e se eu dissesse que te amo tanto que me assusta?
e se eu confessasse que o cansaço me derrota às primeiras e enfio a cara na almofada só para abafar o som da queda livre das lágrimas?
eu podia até dizer que te quero mais que a mim mesma e que já não me conheço nas pequenas coisas do dia a dia.
que quando te grito não é para ti, é para mim mas provoco um círculo vicioso de grito meu e choro teu que só acalma, claro, quando te pego ao colo, te cheiro e me abraças e pronto!... já passou!
faz hoje um ano que chegámos a casa da maternidade.
estávamos agora no silêncio naquele que é para nós o maior conforto e o melhor canto que há no mundo, aquele que é nosso, o nosso lar.
de repente, tornou-se, também, o mais assustador.
por esta hora, há um ano, estava farta de chorar, apavorada com o tamanho da responsabilidade que é ter um recém-nascido em casa, desconfortável com a costura da cesariana, irritada com a maior expectativa que tive toda a gravidez, a ilusão de uma vida inteira, que se revelou ser o meu pior e maior obstáculo e levou-me muitas lágrimas, a amamentação!
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJqxGW8gDtLpRnRr_7aqzc7omPBLc40Q-QXqssB5zxCFAWcN66FU4Q3mytytlnfN99knzA6-Zwg5luSOCuaeZyYSpy40e8U6OYj-c-COkBQNBj3-R6D_vvwbCtiJrMO773NChxbRMF3XA/s640/IMG_20171007_165637.jpg)
a gata fugia de mim, assanhada por dias, vi-lhe as pupilas dilatadas, o pêlo ouriçado, o corpo em alerta, os dentes afiados. estava zangada e fez questão de marcar a sua presença.
por dias não entrou no nosso quarto e eu também não deixei; as primeiras investidas de aproximação foram de suspense; hoje é atraiçoada pela curiosidade mas não dá ainda o braço a torcer ou a pata!
há um ano, tudo era demasiado. hoje ainda é também.
demasiado assustador, demasiado cansativo, demasiado bom, demasiado avassalador, demasiado para a imensidão de inexperiência que há em mim. é devastador - o sentimento que se instala leva-nos a dúvidas, muitas, umas atrás das outras...
um ano passou.
pouco mudou mas já nada é o que foi, nada está como estava. tudo passou, efectivamente. daqui a outro tanto tempo quanto este, que já lá vai, virá outra realidade constatar o óbvio.
mas se te amo? se te quero mais que a mim mesma? se não sei uma data infinita de coisas?
a resposta é sim! sim, amo. sim, quero. sim, não sei.
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