sábado, 30 de março de 2019

reflexos

no som, triste, do violino, balanço o corpo para cá e para lá, num fecho de olhos lento... e sonolento.
fecho os olhos. imagino um dia de sol quente, de verão, a correr numa estrada quente, de alcatrão, com os cabelos soltos ao vento, balões numa mão e gargalhadas ecoadas no vazio da estrada.
o brilho esverdeado dos olhos azuis revelam tristeza na traquinice; dá-lhe mistério, dá-lhe beleza, um ne-sais-quoi de encanto e espanto quando lhe pergunto: quem és tu?, e ela contrapõe: quem queres tu que eu seja?, e eu não sei responder-lhe. 
sorrio. beijo as suas faces rosadas, molhadas das lágrimas e caminhamos juntas, lado a lado, até o sol se pôr; esperamos o brilho frio das estrelas.
na noite escura, já longa vai, a verdade é dita crua, proferida entre os lábios finos, delicados que, só às escuras enxergamos as estrelas; e nós duas somos a mesmíssima pessoa.
amanheceu e ainda estamos por aí, admirando apenas o reflexo dos raios de sol a rasgarem as brumas que o mar deixa para trás e os nossos olhares cruzam-se.  
percebo, finalmente. 

não quero ser o teu reflexo mas sim que sejas tu o meu e assim o meu eco chegue mais longe pela força da inocência, do encanto, da paixão, da inexperiência.

Sem comentários:

Enviar um comentário