sexta-feira, 9 de abril de 2010

velhos com bengalas...adoráveis!!

sabem aqueles velhinhos que nós vemos por aí, coitadinhos, vergados, de bengala, olhar envelhecido? e, concerteza, já vos deve ser conhecida a caricata situação de ver um velho a ralhar com o outro porque se esqueceu de alguma coisa ou pôs noutro sítio qualquer ou não sabe sequer. hoje foi um dia em que tive o prazer (ou não) de viver uma situação dessas. o que é um riso. é a personificação pura daquele ditado "fala o roto ao nu!"



estava eu sentada, no meu canto, descansadinha da vida, na sala de espera da clínica quando me deparo com dois senhores sexagenários, septuagenários, talvez, a discutirem que nem loucos por causa dos papéis da consulta. um era alto, de barriga esticada para a frente, rugas, cabelo branco, ar resingão, vestido como um velho. um outro mais atarracado, mais baixo também, também devido à curvatura das suas costas por causa das adversidades da vida, lá ia respondendo, mais resmungando que outra coisa, com aquele que ia a seu lado. não percebi se era familiar ou não. eram os dois velhos. muito velhos, pareciam. a senhora da recepção ora olhava para um, ora olhava para outro. não dizia nada. pensou. enquanto o velho mais alto ia resmungando e ralhando com o outro, o que parecia ser o doente, este encostou a sua bengala de madeira, abriu o zipper da sua malinha castanha e velha, quase tão velha quanto ele ou mal estimada então, e de lá tirou uns papéis do meio das caixinhas de medicamentos que impediam que se percebesse que papéis eram, deu-lhe para a mão e falou, falou, falou sem que ninguém desse conta senão eu que estava a ver aquela cena toda acontecer mesmo à minha frente, como se fosse um espectáculo privado, feito só para mim. bem, já tudo tinha sido resolvido, olhei para o livro que tinha nas mãos, O DEUS DAS PEQUENAS COISAS de  Arundhati Roy, e distraí-me com as primeiras linhas daquele romance com muitos nomes para um princípio de história. quando levantei os olhos, dei um beijo no ombro do meu namorado e já não vi os velhotes. "olha o velhote já ficou bom! deixou cá a bengala!!" disse ele com ironia e rimo-nos os dois. é magia, disse-lhe, as pessoas vão tratar-se a uma especialidade e o resto, por conseguinte, também fica bom. no meu trabalho as pessoas vão arranjar os dentes e, às vezes, saem do gabinete sem as placas ou sem os óculos. voltámo-nos a rir. nisto, entra o tal senhor sextagenário ou septuagenário, não interessa, o alto!, e pega na bengala apoiada nas cadeiras; ergue-a bem alto, quase tão alto quanto as minhas sobrancelhas se arqueram de pura interrogação e curiosidade, afasta os calções da barriga redonda e enfia a bengala pela perna direita abaixo. olha para trás, carrega no botão do elevador e deixei de o ver. desatei a rir à gargalhada. ali mesmo, na sala de espera da clínica. algo tão insólito não dava para resistir a uma boa gargalhada. mesmo minimamente contida não deu para segurar.

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