quinta-feira, 6 de maio de 2010

fado vadio

"- queres vir trabalhar sexta-feira à noite?"
"- quero."
sexta-feira à noite era noite de fado vadio. eu até nem sou apreciadora de fados, fujo deles como o diabo da cruz. é uma tradição portuguesa demasiado forte paa o meu gosto. prefiro rock. com o rock partimos, agimos. com o fado choramos. mas em conversa com o meu namorado que não poupou elogios à iniciativa e porque o dinheiro me faz imensa falta, lá fui eu à noite de fados.
19:00h_ saí a correr do meu trabalho e segui para o restaurante.
19:15h_ cheguei ao restaurante, mudei de roupa, apresentei-me ao serviço.
19:35h_ liguei ao meu pai, que adora fados desde que se lembra de ser gente, a falar-lhe do evento.
20:00h_ o primeiro cliente chegou.
"- caldo verde, se faz favor."
a noite correu muito bem. os jantares tinham um aspecto diferente naquela noite. o bacalhau estava mais dourado, as batatas mais amarelas, a alface mais verde, a cenoura mais laranja que a que a laranja e o tomate com uma cor... não sei... o ambiente estava divinamente amoroso e acolhedor.
mas como nem tudo são rosas já só fomos jantar às duas e tal da manhã... comer e não comer, despachar e tal 04:00h da madrugada quando entrei no carro.
antes disso, enquanto cada artista de mesa cantava o seu fadinho, o meu pai surpreendeu-me com a sua presença lá... comeu uma filhós e assistiu a dois ou três fados. foi-se embora com o rosto lavado em lágrimas. o meu coração ficou apertado. "de boas intenções está o inferno cheio", é o que dizem...
mas, como disse antes, o nosso jantar só veio para a mesa já o relógio de parede, discretíssimo, denunciava as duas horas, a.m. como dizem os americanos ou como exigem os ingleses a hora certa no ponteiro certo não é como nós portugueses, saloios, que dizemos duas horas de manhã e duas horas à tarde e depois gera-se uma confusão de horários no conto de uma história qualquer porque como estou sempre a dizer os pormenores são muito importantes, nunca se deve descurar deles seja pelo motivo que for.
impressionante como depois de horas a fio em pé, cansados do serviço e dos últimos speeds à speedy gonzales para limpar e compôr a sala, ainda temos disposição para embirrar (com simpatia, com graça, com amizade) com o colega na outra ponta da mesa e um-senta-levanta desenfriado que parece que não acaba nunca... enfim! empregados de mesa... têm sempre muita energia guardada na reserva para estes bocadinhos em que se juntam todos. mas é bom. mais saudável que a alface ou tomate ou a cenoura, que desde miúda que oiço dizer que faz os olhos bonitos.
no entanto... parece castigo. fiquei com a minha voz um "bocadinho" danificada. no sábado ainda passou despercebida mas no domingo aos almoços foi a verdadeira desgraça, já nem eu conseguia dizer nada que se percebesse nem os clientes se contentavam sem a piada.
segunda-feira foi outra aventura. no consultório não se fala em tom normal, tende-se a baixar um pouco o volume principalmente no gabinete. o problema instala-se com a broca que não é de meias medidas e faz uma chinfrineira que não se pode. ou pára ela ou espero eu - as duas ao mesmo tempo é que nem pensar. e não cantei o fado, fará se o tivesse feito. hoje já estou melhor, já que perguntam. no fim deste mês há outra vez vamos lá ver como fica a minha vozinha de princesa, delicada como uma flor.

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