eu nunca quis o mundo todo.
nunca quis o mundo todo na minha mão.
mas cada horizonte que o meu olhar alcançava... ah aquela vontade de me lançar ao mundo!
o mundo lançava um apelo numa flor, no vento, no tempo, nas páginas de um livro novo por descobrir, num livro velho que guarda segredos que só o tempo conhece.
nunca quis o mundo todo.
quis ser o mundo de alguém. de muitos alguéns até! como muitos tiveram a oportunidade de fazer parte do meu mundo, parte de mim. hoje são apenas páginas amareladasde um livro que não abro.
hoje escrevo um livro novo. dia a dia, página a página.
continuo a não querer o mundo.
será que o mundo me quer, a mim?!
e o que quereria ele de mim?
lanço no vento a gargalhada mais infantil que há em mim enquanto enxugo as lágrimas de menina crescida, às escondidas.
gente grande não chora.
gente grande arregaça as mangas, levanta o nariz, levanta os olhos, encolhe os ombros quando não há nada a fazer e segue caminho. mas há sempre alguma coisa para fazer; haverá sempre alguma coisa que se possa fazer!
por anos, o caminho, à saída do portão de casa, era de terra batida. de verão provocava uma poeira, de inverno chapinhava nas poças que a chuva deixou para espelhar os meus grandes e curiosos olhos azuis. corri nos campos verdes de milho e arranhei-me nas espigas douradas que dão o pão.
o vinho tinto que bebo agora celebra o melhor e o pior que há em mim.
não me venhas buscar agora que continuo a não querer o mundo todo.
quero lançar-me ao sal que o mar tem caso não haja amanhã.
quero banhar-me no doce mel que sinto nos lábios de um beijo que promete a eternidade do tempo.
quero continuar a olhar o horizonte e sonhar com o que há para lá dele.
porque o mundo é muito grande e o meu cabe perfeitamente dentro dele!
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