levantei-me cedo. tomei banho. vesti uma roupita.
saímos para tomar o pequeno almoço: uma arrufada com queijo e fiambre e um galão escuro.
pusemo-nos a caminho e pouco passava das nove e meia quando dei entrada na maternidade.
faltou à médica um pingo de humanidade compensada pela atenção das enfermeiras e auxiliares!
agora é esperar.
e esperei.
esperei o dia todo.
chegou a noite e continuei à tua espera entre "piscinas" e exercícios na bola de pilates nem ia olhando para o telemóvel para não ter de lidar com a curiosidade de mundo e meio (entre amigos e família não me deixaram espaço para criar qualquer tipo de ansiedade). lembro-me de sair um dia das aulas de preparação para o parto e comentar com as outras gestantes que não estava mesmo nada preocupada, viria quando quisesse e fosse a sua hora e no fundo eu sempre soube que estava para longe e que seria tal qual como foi, além disso eu tive de gerir a ansiedade de tanta gente que não tive tempo para dar espaço e voz à minha.
na madrugada de terça-feira houve umas dores mas nada que não se conseguisse suportar. de manhã, quando a equipa médica fez a visita e o respectivo toque ainda estava tudo na mesma: zero de dilatação e eu descansada e fresca como uma alface... até à última!
dez horas.
o J. não tinha chegado ainda ao pé de mim e a decisão estava tomada: cesariana.
foi assustador. por todas as razões.
por que era uma cirurgia. por que ia ficar com uma cicatriz.
por que sempre soube que iria ser assim desde o início.
no corredor, na maca, vi finalmente o J. e por segundos quebrei o muro de certezas inabaláveis e os meus olhos encheram-se de água. disfarcei! - os adultos não choram.
a parte que mais me incomodou foi a espera num espaço frio e feio, literalmente cinzento.
aproximou-se de mim uma senhora já de idade avançada. viu-me. cumprimentou-me. perguntou-me se estava nervosa. (soube depois que era a médica anestesista. tem um nome invulgar e foi de uma meiguice incomum).
entrei no bloco. tudo ainda mais frio, ainda mais cinzento. sente-se um aparato de material mas não se vê nada. há música de fundo mas não se distingue bem, pelo menos eu não distingui, estava demasiado focada na anestesia - para quem não queria levar epidural toma lá a raqui!
e depois tu nasceste!
aquele primeiro choro foi a certeza do começo da nossa aventura! choraste outra vez e quando te vi...: "é tão lindo!", disse quase sem voz e pensei que era a cara do pai chapada!
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVI185dOqvU1xv6khWcXPcPmrGXfTuqrlVtzIjupFD4sPkr2Mh3u-ZXFK6xGZEYLgKzeFfypLbCvDNf_z9LVNEdaFLybt8otFKEmyNu10P7K-Fbi5gEY94RtTxJJa4tpjim-kiibujBKc/s640/IMG_20181003_083957.jpg)
"ele é tão bonito..."
"um narizinho tão pequenino..."
"moreno, olhos azulados..."
"os dedos são compridos e fazem lembrar as mãos dos pianistas..."
"ele é tão pequenino... a roupa sobra-lhe!"
foi só o começo da descoberta de um mundo novo e assim será até ao fim dos meus dias.
parabéns patareco!
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