quarta-feira, 5 de outubro de 2016

não é uma peregrinação, olha se fosse! ETAPA 2

que horas são? 15h40min... pois... tínhamos chegado a Alcobaça às 10h30min, ao meio-dia estávamos na cama. 
acordei com a M. a querer registar o meu sono de beleza e com três pancadas meiguinhas - nada! - na porta do quarto.
foi o cheiro a mentol que os atraiu - ihihihih!
o creme com que a minha rica mãesinha me esfregou as pernas três vezes das quais só dei por uma, era mentolado e realmente era intenso. mas foi divertido abrir a porta do quarto e ver as reacções do baque do ar que respirávamos! pedimos as mais sinceras desculpas mas que fez quase milagres fez ou eu penso que fez, sei lá!
saímos do quarto para beber qualquer coisa, aos poucos, voltámos ao normal. de regresso ao quarto, uns dormiram, outros tentaram, outras riam! 
o carro de apoio chegou! levou-nos as malas. fomos jantar e seguimos viagem às 22h05min. todos muito pontuais!
apanhei um bom ritmo e consegui manter-me nele ainda uns bons quilómetros até Aljubarrota foi sempre a dar gás!
quando cheguei a São Mamede...
tudo se complicou para mim... a distância entre metade de um grupo para o outro aumentou e tendia a aumentar cada vez mais; sem electricidade no caminho todo, sem lua, as estrelas estavam encobertas pelas nuvens; o pouco se via era um metro à minha volta pela luz que levava na testa. a minha resistência física ia ser posta à prova mas era com o meu psicológico que eu travava uma guerra...
durante todo aquele percurso até chegar à rotunda, além dos receios mais naturais - um bicho que salta da vegetação, a distância a que estávamos uns dos outros, uma lesão - as palavras daquela discussão consumiram-me por completo! não havia como, não consegui de forma nenhuma arranjar um bode expiatório para uma eventual distracção e o cansaço físico ajudou a que a jornada se tornasse hérculea!
o orgulho também não ajudou. lembro-me, a dada altura, contornei uma curva, havia dois tons de alcatrão, olhei em volta, as luzes lá em baixo mostravam Porto de Mós adormecido. soltei um suspiro pesado, devia ter-me deixado quebrar logo ali mas o orgulho falou mais alto e avancei os metros que faltavam até à rotunda.
quando alcancei a rotunda, não quis falar com ninguém, não quis que ninguém falasse para mim. estava exausta daquela batalha interior, estava frustrada do esforço físico - era sempre a subir, sempre a subir e estava tudo escuro, já eram tantos quilómetros percorridos e ainda faltavam quase outros tantos...
da rotunda para cima fui de olhos pregados ao chão. aquela envolvência natural alimentava o monstro alojado na minha cabeça e a pressão estava a dar cabo de mim.
foto de S.S.
chegámos finalmente ao topo! dali a Fátima eram outra meia dúzia km e ali caí num pranto que não foi maior por vergonha. para meu bem e o de todos o meu ânimo veio ao de cima! apesar das dores nos pés e nas pernas segui viagem e lá estava ela, a placa! Fátima!
cheios de mazelas, empenados, com andares estranhos e estoirados não nos impediu de largar um sorriso com a placa dos Trilhos do Mar sobre a de Fátima. 
parte deste percurso fi-lo descalça. a R. que ia no carro de apoio desde a Tornada por causa de umas bolhas de sangue muitos feias em ambos os pés encorajou-se e fez aqueles últimos passos até ao Santuário.
chegámos.
07h25min. 
não se via viva alma. o dia amanhecia aos poucos. foi um dos momentos mais íntimos que tivemos. já não seremos mais companheiros de caminhadas. seremos cúmplices uns dos outros!
e fizeram-se as coisas típicas de quem vai ali: comprar velas. rezar. 
foto de S.S.
eu só queria ir embora. já tinha cumprido o objectivo de lá ir. não senti aquela coisa de que falam do sentimento de quando se chega a Fátima. ia demasiado absorvida pelos pensamentos da viagem toda, não consegui abstrair-me um único momento que fosse.
quando cheguei a casa só me restaram forças para o banho, colocar os pés de molho e apaguei.

p.s.: obrigada pelo almoço sr. Z!

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