terça-feira, 15 de março de 2016

53ª Caminhada Trilhos do Mar - Anços, Cascatas do Rio Mourão

00h00 make. saia. blusa. pochete. sapatinho de salto alto. ora vamos lá lançar charme na AMP
03h30 ainda não dormia. tomara! o sábado teve dois dias de trabalho juntos e depois de um banho tomado, roupa trocada e a vibração do rock a penetrar nos poros, a adrenalina era mais que muita. mas os Trilhos já não são os mesmos sem mim e já nem eu sei passar um mês sem participar nas suas iniciativas.
cheguei ao ponto de encontro de mochila às costas e na mão a bolsa da Canon, os ténis já velhos, a sweat quente da AMP; pronta para o que der  e vier!
"tengo espacio en mi coche para tres muheres ô doy 10 €uros", aparece o N., nem vi de onde!, à porta da pastelaria, num portunhol/estugues, gargalhada garantida ainda nem 08h00 eram!
Anços esperáva-nos! 
concentração às portas da igreja quais fiéis para a missa. toda a gente confirmada, ou não - consta que rondavam as 800 inscrições - improvisada a fotografia de grupo, lá partimos em direcção às cascatas das quais só tenho mesmo a foto do pedregulho com a palavra e seta esculpidas e pintadas a negro pois, por causa de tanta gente, optei por vê-las no regresso. desci o caminho de terra batida e fui inspirando aquele verde. ervinhas como aquelas fizeram parte da minha infância. a minha infância cheira a terra. a hortas. e é ilustrada nas rigueiras e em charcos e nos poços. 
um quarto de hora antes, meio que misturado no azul do céu, pouco acima da linha do horizonte, o Palácio de Sintra, discreto, surgia.
pela vegetação vi parte da cascata que, frente à distância, a água mostrava-se cristalina e fazia por distinguir-se do castanho das pedras e do tom típico da flora circundante. que imagem... 
uma casa! uma casa abandonada, caiada, com grades nos acessos, resiste à invasão da hera que a observa, paciente, à beira do rio. uns declives aqui, outros ali com galhos que vão-se banhando naquela água fria, onde as rochas são aquecidas por um manto de musgo; o cenário é simplesmente deslumbrante!
não podemos parar! (não tarda ainda tenho o sr-organizador L. aos gritos comigo!!) voltei ao trilho e continuei com os disparos: uma planta que ainda não floresceu totalmente, um enquadramento de um galho velho que lentamente vai ao encontro do rio, o rio logo ali. mais à frente uma ombreira de pedra sem porta nem boi. só a argola de ferro enferrujada. há caneiras inteiras tombadas sobre a água que corre cheia de energia. há lama na estrada. há uma flora em explosão! as azedas são uma constante e umas flores azuis, que não lhes conheço o nome, e outras tantas brancas...
no horizonte, demora-se à vista, os hectares de terreno num degradê demorado do primário cien ao amarelo-canário! ao longe vê-se uma quinta.
talvez abandonada. talvez vazia. vazia de gente. embora, cheia de alma e presença; aquela quinta, do pouco que pude espreitar, quando, finalmente, me aproximei. enquanto a travessia sob pedras se ia fazendo, cheia de hesitações, com a água a dois palmos de altura. poucos corajosos molharam os pézinhos, agora em pleno março e ninguém caiu! só o sr-organizador L. meteu o pé em cheio na corrente ligeira do rio, na graça do desequilíbrio!
não fosse a quantidade louca de gente naquela manhã, muito zen vinha no meu espírito. duraria pouco. mas viria. a natureza... aquela força a que nada se pode comparar: o som produzido pela cascata; o verde-charali da flora pintalgado aqui e ali com flores carregadinhas de pólen; o toque do musgo; o cheiro da lama; não se ouve nenhum zumbido mas concerteza ele estará por perto.
adiante, um caseirão abanonado. água circundante. janelas sem vidros, protegidos, todavia, pela persistência do ferro das grades. passou por nós um jipe a abrasar levantando pó atrás de si. e nós subimos. subimos, subimos... alguma água em caminho de cabras. no que dá? lama! à nossa passagem também revolvemos algumas pedras.
bem mais pequenas, claro está. Lexim está perto. o O. sempre comigo, fizemos cara feia à encosta do penedo para alcançarmos o topo. mas não conseguimos. uma senhora escorregou e cambalhotou quase aos meus pés. e eu com as mãos na cabeça. acho, até, que fechei os olhos para não ver o tamanho da desgraça. (quando chegamos a uma certa idade é mais que constrangedor cair.) tirei a mochila das costas e saquei de lá o dicloridrato de betaistina (betadine) e as compressas e desinfectei os raspões. o português tem sempre sorte! qual Camões empunhando Os Lusíadas assim foi a senhora na sua queda aparatosa com a máquina fotográfica numa das mãos, que nem um risco tinha ou, os óculos de sol que, apesar de aparente empeno, mostravam o seu imponente brio! toca a descer a encosta em direcção ao sopé. mais uma meia dúzia de fotos tiradas, desta vez à fotógrafa!
dali em diante foi então um verdadeiro encontro com a lama comparando com as poças a que tínhamos sobrevivido. e encontrei uma papoila no meio de um campo a explodir de cor e aromas primaveris - lembrou-me alguém muito especial. o O. gritava metros à frente! anda D. ainda lhe dá uma coisinha má! o D. é um fotógrafo amador, bom companheiro nestas andanças, boa conversa, simpático.
ah!... asfalto, pensei aliviada! 
45minutos depois: ah! asfalto!! pensei exasperada! subidas atrás de subidas ou talvez até fosse sempre a mesma como a bebedeira de alguns, que se estende por dias. as fotos acabam pouco antes da subida de alcatrão tal o baque que foi.
cheguei, finalmente, à igreja e sentei-me. perguntei à R. pela A. "foi ás cascatas!", ah! as cascatas... não as vi! que grande derrota... 

***
horas de almoço! 

MENU:
entradas de massa folhada, pão de trigo e broa milho com centeio da Consolação, queijos, chouriços! 
caipirinhas, sangria de baunilha, vinho tinto, sumos, água.
entremeada-costeleta-bifana! 
serradura cm doce de ovos e amêndoa torrada, cheesecake de caramelo salgado da P. e mousse de oreo do S.
café. 

juntou-se um grupinho porreiro na casa do L. e da P. para conversa fiada até ao anoitecer!
foi um fim de semana de tal forma intenso que ontem adormeci três vezes durante a escrita e aquando da revisão a bateria, a minha, descarregou totalmente. 

1 comentário:

  1. belo texto....fartei-me de rir! imagino-te a adormecer em cimas das teclas.ahahha....e belas papoilas!:)

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