terça-feira, 1 de maio de 2018

celebra-te

o meu pai sempre foi bom numa coisa: destruir expectativas. e havia uma em particular que ele não se cansava de nega-la: "os amigos não existem, mete isso na tua cabeça!! agora cá amigos...?! p'ra ti é tudo amigos!!! isso não existe!!!" eu tinha dez anos e é claro que a palavra amigos era quase tão repetida quanto o número de meninos aasim considerados. com o tempo, o velho, veio a revelar alguma razão que por teimosia minha eu não aceitava nem por nada. percebi, então, que nem sempre somos tão indispensáveis para os outros como pensamos assim como vimos a ver que também, nem sempre, estamos à altura das expectativas que têm a nosso respeito. com o mesmo tempo aceitei que amizade é uma palavra muito forte; implica dedicação, trabalho, amor, responsabilidade. porém, reciprocidade, não é algo que marque presença, embora o senso comum assuma que sim. e é neste contexto que sim, é verdade, o velho tem a sua razão; porque já falhámos, já nos falharam somos lobo e cordeiro na mesma carne. no que o velho diz e que não põe nem uma vírgula é aí que eu entro com a palavra e ganho o meu lugar ao sol: ninguém veio a este mundo para estar só seja de que modo for, onde for, quando for. é preciso gente. gente que não estorve. gente que faça rir. gente que mostre à gente como o mundo é visto de forma diferente daquela que a gente vê. e que revele que o verbo que melhor se pode praticar é celebrar. não há como rir ou chorar, trabalhar ou vadiar, gostar ou desdenhar sem a acção do verbo que move tudo: celebração. hoje a ordem do dia foi celebra-te! e entre umas garrafas de vinho branco e tinto e um petisco aqui e ali, o sol juntou-se à festa e as gargalhadas foram audíveis até ali, à beira do mar. celebrou-se. isto é o que resume tudo na nossa vida e é, por isso, o mais importante. obrigada Su!

Sem comentários:

Enviar um comentário