamente. corro muito, sem sítio para onde ir. falo muito sem dizer nada, os lábios nem os sinto, o coração nem o oiço. há água. é uma poça, outras vezes o fundo de um fosso. hoje não se sente o cheiro. mas as cores parecem aquela mescla de tinta na paleta que o pincel esborratou depois de pintar a tela. 
pinceladas largas, cores vivas, gosto de imaginar assim. quando abro os olhos não compreendo a realidade paralela em que me encontro. acordo. levanto-me.
já é de manhã. o vento ainda está zangado e passa entre as caniças querendo levá-las consigo, arrancá-las da terra com a mesma ira com que Zeus lança a trovoada sobre o mar e depois se delicia com o reflexo daquela luz fria no mar revolto. é uma criança. ri à gargalhada do nosso infortúnio e do seu desdém.
pelo menos há sol. 

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